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2 de set. de 2009

O DIREITO DE DEFESA

Evandro Lins e Silva foi um dos mais eminentes advogados deste país. Seguramente pode-se afirmar que durante décadas de militância profissional, o Tribunal do Júri foi a sua casa. Certa vez disse que seria o local onde gostaria de morrer.

As atividades do Dr. Evandro jamais se restringiram aos atributos do notório causídico. Sempre se destacou como um incansável defensor das liberdades. Esteve no “front” combatendo duas ditaduras. Sofreu perseguição devido suas convicções políticas alinhadas às causas dos mais necessitados. Apesar de se considerar um crédulo no socialismo tinha plena consciência da realidade objetiva e das limitações do processo histórico brasileiro.

Muitos perseguidos bateram à porta de seu escritório em súplica: Evandro Lins e Silva (segundo ele próprio) defendeu inumeros acusados de crimes políticos durante os períodos da ditadura varguista e do regime militar pós 1964. A ânsia e o sentimento por justiça o motivaram permanentemente, inclusive quando se envolveu em polêmicas como a do caso Doca Street. Sua aguçada sensibilidade e sua visão humanista fizeram com que se apresentasse como advogado de defesa do líder do MST, José Rainha, quando este era acusado de assassinato no Espírito Santo.

Quando mais um dia transcorria na sua vida já nonagenária, logo após retornar de Brasília, onde recebeu uma láurea da República, ao deixar o aeroporto no Rio de Janeiro, alguns passos e um súbito lapso motor o levou ao chão. E de lá não mais levantaria. Ele se foi em dezembro de 2002, peremptoriamente, sem ao menos poder exercitar o direito de defesa pelo qual sempre lutou durante toda vida.

CAETANO PROCOPIO