A convivência entre judeus e palestinos nem sempre foi marcada por conflitos. Mais do que um problema com raízes religiosas, as tensões entre os dois povos é um fenômeno relativamente recente, com origem nas conturbadas relações políticas do século XX.
Depois da
dispersão promovida pelos romanos no Século II, comunidades judaicas, que
acabaram sob domínio árabe devido à expansão do islamismo a partir do século
VII, eram toleradas pelo regime dos califas. A guerra santa propunha uma conquista
pela fé sem que os dominados fossem massacrados, como ocorreu durante as
cruzadas, pelas forças dos exércitos cristãos.
A semente da
discórdia foi plantada com o início do movimento sionista entre os séculos XIX
e XX. O retorno dos judeus à palestina passou a ser visto pelos árabes como uma
ameaça quando os propósitos das nações hegemônicas do ocidente (EUA, França,
Inglaterra) começaram a prevalecer na constituição de um estado judeu. Com o
final da 1ª Guerra Mundial, o Oriente Médio se viu livre do controle turco
passando a ser administrado pela França e pela Inglaterra. A mal sucedida
experiência britânica no controle da palestina acabou sendo “compensada” com a
criação de Israel, que se viabilizou como uma espécie de farol da política estadunidense
na região.
A proposta da ONU
de divisão da palestina em dois estados, um judeu e outro palestino, nunca se
efetivou. Em 1948, Israel surgiu como nação, consolidando-se com o decisivo
apoio dos norte-americanos. Os palestinos eram a maioria que habitava o
território, mas com as migrações em massa de judeus principalmente fugidos da
Europa devido as perseguições, muitos acabaram expulsos de suas terras para
países vizinhos e os que permaneceram se transformaram em refugiados dentro de
sua própria casa.
Não se deve
confundir a aspiração judaica que almejava o retorno à “terra prometida” (conforme
tradição de antiga crença hebraica) após séculos de diáspora, com a doutrina
sionista de construção de um país amparado por uma concepção nacionalista e militar,
excludente dos palestinos. A estes, reduzidos à condição de párias, não há
qualquer perspectiva e a violência brutal contra sua população explorada, fomenta
o ódio que impele grupos armados como o Hamas a agirem também de forma sanguinária.
Ao mesmo tempo, essa lógica macabra retroalimenta o discurso justificador da
dominação israelense, fortalecendo grupos políticos ultraconservadores ainda
que, representados pelo bastante desgastado primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu.
O ataque desferido
pelo Hamas é apenas mais um capítulo nesta longa batalha que dura mais de sete
décadas. Agora, Israel volta todas suas armas contra a população palestina sob
o pretexto do combate ao terrorismo, mas o que de fato a história revela é a
completa incúria acerca da real situação dos palestinos, absolutamente excluídos
desde o plano divisor proposto pela ONU. Após o nascimento de Israel a ocupação
acabou tacitamente aceita pela comunidade internacional. Jamais foram tomadas medidas
concretas para garantir a autonomia territorial palestina, nem mesmo a adoção
de represálias contra os massacres israelenses a eles impostos.
Neste momento, a
escalada do conflito não permite que o passado longínquo de convívio possa
novamente ser resgatado. Imprescindível que Israel cesse as ações militares e
desocupe os territórios pondo fim ao horror, entretanto, não é esta a
perspectiva que se delineia no horizonte. Além da apatia global em condenar as
ações israelenses, os EUA e as principais nações europeias declararam apoio a
Israel. Os governos estadunidenses sempre se valeram da incondicional defesa dos
israelenses, tendo-os como fortes aliados de suas políticas intervencionistas
na região.
Enquanto as ações
de Estado estiverem decidindo o destino das populações envolvidas seguirá o banho
de sangue, principalmente palestino. Não há como falar em uma paz verdadeira para
todos. Esta só será viável quando figuras como Joe Biden e Benjamin Netanyahu fizerem
parte da história que um dia o mundo deverá apagar.
CAETANO
PROCOPIO