O historiador
inglês Eric Hobsbawn definiu o “breve” século XX como a “Era dos Extremos”: um
período marcado por duas guerras mundiais, conflitos armados em praticamente
todos os continentes e revoluções sociais que produziram um morticínio jamais
visto na história.
Ao mesmo tempo
em que o mundo do século XX experimentou um fantástico avanço em todas as áreas
do conhecimento, testemunhou o esplendor da barbárie materializada em formas
cada vez mais sofisticadas de destruição.
A queda do
socialismo encerrou a guerra fria, mas ao contrário dos crédulos no “fim da
história” esta não morreu sob auspícios do liberalismo vencedor. O atentado de
11 de setembro transfere o foco das tensões para Ásia Central e consolida o
novo inimigo aos olhos do ocidente, o fundamentalismo muçulmano, que a campanha
americana no Iraque em 1991 transformou numa espécie de nova cruzada contra os
bárbaros fanáticos seguidores do islão.
Os EUA
deflagraram guerra contra o terror. Definiram o Afeganistão como alvo por
presumirem ser o esconderijo do terrorista saudita Osama bin Laden, suposto
autor dos atentados em
Nova Iorque e Washington. As provas que o governo americano
afirmou terem obtido contra bin Laden “convenceram” aos principais líderes
mundiais. Só que até hoje não foram apresentadas à opinião pública. A
Inglaterra, do Primeiro Ministro Tony Blair - espécie de porta voz americano
para assuntos externos, foi a mais efetiva aliada dos EUA na tentativa de
costurar o máximo de alianças, principalmente, com os países do oriente médio.
O conflito se
arrastou com os bombardeios diários das forças militares dos EUA. A população
americana foi diuturnamente informada do sucesso da operação “liberdade
duradoura”. Entretanto, a decantada “guerra cirúrgica”, tão alardeada pelos EUA
na guerra do golfo, não convenceu o ocidente como na década anterior, após a
comprovação de que alvos civis foram atingidos no Afeganistão.
Vencer o
terrorismo com uma ação bélica convencional é um despropósito, da mesma forma
que lançar alimentos dos aviões após os bombardeios. Mas afinal, qual o sentido
dessa guerra insana? Talvez a razão esteja com o jornalista José Arbex: a luta
contra o terror não passa de um pretexto para que os EUA possam ampliar seu
domínio econômico e político. A Ásia central ainda é uma das poucas regiões do
globo onde os norte-americanos não conseguiram exercer sua influência de forma
mais efetiva. Uma área importante para os interesses ianques devido as grandes
reservas de petróleo além da posição estratégica que ocupa na geopolítica
continental.
Durante a Era
soviética e dos regimes asseclas da revolução social, a bipolarização do mundo
em dois blocos antagônicos funcionava como argumento para o intervencionismo da
política externa americana. Com a queda do socialismo real foi necessária outra
retórica capaz de criar um novo inimigo tão ou mais nefasto que o perigo
vermelho. Se antes a dicotomia era construída em cima da disputa entre
capitalismo libertário e comunismo opressor, agora, é o ocidente evoluído e
racional que se debate com o oriente bárbaro e intolerante.
O novo milênio
em seus primeiros passos está indelevelmente marcado pela tragédia: os
atentados em 11 de setembro, o conflito detonado pelos EUA, o terrorismo
biológico nos apontam para um futuro incerto e temeroso. Se o século XX não
acabou bem, como afirmou Hobsbawn, o século XXI começou muito mal.
CAETANO PROCOPIO (7/11/01)
(publicado originalmente na página www.araraquara.com.br)