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1 de mai. de 2014

OS MÁRTIRES DE CHICAGO - O (ANTI) DIA DO TRABALHO

Em 1º de maio de 1886, operários de Chicago deflagram uma greve geral reivindicando melhores condições de trabalho. Rapidamente, o movimento se alastra por várias cidades americanas. As autoridades receosas com a repercussão dos protestos reprimem os manifestantes com extrema violência: inúmeras prisões são efetuadas, centenas de feridos, mortos.

A data acabou institucionalizada em várias partes do mundo como celebração ao dia do trabalho e uma homenagem ao trabalhador (exceto em alguns países, inclusive, os Estados Unidos, que adotaram outras). Entretanto, tal iniciativa, mais que enaltecer a importância do trabalho, possui um outro propósito que muito melhor se justifica: camuflar o conflito de classes e diluir o debate ideológico.

Adam Smith, principal teórico do liberalismo econômico, afirmava que o valor de uma determinada mercadoria seria identificado pela quantidade de trabalho nela empregados. A teoria do valor elaborada pelo economista inglês centrava no trabalho o elemento fundamental do processo de produção da riqueza. Mas o que não está devidamente explicado no pensamento smithiano são os aspectos que envolvem um outro fenômeno ligado ao processo de obtenção da riqueza: a acumulação. Bem, mas ai seria exigir muito de uma das pilastras que dão sustentação à sociedade burguesa.

A partir da segunda metade do século XIX, o capitalismo atinge a sua fase monopolista. Paralelamente, surgem os primeiros núcleos de trabalhadores organizados na Inglaterra, França e Alemanha, inspirados nos pensadores socialistas. A formação de sindicatos amplamente influenciados pela idéia de organização internacional dos trabalhadores preconizada por Marx e Engels aterrorizam as classes burguesas. Em todos os países da Europa, as manifestações proletárias são reprimidas com rigor. É somente na 2º década do século XX que irão surgir as primeiras repúblicas populares/socialistas, fruto dessa progressiva conscientização e união dos trabalhadores.

A oficialização do Dia do Trabalho em quase todas as democracias modernas teve um fundo ideológico claro de retirar-lhe o apelo político e desta forma desagregar a ação dos movimentos operários para afastá-lo do ideário marxista que representa exatamente a superação do modelo de sociedade atual através do antagonismo de classes.

A luta dos trabalhadores de Chicago ganhou o reconhecimento mundial, mas como uma plataforma mistificadora e despolitizada. O 1º de maio nasceu para ser o (anti) dia do trabalho.


CAETANO PROCOPIO