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21 de set. de 2006

VOTO NULO, UM DIREITO DEMOCRÁTICO

Dentro do estruturalismo de cada um, as palavras ecoam seus sentidos diversos, onde todo discurso tenta compor uma parte da história.São verdades atemporais que envenenam, manipulam e transformam os indivíduos.
Somos assombrados pelo fantasma da idéia mentirosa da democracia. Ainda acreditamos que nesse quadro não somos apenas meros espectadores, e sim, protagonistas em horário nobre.
Por conseguinte, criam-se verdadeiros revolucionários de campanha eleitoral, todos prontos e armados com seus argumentos e o orgulho momentâneo de ser um “cidadão consciente”.
Infelizmente, esses, após as eleições, voltam à tranqüilidade do discurso conservador, mesmo tendo expressado idéias eleitorais, que são dignas de comparação ao fanatismo religioso.
Dessa forma, mantemos a combinação atual de duas estruturas inseparáveis uma à outra, a força produtiva (a subjugada) que trabalha toda a vida, sem causa, e que mantém uma minoria dominante. Daí chegamos aos seguintes números: pouco mais de 200 pessoas, em um mundo com mais de 6 bilhões, detém de 45% de todo o dinheiro que existe.
Mas, mesmo nessa lástima, o escapulário traz a fé e, de tempos em tempos, esperamos uma mudança vinda de um messias na terra. Um ser iluminado que vai transformar toda a realidade para assistirmos, na comodidade do lar, o mundo perfeito exibido pela TV.
E assim, elegemos nossos “representantes”, delegando a eles as responsabilidades que cabem somente a nós. E no entanto, as promessas, que por anos e anos são as mesmas, e que na verdade são apenas direitos básicos de todos, saúde, educação, moradia etc, se transformam em comédia diária. A única reação que tenho quando vejo alguma propaganda política é o riso. Chega desses discursos lugar-comum, basta!
Não há como haver uma mudança substancial onde a relação da produção capitalista transforma cada vez mais a maioria da população em miseráveis. Não adianta escolher o “menos pior”. A que ponto chegamos?? Eu não quero ser representado dessa forma. Tenho o direito de escolher ou não. Afinal, esse não é o cerne da democracia?
Temos que nos educar por meio da liberdade. Se não consigo encontrar um candidato capaz de mudanças, tenho o direito de não escolher. Isso não me tira a responsabilidade e nem me abstém de coisa alguma, pelo contrário, contribui ainda mais para minha autonomia, onde a maior conseqüência recai sobre a solidariedade. Todos nós temos o poder da mudança social. Não podemos acreditar que uma eleição seja realmente a solução para os problemas sociais. E é isso que acontece. Existem outras formas de pensar o mundo. O mundo não se resume a ditaduras ou democracia. Pensarmos somente nessas duas formas como opção é obscurantismo.
Ver o país nesse estágio deprimente de injustiças me faz por em dúvida nossa capacidade de discernimento. E, já que não sabemos o que é melhor para nós mesmos, voltamos ao estado primitivo da consciência. Isso faz nascer as “raposas do poder”. Nós os criamos com o voto.
Compactuo com a fala de Errico Malatesta, onde ele diz que não incide no basismo segundo o qual “as massas têm sempre razão” ou “a voz do povo é a voz de deus”. Faz-se necessário, como objetivo, lutar para que as pessoas se libertem e consigam ver a luz ao invés de somente sombras.
Por isso, não vou votar em ninguém porque não me reconheço nesses pseudo- representantes do povo. Tenho esse direito e ninguém poderá julgá-lo com frases de efeito e nem me acusar de não ser cidadão, pois, como diz Deleuze: “a vida ativa o pensamento e o pensamento, por seu lado, afirma a vida”. E eu procuro afirmar a vida de acordo com as minhas responsabilidades, não delegando a ninguém o direito de escolher o que é melhor para a minha vida.

VANDERSON PIRES

10 de set. de 2006

NOVAMENTE 11 DE SETEMBRO

Acabava de chegar em casa, quase meio dia. A TV ligada no noticiário em “edição extraordinária”. Num primeiro momento não consegui perceber o que estava acontecendo. A voz atônita do apresentador e as imagens de um edifício em chamas. Notei que era uma das torres gêmeas de Nova Iorque. A outra já estava no chão. De repente a segunda desaba. O narrador não consegue manter a placidez e aflito ecoa: “meu Deus, esta caindo!”.

As cenas dos aviões se chocando com os prédios me impressionaram profundamente. Por um instante tentei imaginar o que seria estar em Nova Iorque, ao lado daquelas pessoas desesperadas, desnorteadas com o mundo desmoronando sobre suas cabeças.

A todo momento me indagava como tudo aquilo poderia estar acontecendo. Depois das explicações, razões, justificativas, exaustivas repetições e ilações, nada, nenhuma luz ou compreensão que pudesse me satisfazer.

Comecei imaginar nossas vidas, cidades, as maravilhas do mundo moderno. Para quê? O que representa tudo isso se dia a dia nos matamos?

Só então pude perceber que quando caíram as duas torres, muito mais que o prestígio, a pujança e a soberba norte americanas, foram abaladas. Era nossa própria civilização que estava sendo soterrada nos destroços do WTC. Nosso mundo de aparências ruía, nossa felicidade insensata agora se tornava uma agonia sem fim.

E vejam só, não é que Nietzsche, mesmo perturbado pela demência progressiva, há tempos nos avisara sobre a falência das certezas seculares que insistimos perpetuar. A civilização crista-ocidental padece dos males e dilemas que ela mesma criou.

E aqui neste lamento, vivo a complacente e irreal tranqüilidade do meu convívio e, novamente, vejo passarem as imagens daquele 11 de setembro de 2.001.

CAETANO PROCOPIO

11/09/1973 – O VIÉS

O 11 de setembro possui um viés para os norte-americanos.

Eles jamais poderão se considerar unicamente vítimas deste fatídico dia.

28 anos antes das torres gêmeas sucumbirem em Nova Iorque, os Estados Unidos ajudaram promover um golpe de Estado que depôs o governo do presidente Salvador Allende.

E por quase 17 anos, o Chile viveu sob a sombra de uma das mais sangrentas ditaduras da América do Sul.

A história é assim, nem sempre os carrascos são apenas carrascos e as vítimas, somente vítimas.

CAETANO PROCOPIO