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31 de mar. de 2008

44 ANOS DEPOIS (...)

Há exatos 44 anos era deflagrado o golpe militar que derrubaria o governo de João Goulart.

Muita coisa aconteceu depois.

Os golpistas só deixariam o poder após 21 anos.

Hoje os militares estão devidamente na caserna.

Mas uma ditadura velada ainda vive.

Camuflada no dia-a-dia difícil das pessoas.

A democracia permanece na atmosfera de liberdade, de se poder dizer o que era veementemente proibido.

O que mudou de fato?

O brasileiro continua a ter esperança, mesmo quando as condiçoes objetivas não favoreçam.

O Brasil da democracia ainda possui as desigualdades do Brasil dos Militares.

Só que antes, nada podia ser dito.

Hoje podemos falar, mas não muito mais que isto.

Só temos o discurso e quase nada de ação.

44 anos depois o Brasil ainda parece estar no mesmo pé em que encontrava-se em 31 de abril de 1964.

A diferença é que antes eu não poderia estar dizendo isto (...)


* * *

O golpe militar de 31/3/64 deu início a um período obscuro da história nacional.

No plano político decretou o fim das liberdades individuais.

A censura sobre os meios de comunicação acobertou a prática de perseguições, torturas e assassinatos por órgãos da repressão oficial.

No plano econômico, um período de desenvolvimento sob os auspícios da liberalização de capitais externos, que aliaram a modernização a um processo intenso de concentração de renda, agravado, no início dos anos 80, pela recessão decorrente do enorme endividamento do Estado.

Duas décadas após a saída dos militares do poder, o país se reencontrou com a democracia.

Mas apesar da aparente tranqüilidade institucional, nenhum dos governos civis pós-64 conseguiu implementar uma política econômica capaz de conciliar estabilidade monetária, crescimento econômico e distribuição da riqueza.

O Brasil convive com uma das maiores concentrações de renda do mundo que, de certa forma, minimizam a amplitude da abertura política e emperram o avanço das conquistas democráticas.

A ditadura, pelo menos no que tange aos seus nefastos efeitos políticos, se foi há mais de 20 anos.

Mas passados 44 anos de sua instauração ainda não nos livramos das seqüelas deixadas por suas concepções econômicas.

CAETANO PROCOPIO

19 de mar. de 2008

TENSÃO NAS TERRAS DE BOLIVAR

O que foi a crise diplomática que atingiu Colombia, Equador e Venezuela? A Colômbia acusou o Equador de dar cobertura às FARCs. E com este pretexto decidiu promover uma operação militar no território equatoriano.

Uribe trata a guerrilha como sendo terrorista (inclusive acusa a Venezuela de financiar o grupo guerrilheiro). Correa e Chavez a chamam de revolucionária. Os dois últimos são aliados políticos e dissidentes da política norte-america. O primeiro, ligado aos Estados Unidos.

A trajetória das FARCs adquiriu um perfil muito parecido ao de outras guerrilhas que conseguiram tomar o poder. Normalmente a violência justificada durante o assalto revolucionário perpassa o período de convulsão e acaba se consolidando como um “modus faciendi”.

Quatro décadas depois de surgir, da mesma forma que as revoluções socialistas apodreceram, as FARCs perderam sua essencia transformadora tornando-se sombra de experiências “revolucionárias” passadas que se valeram apenas do terror. Dificil não imaginar um hipotético controle do poder como algo semelhante ao que foi, por exemplo, o Khmer Vermelho no Cambodja.

Mas com relação ao mal estar entre os 3 países. Apesar da diplomacia ter “esfriado os ânimos” de Equador e Colômbia, por trás do incidente, há uma relação de poder muito mais vigorosa: de um lado os Estado Unidos e sua posição de hegemonia, do outro, a figura incendiária de Hugo Chavez autoproclamando-se o “libertador” da América Latina e difusor das idéias do “socialismo bolivariano”.

Claro que pensar na possibilidade de uma América Latina soberana é algo tentador. Mas não basta resgatar o significado da luta “libertadora” de Simon Bolivar. É preciso ir além e encontrar uma verdadeira identidade latino-americana na vontade comum de seus povos. Sem a batuta de qualquer líder ou pontífice para conduzí-la, do contrário, correremos o risco de reescrever as mesmas páginas do passado.

