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28 de dez. de 2007

ESPERANDO GODOT

Samuel Beckett não via qualquer significado na existência humana. Viveu só e angustiado.

O silêncio e o isolamento foram alentos para quem não suportava a convivência inútil e sem sentido com o mundo. O racionalismo não universalizou o homem a ponto de dar-lhe as respostas que a metafísica jamais conseguiu. A humanidade não encontrou um norte definitivo com a razão analítica da ciência. A “civilização” ainda aguarda o sinal de uma revelação divina.

Beckett se foi em 1989, levando embora seu desespero. Ele, ao contrário de seus consortes, jamais se conformou com a espera por “Godot”. Escolheu a solidão para fugir da loucura dessa realidade absurda. De certo modo, não havia saída para alguém tão incrédulo na condição humana.

Essa reflexão sobre o pesadelo de Beckett me fez imaginar uma situação absolutamente insólita: suponhamos que subitamente “Godot” surgisse entre nós. Provavelmente ele se indignaria como Beckett e talvez lamentasse não ter vindo antes e permitido tanta insanidade. Ou quem sabe desistiria abandonando todos à sorte de suas mesquinhezas, já que a história não lhes possibilitou qualquer aprendizado.

A realidade não é algo cristalino diante de nossos olhos. Está escondida por trás de conceitos e idéias vazias que nos são apresentadas como sinônimos da verdade. Lembro no primário meus professores afirmarem que os povos antigos eram cruéis por se dedicarem essencialmente à guerra e à conquista de vastos impérios. Muito tempo depois pude perceber que os homens mataram mais na era civilizada do que em toda antigüidade.

Para este nosso mundo de faz de contas e de ilusões perdidas é possível que não reste outra alternativa senão continuar esperando “Godot”. 

CAETANO PROCOPIO

22 de dez. de 2007

O SOCIALISMO MORREU? (II)

Não tenho dúvidas de que a resposta à pergunta acima é não! Mas antes de qualquer argumento sobre como efetivá-lo é preciso exorcizar certos fantasmas do passado. O fracasso da experiência estatizante, centradas principalmente nos modelos totalitários de estados, soviético e chinês, é algo a ser apreendido como uma dura lição. O socialismo de forma alguma pode ser uma imposição. Antes de ele surgir é preciso que as pessoas estejam preparadas e dispostas a assumi-lo. Deve florescer no espírito de cada um. Ele exige uma postura menos individualista e mais coletiva. Uma nova concepção de mundo, generosa e preocupada com o destino comum. Seria ilusão acreditar nele hoje ou daqui algumas décadas. É imprescindível que todos o vejam como uma solução para as injustiças, talvez a única capaz de dar um destino legítimo aos homens. Marx foi o primeiro estudioso que conseguiu não apenas imaginá-lo, mas prevê-lo como algo concreto, uma possibilidade real. Maior teórico da sociedade capitalista, ninguém a viu como ele. Ao mesmo tempo em que a dissecou profundamente, acabou por compreender o que veio antes dela. Compreendeu que as sociedades caminham conforme o desenvolvimento material de suas forças produtivas. Inverteu o conceito hegeliano de que são as idéias que transformam o mundo. É a materialidade quem cria as idéias. Aprimorou o conceito de ideologia. Suas previsões, em parte se mostraram equivocadas, mas seria exigir demais de alguém que viveu no século XIX, conseguir vislumbrar a complexidade das sociedades que o advieram. Para o filófoso Leandro Konder, Marx não tinha como prever o fenômeno da cultura de massas, que deu grande vigor ao capitalismo. Sartre certa vez afirmou que as condições que engendraram o marxismo ainda não haviam sido superadas. Enquanto a sociedade capitalista existir ele permanecerá vivo. Mesmo os teóricos marxistas não se mostraram preparados para o marxismo, tanto que tentaram transformá-lo numa realidade a fórceps, exatamente o oposto ao que Marx preconizou. E deu no que deu. Apesar de parte do pensamento marxiano ter perecido em razão de não mais estar no seu tempo, as idéias dele permanecerão, por mais que não queiram os apologistas do mercado. Somente quando as enxergarmos não como um dogma, mas uma visão crítica do mundo burguês, uma perspectiva radical e profundamente transformadora das relações humanas, quem sabe consigamos vislumbrar avanços. Marx foi o pensador mais influente de seu tempo, o século XIX. No século XX Sartre ocupou o lugar dele. Talvez os dois maiores observadores do homem contemporâneo. Um o viu coletivamente, o outro individualmente, mas não a ponto de se negarem, ao contrário, as impressões de Sartre ajudaram a completar o marxismo e o próprio conceito de socialismo. Mais do que uma teoria, Marx ensejou a possibilidade da história dos homens ter um roteiro comum em que todos convirjam a um mesmo fim e que as diferenças individuais não sejam razão para se excluir os outros. CAETANO PROCOPIO

14 de dez. de 2007

FUTURO

Quando penso no futuro, deixo de viver
E a vida passa... e os medos vencem.
Nesta hora sou o mais infeliz dos homens
E a fantasia me engana.
E vou muito além de mim, além do que sou

Quando tento imaginar o meu rosto no futuro,
Com marcas do passado, cabelos brancos, dificuldade de ereção...
Sofro sem saber o porquê.
Pois não estou lá, aqui estou!

Quero que o futuro seja passageiro como as estações do ano
Para sobrar algum tempo vivo...
Pensar no futuro é matar o tempo.

VANDERSON PIRES

13 de dez. de 2007

IMPASSE PERMANENTE

14 de maio de 1948. David Bem Gurion é proclamado primeiro-ministro de Israel. Imediatamente, os vizinhos árabes iniciam um conflito para impedir a constituição do Estado judeu. Israel sai vitorioso e ocupa militarmente territórios árabes na Palestina.

Desde a criação de Israel a região é marcada por um constante clima de tensão. Os palestinos reivindicam a parcela do território a que teriam direito conforme a decisão da ONU em 1947. Os israelenses se negam a dar autonomia política.

Os judeus consideram-se historicamente os legítimos habitantes da região há mais de 5 mil anos quando as primeiras tribos hebraicas lá chegaram vindas da Mesopotâmia em busca da “terra prometida”. Expulsos de sua terra pelos romanos no início da era cristã, somente no final do século XIX – com o movimento sionista – puderam retornar à Palestina.

Com a diáspora e o esfacelamento do império romano entraram em cena os árabes, que unificados pelo regime do califado, transformaram-se num dos povos mais importantes da idade média. A eles, é inegável a importância que representa a região para sua história e cultura.

Nas últimas 5 décadas, foram várias as tentativas de um acordo de paz, normalmente com a intermediação da Organização das Nações Unidas (ONU), sem, contudo, qualquer resultado prático. O grande entrave para a questão não esbarra em empecilhos culturais, históricos ou mesmo religiosos. O impasse está na dificuldade de se encontrar uma saída conciliatória que seja politicamente “viável” aos interesses de Estado. Portanto, o problema político perpassa qualquer outro óbice já que estamos tratando da criação de um Estado palestino cravado em território judeu.

Enquanto a discussão for tratada no âmbito das Nações e não no dos reais interesses dos povos envolvidos, a Palestina continuará sua sina de eterno palco de conflito.

CAETANO PROCOPIO

26 de nov. de 2007

UMA RECUSA AO CONFORMISMO

Caro amigo:

Não me entenda mal. Não vivo sob o signo do pessimismo, nem o tenho como conduta. Quando brinquei sobre o mau humor, quis apenas dizer que esse conceito muito em voga de viver e agir de forma "positiva" não passa de um apelo ao pragmatismo barato. Além disso, é uma maneira egoísta e mesquinha de pensar a realidade, como se apenas nossas pequenas misérias valessem ajuda. O mundo como está não cabe esse otimismo, ou você concebe uma felicidade somente a você e seus pares? Se for assim, desculpe-me meu caro, mas essa conversa não possui significado algum.
Entendo que devemos buscar um sentido para viver, entretanto, achar que a felicidade será encontrada só através do "autoconvencimento" e do "autoconhecimento", sem refletirmos sobre o que está a nossa volta é ilusão.No fim das contas ser otimista ou pessimista é a mesma coisa. Ambos vivem num universo irreal em que o grau de alienação irá determinar uma ou outra situação. Tanto um quanto outro podem mudar de lado a qualquer momento, estão ao sabor das circunstâncias sem, contudo, compreendê-las. A consciência do mundo não cabe eufemismos, vivemos em plena barbárie, porém, acreditamos estar no esplendor da civilização com nossa cultura “high-tec”. O otimismo receituado por esses oportunistas que prometem uma vida equilibrada e sadia é tão descabido como o discurso daqueles ecologistas que defendem a proteção do meio ambiente sem questionar a lógica destruidora da sociedade de consumo (ou que no máximo buscam mecanismos que disciplinem a volúpia consumista). Do que adianta bradar contra a poluição do ar ou das águas ou vociferar contra a destruição das matas e da vida selvagem quando a própria cultura "moderna" além de dizimar os recursos naturais, não sabe o que fazer com o lixo que produz. De certa forma, aceitar uma solução parcial e conciliatória para nossos problemas é dar razão a um individualismo odioso que nos ensina a buscar o sucesso pessoal a todo custo, sem que para isso nos atentemos para os lados e vejamos os miseráveis se amontoarem famintos defronte nossas portas. Portanto, aquilo que lhe falei nada tem a ver com baixo astral ou coisas do tipo, é só uma recusa ao conformismo.
Desculpe-me pela divagação e se roubei seu tempo!

Um abraço,
Do amigo.

CAETANO PROCOPIO

22 de nov. de 2007

MORTE

Existe uma ponte. Ela é o caminho que devemos cruzar. O outro lado da
vida: a morte. A responsável pela criação de Deus e seus semelhantes.
Histórias, desejos de eternidade, espíritos e o medo de morrer...
O apego é a bola de fogo que não queremos nunca largar.
Mas o amor, o verdadeiro amor, existe para livrar-nos do peso da perda, do egoísmo existencialista que carregamos sem parar para questionar.
Eu não deixo de amar alguém porque ela não está perto de mim.
E procuro entender a grande ida sem volta. Quando o corpo é coberto por terra e a vontade de chorar for mais forte, o amor tem que falar ao coração: "entenda a natureza porque você faz parte dela". E o que é natural carrega o bem e o mal no mesmo cerne.
Somos visitantes em uma rápida excursão pelo mundo. Apenas isso.
Sinto saudade dos que foram. Mas eu os amo da mesma forma.
Tento compreender o caminho...
E peço forças para o amor, para que ele alivie as minhas dores e as do mundo.

