“A única função
dos pobres é a de exercitar a nossa generosidade” (J. P. Sartre).
O
capitalismo baseia-se na exploração do trabalho tendo no lucro o seu objetivo inexorável.
Sendo o capital o elemento central do processo de acumulação da riqueza, o
capitalismo é impulsionado por contradições: necessita da desigualdade para que
sua lógica funcione e possa expandir. Ao mesmo tempo, o aprofundamento desse
estado alimenta a oposição da maioria excluída que busca a supressão das
diferenças de classes.
Essa
tensão, de certo modo, foi o motor que impulsionou transformações sociais
significativas nos dois últimos séculos e produziu reações dentro da própria
esfera burguesa de poder, capazes de criar mecanismos de autocontrole nas
relações capitalistas de produção, as políticas compensatórias desenvolvidas principalmente
pelo “walfare state” - o Estado social de direito.
Apesar
de mascaradas pelas modernas tecnologias que criaram um aparente estado de bem
estar com a proliferação de inúmeros utensílios disponibilizados ao consumo pelo
mercado, a dinâmica do capitalismo não consegue por fim às mazelas por ele
mesmo criadas. A cada problema que se propõe resolver, ele reproduz outros,
exatamente por não vislumbrar nada acima da expectativa do lucro e desta forma
sempre perenizar este movimento contraditório. As sociedades ungidas à partir
das revoluções burguesas aprenderam uma
regra essencial de sobrevivência com as políticas assistencialistas.
No
Brasil, a grande desigualdade social trouxe sérios reflexos. Aliada a uma
tradição política autoritária, a incapacidade das camadas sociais menos
favorecidas arregimentarem-se a ponto de conseguirem criar um “Estado Social de
Bem Estar”, praticamente conviveram com a ausência de políticas governamentais
compensatórias, excetuando-se algumas medidas criadas em períodos específicos da
história, principalmente durante a “Era Vargas” e a partir dos recentes governos
petistas.
Em
contrapartida, um outro tipo de
assistencialismo, este de caráter privado e muitas vezes institucional, tem se
revelado eficiente aos seus instituidores. Com a extrema exposição proporcionada
pelas mídias, tornou-se quase que uma regra de conduta o exercício da
filantropia cristã. É constante a exposição de figuras ou mesmo entidades conhecidas,
nos meios de comunicação, patrocinando causas humanitárias ou de certa forma, “adotando”
seus miseráveis ocasionais. Isto pouco afeta suas realidades patrimoniais
comparado com o retorno que o marketing pessoal pode proporcionar ou mesmo como
forma de possibilitar a redução de despesas fiscais, através de programas
estatais de patrocínio às “causas sociais”. Essa caridade é bastante
conveniente por seu foco sempre estar voltada para si própria.
É
claro que não se pode apontar uma espada e indistintamente não considerar o voluntarismo
daqueles que realmente se preocupam com a condição humana. Entre algumas
ressalvas , o exemplo deixado pelo sociólogo Herbert de Souza (o Betinho) é
louvável, vindo de alguém realmente compromissado com a luta pela redução da
miséria. Entretanto, os resultados da(s) campanha(s) contra a fome são pouco significativos
levando-se em conta a dimensão do problema. O assistencialismo pode por fim a
fome de hoje, mas sem atacar as suas causas, o que fazer com a de amanhã?
CAETANO
PROCOPIO