CAETANO PROCOPIO

11 de mar. de 2008

A REVOLUÇÃO VIRÁ AO ENCONTRO

Que as revoluções vindouras ressuscitem as pobres prostitutas nicaragüenses, que ao invés de dólares, pediam fuzis e munições.
E que todos possam ter ouvidos para os versos cantados pelo Rei do Cangaço:

"É lamp... é lamp...
É lamparina, é lampião,
Eu me chamo Virgulino,
Me tratam por Lampião!"

Nem os ratos vão respirar o odor corrompido do mundo!
Pois não vamos mais ter que nivelar nada com o chão.
A multidão esfalfada se renovara.
Nenhum trabalhador será chamado de salamandra, pois não precisaremos mais de petróleo.
O silêncio que brada ordens juntar-se-á as pedras que voam das mãos sem asa.
Os soldados não vão mais tiritar de frio por trás das armas.
Não vamos mais ter fome de vaca no pasto.
Deixaremos as árvores em paz.
E vamos limpar o mundo das máquinas,
Pois não podemos esperar nada dele.
Não se pode esperar nada deste mundo!
E o meu universo que só existe nas palavras,
Vai abrir o caminho, pois nenhuma porta consegue se manter fechada.
E não teremos mais dúvida de que o mal não está nas instituições, mas sim nas profundezas de nosso ser.

VANDERSON PIRES

CENA URBANA

Acordo e vejo que nada mudou.

Já era tarde e eu precisava correr...

Não tinha nenhuma vontade de dizer "bom dia".

Desviava-me dos olhares.

Queria apenas ficar quieto.

Mas ninguém parece entender que precisamos ter silêncio.

Mesmo que nada nos aborreça; não falar faz bem.

Somos sempre obrigados a ter uma opinião sobre as coisas...

E existem muitas delas que eu não quero saber de nada!

Entro no ônibus lotado. As pessoas, num ato coletivo de ignorância, disputam o mesmo espaço perto da porta. E eu quase que não consigo passar da catraca.

O meu celular toca. "Logo cedo...tenho que atender?". Sim!

O identificador de chamadas é o grande acusador. Você sabe quem está ligando. O simples ato de ignorar pode ser cruel demais. Fica a dúvida do outro lado da linha. Mais dia, menos dia, seremos cobrados. Teremos que dar satisfação. "Liguei pra você, por que não me atendeu?"

Eu não atendi. Mas alguém parecia muito querer falar comigo. Definitivamente, eu não estava disposto a atender.

Procuro respeitar muito as mulheres com TPM. Acho que sofro algo semelhante...

Ainda no busão, um idiota ouve pelo celular, sem fone, uma música bem cretina. E ainda faltavam pelo menos uns 20 minutos do meu destino final. Tento ler um livro. Mas a raiva mata a concentração.

Finalmente, com quase 15 minutos de atraso, chego a uma estação do metrô. Acelero os passos. Na minha frente um grupo com cinco pessoas, conversam tranquilamente, caminhando como tartarugas.

Vou para a rua na intenção de ultrapassar o obstáculo...

É impressionante como as pessoas sem nenhuma noção de civilidade, encontram seus pares com muita facilidade.

Logo na entrada da estação, mais um grupo resolve parar para conversar. Minha vontade era de ir correndo em direção a eles e derrubar todos.

Com muita paciência consigo chegar nas escadas. Mesmo com vários avisos de "Deixe a esquerda livre", é nessas horas que podemos entender a quantidade de analfabetos no país. Ou será apenas dislexia coletiva?

Bom, nem preciso falar que o vagão estava cheio e a maior parte se concentrava, na...na...porta!

Pelo menos eu sabia que iria ficar pouco tempo espremido ali.

Saio apressado. Só mais uma rua e chegarei ao meu trabalho. Na minha frente um fumante me defuma. Joga a bituca no meu pé.

No cruzamento um carro para na faixa de pedestres.

Respiro fundo. Conto até três...

Finalmente chego no trabalho. Nem quero contar mais...estou de saco cheio.

VANDERSON PIRES