VÂNDERSON PIRES

20 de nov. de 2007

O DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Certa vez, quando ainda cursava a faculdade de Direito na década de 1990, um professor afirmou que não mais havia discriminação contra as mulheres, como ocorrera no passado. A legislação já as equiparavam aos homens.

Se de fato fosse verdade, as mulheres não precisariam da lei para declará-las iguais, nem mesmo de um dia específico pra celebrá-las. A condição de mulher, por si só, seria uma afirmação.

A norma retrata uma realidade contrária. A discriminação existe e a lei não se mostra capaz de dissuadí-la porque ainda faz parte do pensamento comum.

Da mesma forma, se necessária uma data para institucionalizar o dia da consciência negra, ela não existe de fato. Há sim, vários “rascismos” dissimulados numa sociedade extremamente dividida e desigual.

20 de novembro precisa ser muito mais que uma mera data comemorativa no calendário para se transformar numa luta diária contra todas as formas de discriminação.


CAETANO PROCOPIO

14 de nov. de 2007

O ANDARILHO MUITO LOUCO

(por IRAN MARCIUS)

E de repente, como se o mundo todo o chamasse ao mesmo tempo, ele se
levanta, com os olhos esbugalhados, emitindo sons estridentes e
confusos, agitando todos à sua volta, sem descanso, sem clemência. E
sua agitação contagia e alegra a todos.

Ele vê, mais uma vez, que o mundo como é não lhe agrada os olhos... e
nem o paladar. Ele então se envolve na neblina, trazendo à memória
todos os ancestrais, todas as experiências, e dessa maneira o mundo
fica com a forma e com o sabor que ele deseja. E seus sentidos se
aguçam, cada célula de seu corpo é tomada pela calma desesperadora, e
nesse estado, e nunca sem pressa, ele se põe a... ANDAR.

A caminhada pode ser longa, ou curta, independente de onde se quer
chegar. O que importa é o processo, o vento no rosto, o som das vozes,
as formas. O mesmo caminho pode levar a vários lugares, ou ao ponto de
partida. Caminhos diferentes podem levar ao mesmo lugar... ou a lugar
algum... ou ao ponto de partida.

Mas ele tem a selva estampada em seu rosto. Vê cada clareira, cada
rio, cada animal que se movimenta. Ele tem a selva na palma da sua
mão, mas não se importa... porque só olha para as costas dela.

E ele anda, enlouquecido e ao mesmo tempo entorpecido, com passos
firmes de quem tem um objetivo muito claro... mas sem a menor idéia de
como vai chegar lá.

Minha homenagem, ainda que pequena, ao amigo, ao irmão, de hoje e
sempre. É isso aí, indião!!!

4 de nov. de 2007

O LEVIATÃ

Hobbes define a essência humana como sendo uma condição brutal em que os homens, levados por instintos individuais, cultivam a beligerância contra os outros. A defesa de suas paixões mais viscerais é um conflito perene que estabelece uma relação de rivalidade com os demais. Somente a presença onipotente de um poder despóstico que suprima esse estado original seria suficiente para corrigir o caráter hostil desse “homem natural’.

Rousseau atacou duramente a função totalitária do pensamento hobbesiano, definindo uma razão mais generosa ao espírito humano. Mas a vida em comum ressalta algumas diferenças imanentes entre as pessoas, que podem perverter a sua “natureza benigna’. Ao contrário de Hobbes, acreditava no contrato social como forma de legitimar um sistema político baseado na igualdade civil.

Hobbes justificou o absolutismo inglês dos idos de 1600. Rousseau foi um apóstolo dos ideais democráticos que tão marcadamente caracterizaram a concepção do mundo burguês após o século XVIII. A preocupação em definir uma ética condizente com a ação política é um exercício que sempre fascinou a tradição filosófica.

Não há como predefinirmos o homem em categorias estanques (“bom” ou “mau”), pois, ele é um ser em permanente mutação e o sentido dos seus atos depende das escolhas que faz a todo instante. No momento, parece que o contrato social está a beira da falência, moribundo. Impossível suprimirmos nossas diferenças sem que tenhamos que demolir por inteiro as bases em que se assentam a sociedade civil. Mas antes do seu fim, nos deixa um legado sórdido que surge de suas entranhas como um leviatã poderoso e incontrolável. Esse monstro que nos apavora se realimenta da própria fúria, num processo cíclico de recriação. Quanto mais nos barbarizamos mais nos desumanizamos nos transformando em seres individualizados e vazios.

O contrato social degenerou-se num leviatã muito mais tenebroso do que aquele definido por Hobbes, mostrando-se inviável numa realidade em que a igualdade jurídica não passa de retórica. Em um mundo permanentemente desigual, as diferenças tendem alimentar uma resistência ao argumento de que a democracia nos assegura um destino comum. Necessitamos recriar nossa essência através de uma ética universal, solidária. Um caminho em que enfim aceitemos nossa condição de cumplicidade com os outros.

CAETANO PROCOPIO

30 de out. de 2007

AMOR DE PELE E OSSO

Quando eu estiver morto
E no meu velório alguém perguntar
Por que estou sorrindo,
Saibas que é por ti.
Se a minha felicidade for questionada
Não acharão outra resposta que não seja você
Caso eu morra desfigurado
E pairar alguma dúvida sobre a minha identidade
Peça para que vejam minha pele
Lá está seu nome tatuado
Mas, se não sobrar nenhuma pele no meu corpo
Diga-lhes para olharem meus ossos.
Porque está gravado o teu nome em todos eles.
O amor é a minha busca. E a minha felicidade é você.
Se estou triste, eu te amo.
Se estou feliz, eu te amo.
Teu sorriso me faz vencer. Teu corpo é a minha oração.
O meu desejo por ti é tão fisiológico como a fome.
Porque ele nunca tem fim.
Fico ansioso pelo dia, porque te vejo.
Fico ansioso pela noite, porque sonho com você.
Sou teu filhote, és minha sorte
Meu bem querer...

VANDERSON PIRES

29 de out. de 2007

O LIVRO DA VIDA

No dia 26 de outubro do ano de 2007 d.C. eu pude ver mais clara a imagem do fim, ou de um outro começo, não sei...
Eram 28 anos completos.
E a cada ano que se vai, a cada hora que passa, é mais um passo para chegar a grande conclusão da vida...
Algumas pessoas se lembraram desta data. Uma data que, na verdade, só tem importância para mim, pois só eu sou capaz de entender a quantidade de páginas que possui o meu livro, a minha história, a minha vida...
E a cada página virada, umas bem compreendidas, outras um pouco confusas, eu busco as respostas de um leitor curioso e às vezes ansioso para saber qual será o final. Mas não há como ler as últimas páginas. Porque neste livro o autor ainda não sabe onde sua história vai parar. Pode ser daqui a duas páginas, duas linhas, duas palavras...
Esta é a grande graça de ler. O inesperado, o que estar por vir.
E eu tento ler a minha vida a cada ano completado. Vejo as relações que ficaram mais fortes, as que eu achei que nunca iriam enfraquecer e hoje as vejo morrendo, escapando como água por entre meus dedos.
Sinto algumas alegrias, algumas tristezas... E isso faz da minha consciência um grande acúmulo de parágrafos grifados.
Vejo as coisas que mudam e as que permanecem sempre iguais, do mesmo jeito.
Meu coração tem acumulado alguma poeira, afinal, estou falando de um livro de 1979, que pode ser velho para uns, novo para outros... Mas com uma verdade: o tempo nunca é o mesmo para cada um.
E hoje eu já tomo mais cuidado com o meu livro em relação ao passado.
Eu já o emprestei, joguei de lado algumas vezes... Pensei em vendê-lo, queimá-lo... Já parei a leitura por tédio, decepção, desinteresse...
Mas hoje essa história tem toda a minha atenção. E em casa, na minha solidão, sou capaz de rir de muita coisa. Vejo que o tempo, o grande narrador da história, me ensinou a gostar de rir. Rir de mim, dos outros... Rir, sem dúvida, faz da história algo mais leve, mais interessante.
E seja lá qual for o final, a única coisa que realmente importa é o prazer da leitura, o simples prazer de ler...

VANDERSON PIRES

25 de out. de 2007

A ESPERANÇA? JÁ MORREU!

Recentemente tentei realizar uma chamada num orelhão. Duas tentativas e a ligação não foi completada. Dois créditos foram subtraídos do meu cartão! Pra quem reclamar? Anatel? Procon? Justiça? Não tenho receio de afirmar que nenhuma destas instituições me geram confiança. O Brasil é um lugar onde a esperteza serve de exaltação da inteligência e a malandragem faz parte de nosso caráter. A astúcia está em toda parte, desde o grande ladrão que assola cofres públicos ao andarilho sequioso por uma “birita” mas que suplica dinheiro pra comprar um pingado.

Estou cansado de tanta dissimulação, de ter que ouvir venais petistas e pessedebistas tentando convencer a todos de que são diferentes. Ah! E o PFL que virou DEMOCRATAS! Chega! Há limites até para ser enganado. Essa gente está debochando da minha inteligência!

O Brasil sempre foi decantado como um lugar maravilhoso, de potencial inigualável. E apesar dos pesares, ainda vívido da esperança de que um dia tudo irá melhorar. Ilusão! Aqui tudo se resolve no “jeitinho”. Até o Supremo Tribunal Federal, pra dar um “jeitinho” na reforma da previdência do governo Lula, resolveu revogar o direito adquirido. No Brasil ele é apenas relativo.

O velho ditado diz que a esperança é a última que morre. Pra mim ela já está sepultada (...)

