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28 de fev. de 2010

APOCALIPSE NOW

Horror! (...) horror! balbucia o coronel Kurtz. O corpo estendido agoniza após sofrer vários golpes da lâmina do seu algoz. A morte põe fim ao tormento. Ele não mais suportava a insanidade daquele inferno. Esperava por alguém que pudesse aliviar a sua dor.

A cena descrita é o momento culminante do filme “Apocalipse Now!”, de Francis Ford Coppola. A guerra do Vietnã transformada numa alucinação em que a delirante odisséia do capitão Willard – incumbido pelo exército americano de exterminar o coronel Walter Kurtz que enlouquecera – ultrapassa o plano da guerra. Absurdo! Este, o tema central do filme, não o absurdo do conflito em si, mas a mentira que ele representa.

A demência revelada por Coppola está próxima de nós: violência, opressão e terror moral, o mesmo que levou Kurtz à loucura e exige a uniformidade do pensamento como verdade indissolúvel. Afinal, até que ponto sanidade e lucidez são nossos consortes? Aceitar a mentira que nos ilude com a possibilidade do futuro pródigo de uma vida de conforto, sucesso profissional e se possível, fama e poder, mesmo que cada vez mais a busca por esse eldorado exija que nos refugiemos em fortalezas cercadas por muros eletrificados, ou quem sabe, tenhamos assassinos particulares para proteger nossas vidas privadas. Absurdo!

A guerra do Vietnã foi uma mentira, como a realidade iminente do século XXI. A pujança material dos dias atuais contrasta com sociedades divididas e brutalizadas pelos antagonismos do processo histórico capitalista. Esse enredo poderia perfeitamente fazer parte do universo kafkiano – o homem massacrado acaba por transformar-se num ser abjeto.

Refletir sobre a violência e suas causas invariavelmente nos leva a descobrir a mentira. E a mentira é a face oculta do horror.

CAETANO PROCOPIO