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O que interessa aqui são acontecimentos peculiares ao mês de setembro. O momento mais notório nos pouco mais de cinco séculos de nosso ingresso na vida “civilizada”, é o 07/09/1822, a data da independência, que o simbolismo da historiografia brasileira nunca reservou algo além de um apego ao plano patriótico ufanista. A “libertação” nos “curou” de Portugal, mas não das relações e das estruturas que os portugueses deixaram, essencialmente, um legado de desigualdade e violência acobertado pelo manto das transformações (colonia-imperio-república) que formalizamos em uma “democracia”. Imiscuímos tragédia e farsa em um ponto comum.
O fim do período colonial não trilhou um ambiente renovado que pudesse desvelar um “projeto (autóctone) de país”, ao contrario, as mazelas deixadas pelo “pacto metrópole-colônia” sempre atuaram no sentido de impedir qualquer ensejo emancipatório. As elites aqui nascidas conseguiram se perpetuar mantendo os nexos coloniais.
A era Vargas até conseguiu atenuar este quadro, mas nenhum governo após 1930 propiciou um ambiente político estável capaz de implementar medidas que pudessem garantir um amplo programa de desenvolvimento nacional. Com o golpe de 1964 soterrou-se qualquer possibilidade de um “projeto desenvolvimentista” e a democracia brasileira revelou seus verdadeiros “pés de barro”.
Sem perder “o fio da meada” e trazer à memória que nossos “setembros negros” (tragédia e farsa) se encontraram novamente em 06/09/2018, com o insólito incidente da facada no ainda candidato à presidencia, o episódio praticamente ajudou definir a eleição.
Três anos depois, em, 07/09/2021, nas ruas de várias cidades, a “apoteose” burlesca, o nosso arremedo do XVIII do Brumário (e do Luis Bonaparte). A tragédia de 1822 e a farsa de 2021 estão no espelho e se reconhecem. No pano de fundo contrapondo-se a este cenário, a mera verborragia expressa nos discursos dos oportunos protetores das instituições e defensores recorrentes da democracia, com a mesma e repetida retórica acaciana.
Recentemente as lembranças me trouxeram o refrão de uma musica muito conhecida nos primórdios da hoje moribunda “Nova República”: “Brasil, mostre a tua cara!”. Ela sempre esteve à mostra. Somente mudou sua maquiagem.
CAETANO PROCOPIO