CAETANO PROCOPIO

17 de out. de 2007

HEROIS DA LIBERDADE


"Heróis da Liberdade" concorre em categoria para novos diretores da 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Sátira política de Amberg estréia na sexta (19), no Arteplex 4


Segundo longa do catarinense Luca Amberg, "Heróis da Liberdade" estréia nas telonas durante a 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que agita a capital paulista a partir desta semana. É a oportunidade para o público acompanhar a saga de Chico Louco e companhia antes da produção entrar em cartaz no circuito comercial.
Selecionado para a categoria competitiva "Novos Diretores", o filme será exibido em três sessões: a primeira, no dia 19 (sexta), às 23 h, no Unibanco Arteplex 4; e, as outras, nos dias 23 (terça), às 17h, no Espaço Unibanco 3, e 30 (terça), às 20h20, na Sala Cinemateca / Petrobrás.
Inspirada no livro homônimo de Ernani Buchmann, que também assina o roteiro, a produção aposta na sátira política. A trama gira em torno da morte do prefeito tradicionalista Fernandes Cubas, o "João Come Terra", (Luthero de Almeida), que sofre um ataque no palanque durante campanha para mais uma reeleição. Suas últimas palavras ("inconstitucional é a puta que o pariu!") refletem o tom tragicômico que o diretor imprime em "Heróis", trazendo à tona a banalização de valores como ética, democracia e dignidade. Prepare-se para altas doses de ousadia, acidez e humor. "É uma sátira sob um ponto de vista antropológico. O objetivo não é apontar o dedo pra ninguém, mas motivar reflexões sobre a gira da política desde sempre", explica Amberg.
A história se desenrola sob a ótica de Chico Louco, um dos moradores da cidadezinha. Astrônomo metafísico frustrado, na voz sarcástica de Paulo César Peréio, é ele quem narra as intrigas, conspirações e barganhas envolvendo quase toda a cidade: da funcionária pública e organizadora de orgias na Câmara; passando pelo proprietário de cinema, que aceita organizar uma luta de boxe arranjada para não perder o alvará; ao bispo local, que não titubeia em revelar segredos de confessionário ao aliado político. Todos os episódios têm como pano de fundo a briga pela sucessão.
Recém-saído do forno, o filme será exibido em versão DVCAM. A produção ainda busca garantir recursos para o processo de transferência para 35mm. A expectativa é que a boa receptividade do público da Mostra possa atrair investidores. "Dirijo filmes pensando no expectador. Fiz algumas exibições fechadas e, quem viu, gostou", afirma Amberg.
O elenco é heterogêneo, formado exclusivamente por atores do teatro paranaense. Dos veteranos, o público terá a oportunidade de conferir atuações afinadas de nomes como Mario Schoenberger, Zeca Cenovic, Luthero de Almeida, Enéas Lour, Mauro Zanatta e Emilio Pitta. Destaque para as participações especiais do Grupo Armazém de Teatro, do ex-BBB Zulu, na pele do lutador Nego Mau, e de Mario Bortolotto, autor do blues tocado no Valentino Bar.
Para os fãs do underground, a trilha, da gravadora independente (GGG) Grande Garagem que Grava, traz o melhor da cena musical curitibana. Muito rock´billy, surf music, hardcore e indie de bandas como Maremotos, Gengivas Negras, Pelebrói, Mordida e Gruvox.


"Heróis" na Mostra
75min. Português. Legendas em inglês.

19/10 – Unibanco Arteplex 4 – 23h
R. Frei Caneca, 569 - 3ºpiso, sala 2
(11) 3472-2365 - www.unibancoarteplex.com.br

23/10 – Espaço Unibanco 3 – 17h
R. Augusta, 1.470/1475
(11) 3288-6780

30/10 – Sala Cinemateca / Petrobrás – 20h20
Lgo. Senador Raul Cardoso, 207
(11) 35126101 - www.cinemateca.com.br


Ficha técnica:
Heróis da Liberdade(2007, 75min, 35mm)- inspirado no livro homônimo de Ernani Buchmann
Luca Amberg (direção); Ernani Buchmann e Luca Amberg (produção); Luca Amberg, Ernani Buchmann e Moyses Doroso (roteiro).
Elenco: Mario Schoenberger, Zeca Cenovic, Luthero de Almeida, Paulo César Peréio, Enéas Lour, Emilio Pitta, Mauro Zanatta, João Luis Fiani, Carlos Daitchmann, Patrícia Selonk, Paulo Morais, Michelle Pucci, Gabriel Gorozzitto, Paulo Friebe, Chico Terra, Poka Marques, Marino Junior, Altamar César, Claudete Pereira Jorge, Fernanda Coelho, José Maria Pereira, Zulu, Macaris do Livramento, Cristine Vianna, Mário Bortolotto, Paulo Castro e Grupo Armazém de Teatro.


VANDERSON PIRES
WILSON AZUMA

13 de out. de 2007

O ULTIMO REI DA ESCÓCIA


Em “O último Rei da Escócia”, Forest Whitaker interpreta Idi Amin Dada.

Apesar da excelente atuação do ator norte-americano, a narrativa centra-se na personalidade extravagante do ditador ugandense não se atendo aos aspectos históricos que envolveram os acontecimentos.

O filme acaba por mitigar o papel decisivo da Inglaterra na condução de Amin ao poder, fortalecendo a “caricaturização” do personagem.

A história termina com a queda do tirano levando “multidões jubilantes” às ruas, mas sem mencionar que a deposição possibilitou o retorno ao poder de Milton Obote, anteriormente destituído por Amin.

Se num primeiro momento a expressão nos rostos das pessoas era de júbilo, não tardaria para que os semblantes cerrassem-se novamente e Uganda outra vez mergulhasse na violência, nos assassinatos e numa nova ditadura.

Amin, longe de ser apenas um louco carniceiro, foi a perpetuação de uma trágica história africana que sempre parece se repetir.


CAETANO PROCOPIO

3 de out. de 2007

NOTAS (...)

Até o momento o Senado Federal vem fazendo o seu velho papel absolvendo Renan Calheiros no(s) Conselho(s) de Ética. Mais um triste capítulo dessa história brasileira que sempre se repete (...)


***


Primeiro o mensalão petista. Agora é o pessedebista que está na mira do Supremo Tribunal Federal. Governos iguais até nos esquemas de corrupção.


***

A Fifa ainda não decretou o Palmeiras como sendo o mais velho campeão interclubes do mundo. Um título conquistado em 1951! Apesar de palmeirense, preferiria que esta história não fosse contada (...)


***


Em Araçatuba vive-se um dilema permanente: a espera pelas chuvas pra amenizar o calor e a sequidão. Em contrapartida, com as águas, aumenta a possibilidade de uma epidemia de dengue na cidade. Alguém ainda acredita mesmo em inferno?


***


Quem chega em Araçatuba se assusta ao transitar pelas ruas da cidade. Possivelmente existam mais buracos do que em solo lunar. Uma solução pra administração municipal resolver o problema seria patrocinar o turismo de aventura e incentivar a prática, por exemplo, de enduros “off road”. É menos perigoso andar em estradas de terra batida do que no “asfalto” de Araçatuba.


CAETANO PROCOPIO

27 de set. de 2007

CAVALOS

I

Deitada sobre mim, ela escondia sua intenção.
Julgou ser capaz de me aprisionar, com um simples olhar sem nenhuma razão.
E eu, ligeiramente ingênuo, deixei acreditar. Que toda a voz proferida pudesse voltar
ao lugar da partida. Onde a morada nem sempre é vazia. Onde a busca quer me tomar.
Sacudi os flancos. Espirrei os farrapos e corri a olhar pela vastidão de um lindo campo. Busquei meu cavalo e me tornei um herói.
Quando cheguei naquele lugar, era como um deus. Cabelos longos, barbudo montado em um cavalo. Uma visão que os olhos não viam. Eu era a profecia assustadora e galopante.
E também quis provar que em determinado momento da cavalgada, meu cavalo voava. Ele tirava as quatro patas do chão. E ela tentou ver isso. Mas não conseguiu. Porque sua visão era limitada e lenta demais.
E eu disse: "Se um cego pudesse escolher entre a sua visão e a sabedoria dos passos lentos e precisos na escuridão, a resposta seria a cegueira".
Contudo eu não me fiz compreender. E busquei esperar o sol. Parado, respirando tranquilamente, eu fustigava seu ser. Lentamente...
Seu nome era solidão. A viúva que nunca amou.

II

Passado um tempo, logo após o nosso desencontro, eis que o mundo ficou diferente.
Já não era mais possível fingir que estava tudo bem. A depressão, a ansiedade e a angústia eram, agora, aliadas da solidão. As pessoas não deixaram de sorrir por isso. Mas era só um ato de exposição da arcada dentária, assim como os cavalos mostram seus dentes... E eu amava mais os cavalos que aquelas pessoas. E elas também nunca quiseram amar. Só queriam ganhar. Assim como os cavalos nas corridas. E o cheiro do estábulo era melhor que o aroma dos frascos de perfumes famosos. Eu não uso perfume. Como os cavalos.
Eles quiseram ser fortes como os cavalos e correr na mesma velocidade. E criaram os motores com seus cavalos industriais e mecânicos. E transformaram-no em símbolo de poder e status. E todos sonham em ter mais de mil cavalos.
E esse sonho criou guerras, matou pessoas e fez a terra jorrar o sangue negro para os vampiros. E eu apenas queria andar tranquilamente como um cavalo sem senhor, sem dono e sem patrão.
Na época dos cavalos não existia poluição. Não existiam mortes no trânsito e nem o som irritante das buzinas.
Quando os cavalos eram amigos, o homem era natural. Hoje os cavalos perderam a força. E o homem, a naturalidade...

VANDERSON PIRES

18 de set. de 2007

O SOCIALISMO MORREU?

"O marxismo está muito jovem, quase na infância: mal começou a se desenvolver. Ele permanece, pois a filosofia do nosso tempo é insuperável, porque as circunstâncias que o engendram não foram superadas." (J. P. Sartre)



Em novembro de 1917 (outubro no calendário russo) nascia o primeiro estado socialista da história. Oito décadas mais tarde, o socialismo ruiu com a dissolução da União Soviética. Surgem aí algumas especulações. Marx falhou? O socialismo não passa de uma utopia? Chegamos ao final da história?

