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25 de fev. de 2008

ECOS DA INFÂNCIA II (UM MARXISTA NA INFÂNCIA)

Nunca fui muito conformado com as coisas.

Claro que ja levei isto a extremos, apenas pra exercitar o capricho de contrariar.

Antes mesmo de gostar de futebol eu dizia ser corinthiano, mas sem qualquer convicção (ou paixão, se preferirem).

E acreditem, virei palmeirense só porque todos colegas do pré-primário eram corinthianos (e claro porque naquela época o Corinthians ainda amargava a fila de mais de 20 anos sem títulos).

Não é que no ano seguinte veio o famoso título paulista e o Palmeiras foi quem amargou mais de 16 anos na fila.

Tudo bem, não tenho supertições e a paixão ficou.

Mas naquele ano de 1976 talvez eu tenha cometido o meu primeiro ato de rebeldia.

Não sei se ele poderia ser assim considerado porque foi inconsciente.

No dia de minha formatura da pré-escola, vestia uma beca bege.

Estava sentado com os demais formandos, todos perfilados no auditório (vejam só ... do Clube Corintians de Araçatuba!) aguardando a entrega do diploma, que seria realizada ... pelo Prefeito da Cidade!

Apesar de toda preparação para o evento, não havia como seguir um protocolo absolutamente rigoroso com dezenas de crianças presentes.

Mas fui muito além ...

Durante a cerimônia comecei a sentir contraçoes na bexiga.

Depois de alguns minutos resistindo, estava prestes a explodir.

Só que o constrangimento por deixar meu assento no meio da cerimônia foi maior.

E o pior aconteceu, acabei urinando ali mesmo, sentado na cadeira, no meio do auditório!

O unico registro deste feito era uma foto em preto e branco tirada no momento em que eu recebia o “canudo” do Excelentíssimo Prefeito ... com a roupa manchada de urina!

Não fosse pela vergonha injustificada de não ceder à fisiologia, teria sido um ato extremamente contestador!

Diria algum teórico: “já era um marxista na infância!”

E eu nem saberia disto (...)

CAETANO PROCOPIO

13 de fev. de 2008

ECOS DA INFÂNCIA

Quando Elvis faleceu eu tinha 7 anos de idade.

Não conseguia compreender como ele poderia ter morrido, afinal, tratava-se apenas de um personagem da TV.

Não era de verdade!

Alguns meses depois, naquele mesmo ano de 1977, no dia de natal, Chaplin também partia.

A manchete no jornal da manhã seguinte, com uma foto do vagabundo, ilustrava: “Morre Carlitos”.

Havia acabado de concluir a primeira série primária e a leitura, por mais singela que fosse, ainda me parecia uma tarefa herculana, afinal, de insipiente tornei-me incipiente.

Consegui ler a notícia.

E novamente a indagação. Morreu? Mas ele não era de mentira?

Hoje, certamente qualquer criança de 7 anos debocharia da minha dúvida.

Porque a infância não é mais o tempo da ingenuidade.

Mas um curto ensaio pra apreendermos uma tristeza que nunca mais irá passar.


CAETANO PROCOPIO

7 de fev. de 2008

MENINOS DO FAROL

As crianças em São Paulo aprendem a fazer arte no farol para sobreviver.

São os malabaristas sem circo, sem palco, sem mico.

Os diretores são exigentes. Pai, mãe, avós ou qualquer pessoa que seja maior e mais forte pode dirigir o espetáculo.

Pés descalços, asfalto quente.

Diz a gente grande do carro: não dou dinheiro.

Fecha os vidros, buzina e acelera.

É um meio de vida no meio da vida.

Mas a cidade ainda parece ser de todos.

Até quando a tecnologia vai deixá-los ganhar centavos no farol?

Em uma cidade que a cada segundo, dez compras são efetuadas por meio de cartões de crédito ou débito.

Será que a substituição do dinheiro pelos cartões vai acabar com a mendicância? E os cartões dos palhaços sem talento de Brasília?

Os artistas do farol ainda sorriem com os teletubbies...

Na cidade dos 30 mil milionários, vamos continuar a discutir a ética inventada pelo homem.

Pois, não há mais como pescar. Porque os peixes estão nos congeladores. Comprados por centavos e vendidos com cartões.

E os meninos do farol, não tem rio, nem peixe, nem anzol...

VANDERSON PIRES