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30 de mai. de 2007

ESTOU GRÁVIDO

Tirem esse lixo da minha frente. Tirem essas pessoas que buscam o poder, o sucesso, a riqueza.

Que atravessem a rua os que admiram nos outros, esses quesitos. Porque se cruzarem o meu caminho eu vos digo: vocês já estão mortos com seus desejos e seu Deus.

E que se abram as portas para o despertar! Minha senha? Fernando Pessoa e seus heterônimos: “Coroai-me de rosas, coroai-me em verdade de rosas...” .

Não quero saber de conquistas, nem da linguagem acadêmica. Essa fala muda e surda de que nada serve.

Dai-me apenas o prazer barato, o prazer de colocar a perna nua para fora das roupas de cama numa fria noite de inverno e recolhê-la novamente. Salve Sigmund, não apenas pela descoberta do subconsciente, mas também pela invenção da cocaína.

E eu permaneço vivo neste mundo. Porque nada mais me dá força para sobreviver que a certeza de que a minha morte fará a felicidade de outrem.

E se Voltaire estivesse vivo ele refaria a sua afirmação de que o mundo seria livre quando o último rei fosse enforcado nas tripas do último padre. E ficaria assim: “que Bush seja enforcado nas tripas do Bentinho XVI.”.

E agora confesso: estou grávido e vou abortar em nome da vida e do direito que cabe á liberdade.

VANDERSON PIRES

22 de mai. de 2007

OS MILÉSIMOS GOLS

Enfim, saiu o milésimo gol do Romário! Ou não? Questionável? Sim, como são também os mil duzentos e tantos de Pelé.

Se levarmos em conta o critério europeu, que normalmente só contabiliza os gols anotados em jogos oficiais, Romário e Pelé estariam aquém do milhar. Algo próximo dos 800.

Só pra termos uma idéia de como essa questão pode suscitar muita controvérsia, no livro “O Bambardeiro da Nação”, sobre o principal atacante da seleção alemã na década de 70, Gerd Muller, o autor relata que o jogador, em partidas oficiais, marcou mais de 700 gols. Mas se somados amistosos, jogos festivos etc, chegam a quase 1500.

E Artur Friedenreich? Jogador brasileiro da primeira metade do século XX, reconhecido por ter feito mais de 1000 gols. Alguns historiadores contestam esta marca e afirmam que tenha marcado aproximadamente 550 em pouco mais de 560 partidas.

Portanto, as histórias dos milésimos gols ainda estão envoltas em polêmicas, já que dependem dos critérios adotados.

O jeito vai ser aguardar o surgimento de um novo craque que consiga atingir os 1000 gols apenas em partidas oficiais. Ai sim, ponto final nesta celeuma!

Mas creio que isto ainda leve muito tempo pra acontecer.

CAETANO PROCOPIO

15 de mai. de 2007

“A HISTÓRIA DE UM CERTO ZÉ MIGUEL”


“A Fuga do Soldado da Borracha” não se resume na história de José Miguel Correia. É sobretudo um relato sobre esquecidos.

O livro-reportagem escrito por Marcelo Teixeira, com a coordenação de Fernanda Franco, narra um episódio obscuro da história nacional através da trajetória de Zé Miguel.

Durante a 2ª Guerra, os estoques de borracha dos países aliados minguavam em razão das áreas de produção na Asia estarem ocupadas pelas forças do eixo. Uma das alternativas encontradas para manter o abastecimento foi explorar os seringais da região amazônica.

O governo brasileiro, imbuído no esforço de guerra, recrutou milhares de “soldados” para trabalharem na extração do látex. Em sua maioria nordestinos, abandonados à própria sorte na imensidão da floresta. Grande parte sucumbiu diante da falta de condiçoes mínimas de sobrevivencia.

Zé Miguel, um jovem alagoano que sonhava vestir a farda das forças armadas, não conseguiu se tornar militar. Assim, resolveu ser um “soldado da borracha”. Por mais de um ano viveu em meio à selva. Escapou da solidão, das armadilhas da mata, da malária e, principalmente, do descaso do governo brasileiro. A duras penas retornou à casa de seus pais aproximadamente três anos após sua partida.

Não vestiu o tão almejado uniforme, mas em sua luta pela vida travou uma batalha diária contra inimigos tão poderosos como um exército inimigo. E bravamente os venceu.

A história dos “soldados da borracha” é um episódio ignorado pela historiografia nacional. E se os autores não possuem a pretensão de realizar o resgate histórico, ao menos trazem à luz a saga destes milhares de brasileiros há seis décadas esquecidos na floresta amazônica.


CAETANO PROCOPIO

9 de mai. de 2007

O HOMEM REVOLTADO

Para o escritor Albert Camus o mundo é uma representação do absurdo e a constatação desse estado, um trabalho da inteligência, um exercício de lucidez.

Somente a luta incansável contra as injustiças e a morte é capaz de dar legitimidade à condição humana, além de um sentido à revolta. Mas esse sentimento quando prescindido de humanidade se transforma no mais profundo desespero.

O século XXI nasceu despedaçado, sem perspectivas. O fundamentalismo, tanto religioso quanto político, apareceu como solução irremediável para justificar o vazio das almas e desarmar o universo de incertezas que erigiu juntamente com a perspectiva niilista do ódio.

Essa revolta sem argumento é uma confirmação do absurdo original que aliena e desumaniza o ser negando-lhe a própria inteligência, afinal, qual o sentido da existência senão aquilo que os homens se propõem a construir?

A tragédia de nossos dias é o resultado do individualismo burguês que exige o egoísmo como norma de conduta moral para se atingir o “sucesso” e assim transformar os indivíduos em “vencedores”. Exatamente o oposto ao que Marx propôs acerca do homem, um ser genérico e comunitário.

Se esse sucesso não é obra do acaso, também não é por mera casualidade que o fracasso acabe por produzir sofrimento, insatisfação, desespero e a brutalidade contra uma razão injusta e despropositada. O homem do século XXI traz consigo a revolta estéril dos sem esperança.

A solidariedade nunca foi tão necessária e talvez a única alternativa para a encruzilhada em que a humanidade se encontra.


CAETANO PROCOPIO