Se pensarmos o movimento revolucionário dos trabalhadores levando em conta apenas os seus resultados práticos, as respostas serão afirmativas. Mas estas conclusões seriam simplistas demais. Primeiro é preciso compreender que a experiência socialista no Século XX acabou sendo fruto de sérias distorções da obra de Marx.

A complexidade da teoria marxiana foi convertida, por grande parte de seus intérpretes, numa doutrina fechada. Ao contrário, ela deve ser vista como uma crítica da sociedade burguesa. Do modo como aconteceu, o legado de Marx acabou aprisionado por uma camisa de força que o transformou em um dogma inquestionável, principalmente quando consideramos o papel desempenhado pelas II e III internacionais. O marxismo é uma receita que necessita de complemento. Talvez esse tenha sido o grande equívoco dos socialistas (ou pelo menos da maioria) que o viram como uma cartilha a ser fielmente seguida.

Os Estados formados a partir das revoluções proletárias progressivamente se fecharam em regimes burocráticos e totalitários, que tinham como único propósito rivalizar com o mundo capitalista, muito distantes da concepção socialista de sociedade que prega a superação do capitalismo pelas próprias contradições deste. Nesse ponto, a influência exercida pelo stalinismo no movimento revolucionário internacional afastou por completo qualquer vínculo com o marxismo. O socialismo não é algo a ser imposto, mas, sim, uma aspiração comum.

Agora, a velha indagação de Lenin fica no ar: o que fazer? Bem, só a história poderá nos dar a resposta. Mas àqueles que até então resistiram às armadilhas dos acontecimentos, cabe a difícil tarefa de iniciar a reconstrução deste edifício em ruínas.

A filósofa e professora universitária, Marilena Chauí, numa entrevista à revista "Caros Amigos", declarou que o fim dos regimes do leste europeu foi, para ela, um alívio. Para nós, também!


CAETANO PROCOPIO

9 de set. de 2007

A LUTA PELO ÓCIO

Eu quero o ócio! Mas não estou aqui pra fazer apologia da preguiça mórbida nem mesmo tentando justificá-lo através de uma óptica hedonista da mera expetativa do prazer. Explico melhor: o cotidiano do homem moderno é centrado nas relações de trabalho. Trabalhamos pra obtermos meios de prover nosso conforto individual e familiar. Mas com isso nos refugiamos e nos alienamos na vida privada e no próprio trabalho. 

Nas últimas décadas experimentamos um fantástico desenvolvimento tecnológico. E se de fato o progresso representasse uma força libertadora das capacidades humanas, conforme acreditavam os filósofos iluministas, hoje teríamos um nível de vida muito melhor e não necessitaríamos mais nos dedicar ao trabalho de forma quase que integral. Entretanto, a realidade de mercado impossibilita a expansão das relações de trabalho, uma vez que os custos de produção impendem que novos postos sejam criados. Imaginem, com o pleno emprego não seria preciso nos entregarmos ao labor tantas horas a fio. Uma nova divisão internacional das tarefas se mostraria presente de forma que todos poderiam contribuir com menos tempo de dedicação de cada um.

O sociólogo alemão Robert Kurz afirma que essa nova perspectiva do trabalho possibilitaria a auto-administração. As pessoas não mais precisariam de administradores (políticos), uma vez que teriam tempo suficiente para realizarem esta tarefa.

É sob esta perpectiva que defendo o ócio: uma possibilidade de dispormos nosso tempo mais livremente. Entretanto, enquanto existir o mundo de relações definidas pelo mercado, isso não passará de ilusão (...)

  

CAETANO PROCOPIO

31 de ago. de 2007

FELINAS

As mulheres são como os gatos.
Seres independentes.
Felinas, astutas, predadoras...
Brincam, quando querem brincar.
Matam por prazer.
Porque não são carnívoras, são antropofágicas.
Sabem dormir em silêncio.
Escondem-se quando a procuramos.
Aparecem no momento de aparecer.
Lambem o pelo,
Sentem o gosto,
Beijam o rosto...
Língua áspera, rabo longo.
Seios para amamentar.
Gatas, mulheres, felinas
Nunca param de brincar.

VANDERSON PIRES

A VELHA AQUIDABAN

Não faz muito tempo,

caminhava pela Aquidaban.

A velha rua da minha infância.

As pessoas que outrora a fizeram,

abandonaram-na.

Algumas buscando uma nova vida,

outras deixando esta em definitivo.

Hoje ela não mais parece a mesma rua.

Deste sentimento nostálgico,

não consegui fugir quando por ela passei.

Como se tentasse vasculhar algo naquilo que já fui.

A rua Aquidaban não é mais aquela da minha infância.

Lá ficou o menino que jogava bola na rua e se escondia nas folhagens da casa da Dona Iracema.

Apenas a lembrança de uma vida que há muito deixou de existir.

                                                                                                              CAETANO PROCOPIO

27 de ago. de 2007

"M" DE REVOLUCIONÁRIO


Faz tempo que assistimos "O Encouraçado Potemkin" pela primeira vez. Anos. Nem nos lembramos quantos. Provavelmente foi no início da década de 1990. E desde aquela época uma coisa nos chamou a atenção. Interessados em conseguir informações sobre o brilhante diretor de um dos filmes mais importantes da história do cinema, acabamos nos deparando com uma curiosidade. Sergei M. Eisenstein era o nome dele. Mas, o que era M.? M. de quê? Pesquisamos. Procuramos em almanaques, em guias, revistas e nada. Desapontados por causa de uma futilidade, um dado menor. Em nossas buscas ficamos conhecendo um pouco mais da vida e obra de Eisenstein.

Nascido russo em 1898, morto após um ataque cardíaco 50 anos depois, realizou algumas das mais significativas obras do cinema, entre elas "O Encouraçado Potemkin" e "Outubro". Foi quem talvez melhor soube definir o conceito de revolução estética inovando a técnica cinematográfica com efeitos que até hoje são reconhecidos pelo impacto que produziram. Na seqüência do massacre nas escadarias da cidade de Odessa (O Encouraçado Potemkin) o diretor procura criar uma atmosfera de espanto no público. E consegue. O cinema "eisensteiniano" é a aplicação de uma estética inovadora à teoria revolucionária capaz de espelhar a ruptura do processo histórico.

A obra de Eisenstein não se limitou à propaganda política da revolução. Ela foi além , ao buscar uma interação da imagem com o espectador. Essa fórmula dinâmica que convida o público a participar emocionalmente da cena provocou irritação nos líderes soviéticos. O stalinismo exigia uma "arte sem alma", funcionando unicamente como uma apologia aos feitos extraordinários do regime.

Resultado: o exílio e com ele "Que Viva México" - obra inacabada relatando aspectos da história desse país. Dois outros filmes também merecem destaque: "Alexander Nevsky" e "Ivan, o Terrível". Com eles, encerrou-se a odisséia de Eisenstein.

Navegando despretenciosamente pela Internet, descobrimos talvez o que seja para nós a informação mais importante deste texto: o M. mudo, indecifrável do nome de Sergei Eisenstein é a abreviação de Mihailovich.

CAETANO PROCOPIO e MARCELO TEIXEIRA

AOS AMIGOS QUE FICAM...

Onde estará agora aquele meu amigo,
Que trocou as primeiras palavras em sala de aula
No primeiro dia de escola?
Onde estará aquela turma que se reunia para jogar futebol na rua?
E aquele outro amigo, que por ser mais velho, falava das mulheres e seus desejos?
Onde estarão todos eles, já que alguns nem mesmo a minha memória pôde guardar?
Será que em algum momento eles ainda se lembram de mim?
E se lembram, será que sentem saudade?
Como é difícil manter uma amizade verdadeira. Como é fácil esquecer e ser esquecido.
Conhecer pessoas, fazer colegas, eis uma tarefa simples.
Dizer "ah, vamos marcar algo", é uma doce mentira em que todos fingem acreditar.
Mas na hora que tudo está escuro e a vida mais parece um campo de batalha,
Quando somos feridos e em nosso jardim as flores estão secas
E descobrimos que a mulher que amamos não era uma amizade,
Porque amigos verdadeiros não traem.
E que colegas são apenas conhecidos que podem nem gostar de nós...
Onde estarão meus amigos? !
No trabalho, em casa, cuidando dos filhos, preocupados com as contas do mês?
Que em minha vida tudo tenha passe livre. Dou o direito de ir e vir aos meus amores, ao meu desejo, aos colegas, enfim. Mas aos meus poucos amigos que ficam dou apenas o direito da cumplicidade, do diálogo, das tristezas e alegrias... e nada mais.

VANDERSON PIRES

22 de ago. de 2007

SONHOS

Estava deitado, sonolento. Ouvi algo. Um ruído que vinha da minha janela. Levantei. Pés descalços, o chão estava frio. Meu coração ficou acelerado pelo movimento abrupto. Abri a janela para ver o que me incomodava. Subitamente um forte vento me arrancou como uma folha de uma árvore solta, leve e sem rumo... Tentei me agarrar a algo, mas foi inútil. Durante algum tempo, não sei ao certo quanto, fui levado... Ouvi um som estranho. Eram vozes talvez. Fiquei com medo. E elas aumentavam e iam ficando mais e mais perto de mim. Um quadro negro apareceu na minha mente, e eu apaguei...
Abri os olhos, percebi que estava embaixo de uma grande árvore. Ao meu redor apenas... nada! Meus olhos não reconheciam aquele lugar. Meus sentidos atordoados não tinham mais nenhuma razão. Era eu e o nada. Aos poucos ouvi novamente aquelas vozes que repetiam... sim, não. Elas reverberavam em todo o meu corpo. Algumas imagens começaram a me assombrar. Logo percebi que aquele lugar era o refúgio de tudo aquilo que eu não vivi. O largo de uma outra vida. Uma vida paralela, onde tudo era reproduzido ao contrário das minhas decisões. Era como se fosse uma segunda chance. Ah! Como eu chorei quando comecei a ver... Como chorei ao perceber o quanto a minha vida teria mudado, se, ao invés de eu ter ido pela direita, tivesse ido para a esquerda. Quantos sim que eram para ser não. Quantos não que eram para ser sim. Logo uma angústia inundou o meu ser. Comparei meus mundos. Novamente eu chorei.
Durante um tempo eu revi tudo que já tinha vivido. Naquele momento eu tinha sido sorteado pela natureza. Ela me deu uma oportunidade de avaliar-me. Eu tentei ser forte. Olhei as imagens, revi meus erros, vibrei com meus acertos... e vi que a vida não possui certo nem errado. Percebi que não importava o meu rumo. Porque a essência era sempre a mesma. Como se a vida fosse dividida em: coisas que podemos mudar e coisas que apenas devemos aceitar. Mas eu nunca fui resignado. Nunca me conformei com as coisas da vida. Sempre lutei pelo que amei, pelo que sonhei e acreditei. Mas nessa sessão sobrenatural pude perceber que eu era uma peça solta em um mundo movimentado e abalado constantemente. Eu já não conseguia parar de chorar. E a cada lágrima, um pouco de mim escorria pelo meu rosto. Era como se meus pensamentos já não fossem mais meus. E o sentimento que causa o choro, expelia o que eu sentia. Aos poucos fui ficando leve. Uma paz que eu nunca tinha sentido antes me trouxe ao meu mundo. E, quando nenhuma lembrança do outro mundo estava mais em minha mente, eu acordei. E já não tinha mais vontade de chorar. E voltei a dormir.

