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10 de ago. de 2014

FLORESTAN FERNANDES


(no meio do inverno, eu aprendia enfim que havia em mim um verão invencível - Albert Camus)


Há 19 anos, em 10 de agosto de 1995, falecia Florestan Fernandes. Sociólogo, professor, autor de mais de duas dezenas de livros enfocando os diversos aspectos da realidade brasileira. Suas análises desmascararam a hipocrisia com que sempre foram tratadas as contradições de nossa formação social.

A enorme bagagem cultural adquirida com a meticulosa leitura dos grandes clássicos aliada à dura experiência de vida (nascido em uma família de origem humilde) alimentou o desejo por transformações sociais profundas. Foi através desse aprendizado teórico que pôde compreender a complexa dialética da dominação de classes no Brasil (levando em conta o papel desempenhado pelo imperialismo colonial) e ultrapassar os rigorosos limites impostos pela metodologia científico-acadêmica.

Sua estreita relação com a obra de Marx o possibilitou engajar-se ativamente na vida política do país como um severo crítico do "status quo". A crença na construção de uma sociedade justa e solidária motivou, desde a mais tenra idade, suas ações, e contrariando a todos modismos, jamais reformou as posições que o acompanharam por toda a vida. A lucidez do pensamento de Florestan está registrado nos vários livros e artigos que publicou.

Atento observador e profundo conhecedor dos fatos que o cercavam, opôs-se desde início à coalizão de poder que levou seu ex-aluno à Presidência da República, incidente, aliás, que lhe proporcionou enorme consternação. Evitou tecer comentários acerca da adesão de FHC às forças políticas mais reacionárias do país, em respeito ao amigo. Neste momento em que a utopia liberal atinge contornos totalitários (como sustenta José Luis Fiori), sua obra e história são importantes instrumentos de resistência ao conformismo reinante nos dias atuais.


CAETANO PROCOPIO

1 de mai. de 2014

OS MÁRTIRES DE CHICAGO - O (ANTI) DIA DO TRABALHO

Em 1º de maio de 1886, operários de Chicago deflagram uma greve geral reivindicando melhores condições de trabalho. Rapidamente, o movimento se alastra por várias cidades americanas. As autoridades receosas com a repercussão dos protestos reprimem os manifestantes com extrema violência: inúmeras prisões são efetuadas, centenas de feridos, mortos.

A data acabou institucionalizada em várias partes do mundo como celebração ao dia do trabalho e uma homenagem ao trabalhador (exceto em alguns países, inclusive, os Estados Unidos, que adotaram outras). Entretanto, tal iniciativa, mais que enaltecer a importância do trabalho, possui um outro propósito que muito melhor se justifica: camuflar o conflito de classes e diluir o debate ideológico.

Adam Smith, principal teórico do liberalismo econômico, afirmava que o valor de uma determinada mercadoria seria identificado pela quantidade de trabalho nela empregados. A teoria do valor elaborada pelo economista inglês centrava no trabalho o elemento fundamental do processo de produção da riqueza. Mas o que não está devidamente explicado no pensamento smithiano são os aspectos que envolvem um outro fenômeno ligado ao processo de obtenção da riqueza: a acumulação. Bem, mas ai seria exigir muito de uma das pilastras que dão sustentação à sociedade burguesa.

A partir da segunda metade do século XIX, o capitalismo atinge a sua fase monopolista. Paralelamente, surgem os primeiros núcleos de trabalhadores organizados na Inglaterra, França e Alemanha, inspirados nos pensadores socialistas. A formação de sindicatos amplamente influenciados pela idéia de organização internacional dos trabalhadores preconizada por Marx e Engels aterrorizam as classes burguesas. Em todos os países da Europa, as manifestações proletárias são reprimidas com rigor. É somente na 2º década do século XX que irão surgir as primeiras repúblicas populares/socialistas, fruto dessa progressiva conscientização e união dos trabalhadores.

A oficialização do Dia do Trabalho em quase todas as democracias modernas teve um fundo ideológico claro de retirar-lhe o apelo político e desta forma desagregar a ação dos movimentos operários para afastá-lo do ideário marxista que representa exatamente a superação do modelo de sociedade atual através do antagonismo de classes.

A luta dos trabalhadores de Chicago ganhou o reconhecimento mundial, mas como uma plataforma mistificadora e despolitizada. O 1º de maio nasceu para ser o (anti) dia do trabalho.


CAETANO PROCOPIO