Em
1º de maio de 1886, operários de Chicago deflagram uma greve geral
reivindicando melhores condições de trabalho. Rapidamente, o movimento se
alastra por várias cidades americanas. As autoridades receosas com a
repercussão dos protestos reprimem os manifestantes com extrema violência:
inúmeras prisões são efetuadas, centenas de feridos, mortos.
A
data acabou institucionalizada em várias partes do mundo como celebração ao dia
do trabalho e uma homenagem ao trabalhador (exceto em alguns países, inclusive,
os Estados Unidos, que adotaram outras). Entretanto, tal iniciativa, mais que
enaltecer a importância do trabalho, possui um outro propósito que muito melhor
se justifica: camuflar o conflito de classes e diluir o debate ideológico.
Adam
Smith, principal teórico do liberalismo econômico, afirmava que o valor de uma
determinada mercadoria seria identificado pela quantidade de trabalho nela
empregados. A teoria do valor elaborada pelo economista inglês centrava no
trabalho o elemento fundamental do processo de produção da riqueza. Mas o que
não está devidamente explicado no pensamento smithiano são os aspectos que
envolvem um outro fenômeno ligado ao processo de obtenção da riqueza: a
acumulação. Bem, mas ai seria exigir muito de uma das pilastras que dão
sustentação à sociedade burguesa.
A
partir da segunda metade do século XIX, o capitalismo atinge a sua fase
monopolista. Paralelamente, surgem os primeiros núcleos de trabalhadores
organizados na Inglaterra, França e Alemanha, inspirados nos pensadores
socialistas. A formação de sindicatos amplamente influenciados pela idéia de
organização internacional dos trabalhadores preconizada por Marx e Engels
aterrorizam as classes burguesas. Em todos os países da Europa, as
manifestações proletárias são reprimidas com rigor. É somente na 2º década do
século XX que irão surgir as primeiras repúblicas populares/socialistas, fruto
dessa progressiva conscientização e união dos trabalhadores.
A
oficialização do Dia do Trabalho em quase todas as democracias modernas teve um
fundo ideológico claro de retirar-lhe o apelo político e desta forma desagregar
a ação dos movimentos operários para afastá-lo do ideário marxista que representa
exatamente a superação do modelo de sociedade atual através do antagonismo de
classes.
A
luta dos trabalhadores de Chicago ganhou o reconhecimento mundial, mas como uma
plataforma mistificadora e despolitizada. O 1º de maio nasceu para ser o (anti)
dia do trabalho.
CAETANO PROCOPIO
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