VANDERSON PIRES

18 de ago. de 2007

A ARTE DO ENCONTRO

O “poetinha” escreveu que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

Estava coberto de razão.

E de todos os encontros apenas um é certo: a morte.

Minha biografia será a do Fernando Pessoa.

Se um dia alguém for contá-la, terá apenas para si o dia do meu nascimento e o da minha morte.

Todos os demais serão meus.

Viver é fazer das escolhas uma necessidade permanente.

 Por isso elas jamais serão certas ou erradas e sim essenciais.

A morte nos espera num encontro inderrogável.

Mas até que ela nos chame, temos muito o que fazer.

E é preciso.


CAETANO PROCOPIO

13 de ago. de 2007

ESPELHO E OLHARES

O tempo. Ele clamou pelo tempo. Quando seus pensamentos eram pregos enferrujados, cravados em sua mente. Estava deitado e ao seu lado Ela dormia. Fitou-a com ternura, acordou-a e pediu para que segurasse a sua mão. Ela pensou em questionar seus pensamentos. Mas percebeu que de nada adiantaria perguntar-lhe algo. Apenas o observou e sorriu. De súbito deu um salto da cama e foi até o espelho. Colocou as mãos na cintura e como uma menina de cinco anos perguntou: você me acha bonita? Nesse momento seus pensamentos clarearam como um relâmpago. Seus olhos a seguiam levemente. Com calma levantou e ficou ao seu lado em frente ao espelho. "Eu posso ver a tua alma", disse Ele. E continuou a olhá-la. E ela é bonita? Mais uma vez o silêncio e a observação pairavam sem julgamentos. Ele a tocou no rosto. Escorregou seus dedos levemente até seus seios. Percebeu que sua pele arrepiou-se. "Você é capaz de me ver além da imagem no espelho?", disse Ele.
Ela, sem hesitar, respondeu que sim. Instintivamente suas mãos entrelaçaram-se. Naquele momento pouco importavam as respostas. Voltaram para a cama, sem pressa. Um olhar em frente ao outro. Como um espelho refletindo sua própria imagem. O tempo não tinha mais importância. Apenas o cheiro, o toque, o beijo, os lábios úmidos, o calor dos corpos...o encaixe natural. O cansaço e a leveza da alma. O desejo renovado. Era uma noite de domingo...

VANDERSON PIRES

31 de jul. de 2007

FRIO DAS CALÇADAS

O inverno é a estação do conforto.
Blusas, luvas, cachecóis...a moda.
Dizem que as pessoas ficam mais bonitas.
E vento frio, as vezes úmido, seco...
Carrega o tilintar dos dentes que batem.
Mas são poucos os que podem ouvir.
E a fome aumenta, conforme diminui a temperatura.
Nas calçadas os esquimós urbanos
Não fazem fotossíntese.
Eles tentam esquecer que são gente.
Oh! Cam, segundo filho de Noé
Tu que reinaste na Babilônia e em Ninive
Conclama a teu pai um novo dilúvio.
Para afogar a dor e o sofrimento
Além de todos os julgamentos Divino.
Porque eles são desprovidos da beleza da moda.
E quem os olham não consegue sentir a harmonia do belo,
A mesma harmonia das vitrines das lojas.
Mas eles esperam, mesmo sem saber,
Que a semente de uma promessa cumprida,
Sem apressar o bem e o mal,
Floresça naturalmente com o calor do sol.
E a noite fria nunca tem fim...

VANDERSON PIRES

24 de jul. de 2007

DESPEDIDA

Estou amarrado enquanto te vejo partir
E você caminha muito lentamente...
Fecho meus olhos, na esperança de não te ver mais
Mesmo assim você caminha lentamente.
Quem segura a tua mão?
Será a certeza de um julgamento?
Se o meu erro foi tão cruel, mate-me!
A superação é uma virtude para poucos.
Mas a transformação e para menos ainda.
Vai! Atravesse logo e desapareça no horizonte.
Já aprendi a viver fora do útero.
Também já senti a dor da morte.
O apego é o desassossego da alma.
Meu ego foi transpassado pelo teu punhal.
Sinto-me julgado pelos romanos.
E a minha coroa de espinhos é o teu adeus...
Ainda posso ver a tua imagem.
Mas já estou desatando as amarras.
Queres que eu te deseja felicidade?
Pois bem, mas primeiro terás que morrer.
Mesmo que isso signifique matar-me.
Porque carrego-te dentro de mim.
Ah! Maldito ego. Tu jogas para todos os lados.
Primeiro você impede o perdão.
Depois assombra o pecado,
E afunda os barcos que navegam em águas calmas.
Agora vejo minhas mãos livres.
Meus pés também estão soltos.
Penso em correr até te alcançar...
Mas, existe como correr da chuva?
Mesmo com a rainha perdida
Eu ainda sou o rei do meu castelo.
E devo proteger meu reino
Escolha o teu caminho e segue-o.
Porque ainda tenho meus peões para atravessar o tabuleiro.
E eu respiro lentamente
Seguindo na direção oposta.
Penso no mundo que é grande
E na vida que é passageira.
Neste momento nasceu uma flor nas minhas costas.
E, apesar da tristeza e do choro...eu sorri.

VANDERSON PIRES

13 de jul. de 2007

UMA CONTESTAÇÃO MITIGADA

Em meados dos anos 50 a crença dos positivistas de que a ciência seria capaz de promover o progresso da humanidade já não convencia muita gente. A crise mundial de 1929 e as duas grandes guerras criaram mazelas profundas e provocaram sérias desconfianças nos valores da chamada civilização cristã ocidental (capitaneada pela pujança econômica norte americana), até então, incólumes de maiores questionamentos pelo senso comum.

A juventude americana do pós guerra, insatisfeita com os rigores da tradição puritana, buscava definir-se em novos padrões de comportamento. Inspirado nessa inquietação incipiente, surge o "rock'n roll". A rápida secularização dos costumes liberalizou as formas de expressão o que contribuiu decisivamente para a eclosão dos movimentos estudantis no final da década de 60.

A divisão do mundo em dois blocos antagônicos depois de 1945, abriu um período conturbado nas relações internacionais. A guerra-fria desencadeou um clima de insegurança e medo entre os povos. Ela expôs as contradições e os sinais de evidente esgotamento do "American way of life". O sentimento de insatisfação ensejou reações de repúdio ao arrivismo vitorioso alardeado pela classe média. Inicialmente comportamentais, porém, o acirramento das tensões acabou por transpô-las para o domínio da política. E o rock tornou-se uma espécie de porta voz dessas mudanças. A jovialidade e a alienação de suas primeiras composições rapidamente transformaram-se no ritmo agressivo de guitarras distorcidas e letras em carregado tom de protesto (a guerra do Vietnã foi um catalisador dessa transformação). Queria-se cuspir na hipócrita indumentária com que se vestia a sociedade ocidental.

A contracultura denunciou a decadência moral da burguesia. Entretanto não conseguiu ir muito além disso. O discurso furtou-se de conteúdo. A contestação asfixiou a si mesma por não se afirmar como uma alternativa concreta, definitiva. Os paladinos do sexo, drogas e "rock'n roll" (ideologicamente identificados pela prédica do faça amor não faça a guerra) quando não consumidos pelo desespero, tornaram-se algozes dos próprios ideais. Acomodaram-se nos dividendos que a cultura "underground" proporcionou. Não resistiram aos deleites do mercado (nem desejavam!): suntuosas ofertas de uma vida de luxúria, sucesso e fortuna.

Dos velhos festivais sobraram apenas os rótulos, uma vez que não há mais o que contestar. O mundo exorcizou seus fantasmas para que pudéssemos entrar, incondicionalmente, na era da unanimidade consumista.

Se é verdade que a contracultura soou muito mais como uma vertente da sociedade de consumo, aquele sopro de rebeldia marcou-nos com uma força criativa paradoxal, presa a um tênue limiar de três acordes que se já acomodou algum talento, hoje não passa de mera banalidade.

O rock é fruto dessa contradição, uma marca registrada do nosso tempo.

CAETANO PROCOPIO (4/7/99)

5 de jul. de 2007

OS MUROS DA VERGONHA

Em 1989 caiu o muro de Berlim.

No “ocidente livre” também era conhecido como “muro da vergonha”.

E de fato, era uma vergonha.

Transformou-se num símbolo do totalitarismo. Escondia a podridão de um regime decadente e carcomido. Não existia socialismo do lado de lá, pois, do contrário, não haveria necessidade do muro.

Mas ele caiu (...)

E do lado de cá, o “mundo livre” também resolveu erguer seus muros da vergonha.

Em Israel, para isolar a faixa de Gaza e a Cisjordânia. E na fronteira dos Estados Unidos com o México pra impedir que “cucarachas” invadam o território norte-americano.

O “mundo livre” nunca passou de um mero “slogan” do mercado.

Só que agora também possui muros para se envergonhar.


CAETANO PROCOPIO

26 de jun. de 2007

PRATA E OURO

Morte, morte...
Se és sorte, ponha-me no laço
Onde minha força virará cansaço
E meus sonhos de naufrágio
Um refúgio para meus olhos cegos.

Conte-me uma história
Onde eu tenha sido um herdeiro.
Para que quando eu te encontrar
Não tenha contas a pagar.

Finjas que me queres
Assim como eu te desejo.
Nunca a imaginei com foice
E nem vestida de preto.

Acabe com meu sofrimento de existir
E não me obrigue a ser covarde para os olhos de quem ri.

A vida e as palavras são de prata.
A morte e o silêncio são de ouro.

VANDERSON PIRES

16 de jun. de 2007

QUALQUER POÉTICA

Caetano Veloso certa vez afirmou que escrever poesia é uma infantilidade. Quem a escolhe, faz por preguiça.

Talvez o texto poético, de fato, seja pouco prolixo comparado às possibilidades da prosa. Esta pode muito bem se converter em poesia. A linguagem, ao contrário da opinião de Samuel Beckett, pode ser repleta de sentidos e sensações que ultrapassam as barreiras abstratas delineadas pela metafísica. As palavras dão significado ao mundo e instrumentalizam os homens para se tornarem uma experiência concreta capaz de ensejar uma identidade às coisas através do trabalho da inteligência.

A poesia, longe de ser o resultado de um esforço deliberado para produzir métrica, é uma expressão fundamental de vontades e sentimentos podendo transmutar em inúmeras formas e estéticas.

Se a essência dos homens é poética, não há conteúdo na banalidade. Esta é um veneno que avilta a condição humana denegrindo-a num estado atroz. Nosso tempo nos proporcionou uma cultura vazia (consumista) sustentada pela insipiência do mercado e resguardada pela linguagem codificada da tecnologia, que serve não mais que um disfarce a esse vácuo.

Pois bem, a origem da modernidade está no século das luzes (XVIII). O iluminismo foi a mais fiel expressão filosófica da burguesia, princípio e força motriz das sociedades globalizadas. Ele potencializou as profundas transformações advindas a partir do século XVIII. Mas mesmo os iluministas possuíam poética, só que ela acabou abandonada pelas necessidades práticas e urgentes da sociedade burguesa. O mundo burguês, na sua concepção universalizante, prescinde de humanismo, de poesia e de sentido, isto claro, excetuando o da mercadoria.

Precisamos urgentemente de alguma poética, de qualquer uma, mesmo que seja preguiçosa.

CAETANO PROCOPIO

6 de jun. de 2007

CHAVEZ E A IMPRENSA LIVRE

Hugo Chavez não renova concessão e o canal privado de tv RCTV sai do ar na Venezuela. 

 A justificativa é o apoio ao golpismo. 

Não vejo com bons olhos a iniciativa chavista. Normalmente ela redunda em autocracia. 

 Aqui no Brasil, vários políticos vociferam contra a atitude do Presidente venezuelano. Mas também não creio que sejam os mais indicados para criticá-lo, afinal, o Parlamento brasileiro nada faz contra o oligopólio privado que sempre imperou nos meios de comunicações do país. 

Afirmar que, de fato, existe imprensa livre no Brasil soa como uma piada de mau gosto.

E controle estatal dos meios de comunicação não significa censura, desde que haja meios efetivos para a participação popular. 

Apesar de Chavez ter nascido nas fileiras do exército, chegou e se mantém no poder através do voto direto. 

Será que a história o absolverá? Os próximos capítulos irão dizer. 


CAETANO PROCOPIO

30 de mai. de 2007

ESTOU GRÁVIDO

Tirem esse lixo da minha frente. Tirem essas pessoas que buscam o poder, o sucesso, a riqueza.

Que atravessem a rua os que admiram nos outros, esses quesitos. Porque se cruzarem o meu caminho eu vos digo: vocês já estão mortos com seus desejos e seu Deus.

E que se abram as portas para o despertar! Minha senha? Fernando Pessoa e seus heterônimos: “Coroai-me de rosas, coroai-me em verdade de rosas...” .

Não quero saber de conquistas, nem da linguagem acadêmica. Essa fala muda e surda de que nada serve.

Dai-me apenas o prazer barato, o prazer de colocar a perna nua para fora das roupas de cama numa fria noite de inverno e recolhê-la novamente. Salve Sigmund, não apenas pela descoberta do subconsciente, mas também pela invenção da cocaína.

E eu permaneço vivo neste mundo. Porque nada mais me dá força para sobreviver que a certeza de que a minha morte fará a felicidade de outrem.

E se Voltaire estivesse vivo ele refaria a sua afirmação de que o mundo seria livre quando o último rei fosse enforcado nas tripas do último padre. E ficaria assim: “que Bush seja enforcado nas tripas do Bentinho XVI.”.

E agora confesso: estou grávido e vou abortar em nome da vida e do direito que cabe á liberdade.

VANDERSON PIRES

22 de mai. de 2007

OS MILÉSIMOS GOLS

Enfim, saiu o milésimo gol do Romário! Ou não? Questionável? Sim, como são também os mil duzentos e tantos de Pelé.

Se levarmos em conta o critério europeu, que normalmente só contabiliza os gols anotados em jogos oficiais, Romário e Pelé estariam aquém do milhar. Algo próximo dos 800.

Só pra termos uma idéia de como essa questão pode suscitar muita controvérsia, no livro “O Bambardeiro da Nação”, sobre o principal atacante da seleção alemã na década de 70, Gerd Muller, o autor relata que o jogador, em partidas oficiais, marcou mais de 700 gols. Mas se somados amistosos, jogos festivos etc, chegam a quase 1500.

E Artur Friedenreich? Jogador brasileiro da primeira metade do século XX, reconhecido por ter feito mais de 1000 gols. Alguns historiadores contestam esta marca e afirmam que tenha marcado aproximadamente 550 em pouco mais de 560 partidas.

Portanto, as histórias dos milésimos gols ainda estão envoltas em polêmicas, já que dependem dos critérios adotados.

O jeito vai ser aguardar o surgimento de um novo craque que consiga atingir os 1000 gols apenas em partidas oficiais. Ai sim, ponto final nesta celeuma!

Mas creio que isto ainda leve muito tempo pra acontecer.

CAETANO PROCOPIO

15 de mai. de 2007

“A HISTÓRIA DE UM CERTO ZÉ MIGUEL”


“A Fuga do Soldado da Borracha” não se resume na história de José Miguel Correia. É sobretudo um relato sobre esquecidos.

O livro-reportagem escrito por Marcelo Teixeira, com a coordenação de Fernanda Franco, narra um episódio obscuro da história nacional através da trajetória de Zé Miguel.

Durante a 2ª Guerra, os estoques de borracha dos países aliados minguavam em razão das áreas de produção na Asia estarem ocupadas pelas forças do eixo. Uma das alternativas encontradas para manter o abastecimento foi explorar os seringais da região amazônica.

O governo brasileiro, imbuído no esforço de guerra, recrutou milhares de “soldados” para trabalharem na extração do látex. Em sua maioria nordestinos, abandonados à própria sorte na imensidão da floresta. Grande parte sucumbiu diante da falta de condiçoes mínimas de sobrevivencia.

Zé Miguel, um jovem alagoano que sonhava vestir a farda das forças armadas, não conseguiu se tornar militar. Assim, resolveu ser um “soldado da borracha”. Por mais de um ano viveu em meio à selva. Escapou da solidão, das armadilhas da mata, da malária e, principalmente, do descaso do governo brasileiro. A duras penas retornou à casa de seus pais aproximadamente três anos após sua partida.

Não vestiu o tão almejado uniforme, mas em sua luta pela vida travou uma batalha diária contra inimigos tão poderosos como um exército inimigo. E bravamente os venceu.

A história dos “soldados da borracha” é um episódio ignorado pela historiografia nacional. E se os autores não possuem a pretensão de realizar o resgate histórico, ao menos trazem à luz a saga destes milhares de brasileiros há seis décadas esquecidos na floresta amazônica.


CAETANO PROCOPIO

9 de mai. de 2007

O HOMEM REVOLTADO

Para o escritor Albert Camus o mundo é uma representação do absurdo e a constatação desse estado, um trabalho da inteligência, um exercício de lucidez.

Somente a luta incansável contra as injustiças e a morte é capaz de dar legitimidade à condição humana, além de um sentido à revolta. Mas esse sentimento quando prescindido de humanidade se transforma no mais profundo desespero.

O século XXI nasceu despedaçado, sem perspectivas. O fundamentalismo, tanto religioso quanto político, apareceu como solução irremediável para justificar o vazio das almas e desarmar o universo de incertezas que erigiu juntamente com a perspectiva niilista do ódio.

Essa revolta sem argumento é uma confirmação do absurdo original que aliena e desumaniza o ser negando-lhe a própria inteligência, afinal, qual o sentido da existência senão aquilo que os homens se propõem a construir?

A tragédia de nossos dias é o resultado do individualismo burguês que exige o egoísmo como norma de conduta moral para se atingir o “sucesso” e assim transformar os indivíduos em “vencedores”. Exatamente o oposto ao que Marx propôs acerca do homem, um ser genérico e comunitário.

Se esse sucesso não é obra do acaso, também não é por mera casualidade que o fracasso acabe por produzir sofrimento, insatisfação, desespero e a brutalidade contra uma razão injusta e despropositada. O homem do século XXI traz consigo a revolta estéril dos sem esperança.

A solidariedade nunca foi tão necessária e talvez a única alternativa para a encruzilhada em que a humanidade se encontra.


CAETANO PROCOPIO

10 de abr. de 2007

A MALDIÇÃO DE NOSFERATU

Os filmes de terror popularizaram a figura dos vampiros como seres demoníacos que impiedosamente atacavam suas vítimas para sugar o sangue. Mas em “Nosferatu, o Vampiro da Noite” (1978), do diretor alemão Werner Herzog, Klaus Kinski interpreta um morto vivo diferente. Atormentado pelo fardo da maldição, Nosferatu é um ser em permanente agonia.

Se para as pessoas a morte é um devir implacável, para ele é um alívio. Uma vida sem a experiência dos sentidos é um nada. Nosferatu sofre, quer o amor como uma forma de acalento, mas a maldição do vampiro o condenou a um mundo de solidão e de perversidade. Ele tenta inutilmente fugir desse calvário, entretanto, sua presença entre as pessoas é o sinal da desgraça: a peste, a destruição.

Para Nosferatu a morte seria a libertação da sua cruz. Os séculos passam e ele continua perene na sua desesperança, como a própria história dos homens. As pessoas vivem um perpétuo martírio à espera do fim, como se fossem meros peregrinos do tempo. Essa existência é a maldição que aprisiona o homem na banalidade de um mundo terrível, imutável.

Voltaire disse que o ser humano é a única espécie que sabe que um dia irá morrer: um conhecimento necessário porque ele possui idéias. Foram as idéias que revelaram o próprio tempo e que também poderão libertar o homem desse seu vazio existencial. Nesse dia o tempo não será mais necessário e Nosferatu, enfim, poderá morrer em paz, livre do seu pesadelo.


CAETANO PROCOPIO

22 de mar. de 2007

O GENERALISTA

Tenho cultura de enciclopédia! O que sei não vai muito além de apontamentos sobre alguns assuntos. Conhecimento de verbete.

Nem um enciclopedista consigo ser. Além do cabedal falta-me, principalmente, a fé cega na ciência, algo que Diderot e d‘Alembert possuiam até demais. Não à toa, no século XVIII, criaram o monumental “Dicionário Racional das Ciências das Artes e dos Ofícios”.

Quem me dera mesmo fosse como Jorge Luis Borges, notável ficcionista (e grande conhecedor de enciclopédias). Infelizmente não possuo a décima parte da inspiração do escritor argentino.

Resta resignar-me à condição de um mero generalista. Aquele que de tudo conhece um pouco, mas do pouco não sabe quase nada.

CAETANO PROCOPIO

12 de mar. de 2007

ADEUS, MENINOS!


É janeiro de 1944, Paris está ocupada por tropas alemãs. Numa estação ferroviária uma mãe se despede do filho, prestes a embarcar no trem que o levará ao interior, fora da zona de ocupação. O seu destino, um colégio carmelita para meninos de famílias ricas.

A cena faz parte das memórias do diretor francês Louis Malle. No filme “Adeus, Meninos”, o seu pseudônimo é Julien Quentin, um garoto de 12 anos que vive a angústia da separação familiar. Com a guerra, o convívio comum na capital torna-se insustentável. A fuga até a província, mais que um lenitivo, passa a ser uma necessidade iminente diante do perigo das constantes escaramuças entre as forças de ocupação e a resistência, além do mais, o ambiente aparentemente isento do convento lhe confere certa imunidade de possíveis ações beligerantes.

Mas a chegada no colégio após o retorno das férias não desperta qualquer alento. A educação monástica impõe um cotidiano austero, cheio de renúncias. O convívio com os colegas é quase sempre permeado por disputas pelos interesses mais comezinhos, que aguçam rivalidades e criam um ambiente hostil. Intrigas que tipificam muito bem o comportamento mesquinho e altivo da aristocracia francesa, refletido no espírito presunçoso de jovens privilegiados que apenas conheciam as rasas preocupações das suas convivências pequeno-burguesas, sem se aterem à crua realidade da guerra. A própria relação dos meninos com os serviçais denuncia a insuportável visão de classe de uma burguesia que se julga na condição de subjugar a todos aqueles que estejam abaixo de sua hierarquia social, como nas cenas em que o servente José é fustigado e humilhado pelos alunos. O desdém e a violência presentes nos menores atos e situações do cotidiano constituem uma medida da barbárie, em parte, infundidos nos costumes pela conivência dessa elite francesa que propalava o seu menosprezo pelos infortunados enquanto realizava sua adesão oportunista ao autoritarismo alemão.

Um garoto recém chegado chama a atenção dos demais, Jean Bonnet. Discreto e taciturno, mas extremamente inteligente, se torna alvo de hostilidades. Num primeiro momento o comportamento de Julien é idêntico aos dos demais colegas que o discriminam, principalmente por se dizer protestante. A eminência intelectual do novato lhe desperta ciúmes, só que Quentin começa perceber algo de estranho no relacionamento de professores, funcionários e diretores do colégio, que dedicam uma maior atenção ao colega. Depois de algum tempo acaba por compreender a razão dessa proteção quando descobre a origem judia de seu consorte, acolhido no colégio, juntamente com mais dois garotos, para não serem aprisionados pelos nazistas. Após a revelação, o pequeno Julien foi tomado por um sentimento de solidariedade e companheirismo. Aproximou-se de Bonnet resguardando a sua real identidade e tornando-se seu melhor amigo.

Outro personagem marcante é o diretor da instituição: padre Jean, uma figura estóica que crê numa educação rigorosa, pautada nos princípios essenciais da doutrina cristã como a resignação, a compaixão e a solidariedade com o próximo, para ele, as únicas formas de se construir uma justiça plena, capaz de resistir e combater as iniqüidades da guerra. O apelo moral é uma arma indelével e a compaixão, um exercício permanente, até mesmo com os inimigos, do contrário, os rancores jamais perecerão. A educação, além de ensejar o aprendizado e o enriquecimento cultural serve, essencialmente, para polir o espírito com valores humanitários, incompatíveis com o “éthos” burguês que prepara o indivíduo para ser um competidor voraz. Imbuído desse humanitarismo, decide acolher os meninos judeus e transformar o seminário numa espécie de quartel a serviço da resistência.

Malle conseguiu retratar de forma marcante, apesar da linguagem intimista, todo o viés que representou a divisão territorial do país. O Governo títere de Vichy gerou um enorme mal estar no moral dos franceses repercutindo muito além de uma mera questão geográfica. O servilismo diante dos invasores alemães feriu o orgulho nativista e transformou-se numa incômoda mácula no seio da história nacional. Há uma cena bastante ilustrativa no filme: Quentin juntamente com Bonnet e seu irmão, numa visita da mãe, almoçam num restaurante quando são subitamente surpreendidos por soldados franceses numa revista de rotina. Ao se depararem com um senhor judeu resolvem expulsá-lo do recinto. Imediatamente se inicia uma oposição à presença dos colaboracionistas, apesar da complacência de franceses solidários ao regime. O incômodo foi tamanho que os soldados acabaram sendo expulsos do local por um pequeno grupo de oficiais alemães, quase apóstatas, que se embriagavam em uma das mesas.

A história possui seu ponto culminante quando a desgraça se abate sobre o colégio. Uma denúncia feita pelo ex-empregado José, demitido por facilitar o câmbio negro entre os alunos, revela às autoridades nazistas a permanência de garotos judeus entre os demais. O convento é invadido e soldados realizam buscas até que os meninos israelitas são descobertos. Padre Jean é preso. Os seus destinos agora estavam selados pelos inquisitores: a morte nos campos de concentração de Awshivitz e Mauthasen.

Após as prisões os algozes determinaram o fechamento do colégio. Uma última inspeção é realizada. É um dia frio, os meninos perfilados no pátio são chamados um a um para se identificarem frente ao agente da Gestapo. Nesse ínterim Padre Jean e os três garotos surgem conduzidos por soldados através do átrio até a saída. Os alunos, agora não mais presos às suas frivolidades se despedem em coro do seu preceptor. Do presbítero ouve-se um lúgubre Adeus. E Quentin, como num lamento, dá um derradeiro aceno ao amigo Bonnet.

O doloroso final nos desvela a esperança nas lágrimas de Julien: uma virtude no coração dos homens e a quimera de que um dia esse sentimento nos possibilite um mundo de verdade.


CAETANO PROCOPIO

2 de mar. de 2007

ENTRE LOBOS (...)

"Estava entre lobos e bebi água como um cão. Eles mataram-me..."

VANDERSON PIRES

25 de fev. de 2007

UMA MORTE ANUNCIADA

Assaltantes no Rio de Janeiro rendem uma mãe e roubam-lhe o veículo. Ao tentar sair do automóvel, seu filho, o pequeno João Hélio não consegue se livrar do cinto de segurança e fica preso do lado de fora. Em fuga, os criminosos arrastam o menino por vários quilômetros. O corpo termina dilacerado.

Um crime brutal! Uma morte anunciada. Poderia não ser exatamente o menino, mas qualquer outro, ou até mesmo um de nós. O mundo mais parece um morticínio. Mata-se em todo lugar pelas mais diversas razões, ou mesmo por nenhuma.

A história moderna reservou o termo civilização para aquelas sociedades que de certa forma serviram de bagagem à cultura do ocidente: gregos, romanos e por último, bizantinos. Os iluministas introduziram a idéia de progresso como via salvadora da humanidade. Só que as coisas não caminharam da forma como eles pensaram. A modernidade não conseguiu por fim às contradições trazidas do passado. E hoje, ao mesmo tempo que elevamos sobremaneira as potencialidades do saber com a novíssima tecnologia da informação, continuamos matando com a crueldade típicas dos antigos povos mesopotâmicos. O dito mundo livre mantém um pé nos anos 2000 DC e o outro em 2000 AC.

Por onde quer que andamos, a morte nos espreita. Estamos acostumados com a sua presença. Os noticiários a narram com a naturalidade de um fato corriqueiro. As vezes até nos indignamos com ela, mas apenas quando não aceitamos algumas de suas facetas, como no caso do menino João Hélio. Só que bastam umas semanas, a ira cessa e voltamos à rotina da indiferença.

Morremos por antecipação, arrastando nossos corpos por este mundo. Quando o horror se torna um hábito, não há mais possibilidades para a civilização. O corpo ainda sobrevive, mas a alma, rota e moribunda, deixa de suspirar e sucumbe. O homem sem essência não passa de “um cadáver adiado”.

CAETANO PROCOPIO

12 de fev. de 2007

A TRISTEZA DE PIAZZOLLA

“Adios Nonino”, a homenagem de Piazzolla ao pai.

No canto soturno do seu bandoneon,

seus acordes vão muito além.

Piazzolla toca a tristeza do mundo.

Porque a tristeza é sempre um pouco de cada um.

Esse sentimento tão vívido na alma platina,

nas notas de Piazzolla,

nos parece o mesmo desalento.


CAETANO PROCOPIO

6 de fev. de 2007

CARTA PARA UM AMIGO

É meu amigo, a morte passa onde existe o medo. E o medo... a vida. E a vida... Por que as pessoas querem viver tanto? Viver, procriar, acumular... são ações tão comuns que, em nenhum momento pára-se para pensar: 'Navegar é preciso, viver não é preciso'. Eu não anseio o acúmulo dos anos. A terrível somatória das ações. Não! Para que? Volto a citar Borges, 'todos seremos parte do esquecimento, a tênue substância de que é feito o universo'. A vida só se procria por meio da arte, seja ela escrita, cantada, pintada, tocada, enfim, a arte contra a verdade destruidora da vida sem sentido. Só ela merece viver.
Sempre procurei fazer arte. Já rimei as ocasiões, toquei a minha revolta, tatuei as minhas marcas, transformei em filme meus pensamentos, fiz poesia... enfim, tenho a arte como a minha maior arma contra mim mesmo. Contra o tempo e suas marcas, contra a hipocrisia de todos. Faço arte para continuar a existir. Reinvento a todo momento minha forma de ver o mundo e as coisas. E a cada minuto vejo aquilo cujo tamanho é proporcionalmente igual aos meus pensamentos. E me faço grande em um mundo tão pequeno.
Estou vestido de branco, descalço. Caminho dentro de um enorme lamaçal e tenho que chegar ao seu fim... limpo! Para isso conto com a ajuda de várias forças da natureza. Pedi a elas que em protegessem. Um grupo de muito grande de formigas revestiu o meu corpo, tornando-o impermeável. Para abrir caminho conto com a ajuda do vento, que sopra com a ira de um tufão. Às vezes paramos um pouco. Afinal, precisamos descansar. As formigas são muito agitadas, mas elas gostam de me ouvir falar. Conto-lhes histórias que aprendi com os livros. Mas para elas, o que realmente importa é a minha companhia. Os livros, para as formigas, são apenas comida. Elas adoram celulose. Mas acho que convenci algumas a buscar outras fontes de alimento. Para isso exemplifiquei que os livros são, de fato, alimento, mas não da vontade fisiológica, mas sim vida. Confesso que a maior parte delas não deu a mínima para mim. Mas ainda gostam de me ouvir falar.
Já o vento é ativo demais. Não pára nunca. Mas ele já conhece todas as minhas histórias e me respeita por continuar a contá-las.
Geralmente nossa pausa dura uma semana, no mínimo. Caminhamos direto apenas duas ou três horas. Não temos pressa. Nem queremos chegar logo. Fazemos apenas o que gostamos de fazer, afinal somos livres. Nosso único problema é a lama. Mas sempre a ignoramos e para nós é como se ela não existisse. Sabemos que há uma grande diferença entre as massas. E sabemos respeitar essa condição.
Tem dias que não tenho vontade de contar nenhuma história. E nesse dia as formigas procuram criar algo para me mostrar. E assim trocamos muitas idéias, porque sei que não dependo delas para me fazer ouvir e nem elas dependem de mim para existir. Por isso somos completos e temos uma missão. Trata-se de mais uma missão qualquer. Como todas aquelas que as pessoas acham que têm na vida. A nossa é apenas atravessar um lamaçal vestidos de branco e com os pés descalços.
E a arte nos consola.

VANDERSON PIRES

31 de jan. de 2007

O “BIG BROTHER” DE ORWELL

“1984”: o livro de George Orwell descreve tempos sombrios em que as pessoas vivem sob uma ditadura tão brutal que não conseguem agir sem que estejam sendo vigiadas.

O poder tirânico, representado pela figura do “Grande Irmão”, diuturnamente observa a todos. Apenas aquilo que ele delibera é plausível. Somente o que seus olhos vêem e aceitam é permitido. Nem o amor é possível. Vidas sendo permanentemente controladas. Nenhum passo é dado sem que esteja sob sua espreita. Aqueles que não cumprem suas determinações são sumariamente excluídos. Essa situação absurda relatada na ficção do escritor inglês é uma parábola do totalitarismo e suas formas de domínio sobre a vida das pessoas.

Certa vez, um jornalista americano afirmou que a opção de J. D. Salinger viver em profundo recolhimento feito um eremita o transformou no último cidadão americano que ainda possuía vida privada.

Vida privada! Os regimes de força não a toleram. Uma ditadura só é possível quando exerce o controle sobre a intimidade das pessoas, ou de que maneira se pode ter conhecimento sobre os atos dos indivíduos e suas “subversões”? Salinger ao contrário de Orwell preferiu denunciar essa tirania não com a ficção, e sim a repelindo do seu dia-a-dia. O “Big Brother” de Orwell não é estranho a Salinger, mas infelizmente, ao pensamento comum.

O fundamentalismo de mercado decretou o fim da privacidade e transformou a crítica numa apologia venal do sistema. Hoje, o “Big Brother” deixou o contexto da obra de Orwell e converteu-se definitivamente no poder onipotente e onipresente que, como em “1984”, conduz e determina a vida de todos.

CAETANO PROCOPIO

22 de jan. de 2007

O ANDARILHO E A RAZÃO

Por que razão existe o bom senso? Para aprisionar a vontade?
Não procuro mais os tépidos ventos da razão. Aqueles que tentam fazer de mim uma marionete. E que a todo momento me censuram. E sinto-me acuado.
Tenho pensado muito em peixes...E na liberdade de poder nadar. E por mais que eu os inveje jamais poderei imitá-los.
Agora sinto que já é tarde. E um estranho invade a privacidade dos meus pensamentos e me pede um cigarro. Mas eu não fumo cigarros! E o assassino do pronome deixou-me livre de novo.
E nesse momento já não sou mais aquele que eu pensei que era. E cruzo o asfalto com passos calmos. Tenho na mente uma canção. A melodia de "Misty".
E logo meu desejo sexual faz aflorar uma silhueta feminina em meus pensamentos. E a temperatura do meu corpo sobre, inflama...
Mas o meu coração ama independente de mim. E procuro não pensar em mais nada.
E faço do meu caminhar um verbo transitivo direto, mas que ao mesmo tempo não sou capaz de conjugá-lo.
Não me julgue por eu não saber onde estou indo... A segurança do saber causa-me estranheza. E a insegurança de não saber o caminho é a minha liberdade.
Agora vou pra casa. Quero dormir sem culpa. E quando acordar quero imaginar o mar. O mar como o céu. Os peixes como estrelas. E eu como um nada questionando a razão...

VANDERSON PIRES

16 de jan. de 2007

BARÃO DE ITARARÉ E STANISLAW PONTE PRETA MINISTROS DA EDUCAÇÃO!

Em 10 anos de vida forense vi tantos absurdos que deixariam muito jurista de renome ruborizado.

Não fossem uma tragédia, poderiam fazer parte das hilariantes situações descritas por Sérgio Porto em seus 3 FEBEAPAS (festival de besteiras que assolam o país). Alías, lamentável que na faculdade nenhum professor tenha falado sobre ele e seu “alter ego”, Stanislaw Ponte Preta. Outra omissão imperdoável é a da figura zombeteira de Apparício Torelly (e também seu “alter ego”), o Barão de Itararé!

Se ainda fossem vivos (Sérgio Porto faleceu em 1968 e Apparício Torelly em 1971) teriam farta matéria prima pra muitos outros FEBEAPAS nesse lodaçal em que vive o país.

Até imagino (...) o Barão de Itararé valendo-se do seu “título nobiliárquico” para propor uma reforma no currículo dos cursos de direito. Algo como (...) a inclusão da cátedra de escatologia jurídica nas matéria obrigatórias! Já Stanislaw, reivindicaria a consistencia epistemológica de seus “FEBEAPAS” para propor a criação de uma disciplina de teratologia processual.

Quem sabe não conseguiriam uma indicação para o Ministério da Educação. Seria a “Reforma Universitária” do Stanislaw Ponte Preta e do Barão de Itararé!

Certamente os novos juristas “escatólogos” e (ou) “teratólogos” que surgiriam nas lides acadêmicas teriam bastante trabalho pela frente.

Inclusive, pra decidirem como se daria a aprovação nessas matérias.

Seriam com as melhores, ou as piores notas?

Pena que nossos “Ministros” não estejam mais aqui para responder.


CAETANO PROCOPIO

8 de jan. de 2007

O ASSASSINATO DE SATÃ

Saddam não escapou de seus algozes.

Sucumbiu no cadafalso.

Mas talvez, como a Hidra, ele tenha várias cabeças

e ainda permaneça por aqui, para perpetuar seu teatro de horrores.

O Coronel Kurtz, no coração das trevas,

denunciava os assassinos que acusam outro assassino.

Nosso palco está sujo de sangue e suas cortinas cerradas pela mentira.

Os assassinos, estão livres!

Mataram o Satã, mas ele não era único.

Outros sobrevivem na iniquidade.

E certamente continuarão,

por um bom tempo.

CAETANO PROCOPIO

2 de jan. de 2007

RECEITA PARA COMEÇAR O ANO

Abre-se o novo ano! E que nele não haja só coisas boas. Nem felicidade placebo. (Apesar de sempre a querermos, seja lá como for)

Também quero a infelicidade como o segundo reinado da Bastilha. Porque meu rei está cercado por um exército de peças de xadrez.

Tente não ser patético com os votos de felicidade. Eles podem tornar alguém infeliz. Prometa a si mesmo: não serei patético!

Se se sentir triste e precisar apelar, reze. Mas tente fazer isso de uma forma menos mecânica. Faça desse ato uma conversa consigo mesmo e tente ver quem realmente és! E lembre-se:o essencial da vida e ver, ouvir e calar. Cale-se com dignidade e não tente converter ninguém à sua verdade.

Faça muito sexo e seja hedonista. E se um estranho te oferecer drogas aceite.

E por mais que você tente mudar a vida e não consegue, fique tranqüilo. Mas não tente torna - lá um ritual ridículo de segunda-feira.

VANDERSON PIRES