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31 de ago. de 2007

FELINAS

As mulheres são como os gatos.
Seres independentes.
Felinas, astutas, predadoras...
Brincam, quando querem brincar.
Matam por prazer.
Porque não são carnívoras, são antropofágicas.
Sabem dormir em silêncio.
Escondem-se quando a procuramos.
Aparecem no momento de aparecer.
Lambem o pelo,
Sentem o gosto,
Beijam o rosto...
Língua áspera, rabo longo.
Seios para amamentar.
Gatas, mulheres, felinas
Nunca param de brincar.

VANDERSON PIRES

A VELHA AQUIDABAN

Não faz muito tempo,

caminhava pela Aquidaban.

A velha rua da minha infância.

As pessoas que outrora a fizeram,

abandonaram-na.

Algumas buscando uma nova vida,

outras deixando esta em definitivo.

Hoje ela não mais parece a mesma rua.

Deste sentimento nostálgico,

não consegui fugir quando por ela passei.

Como se tentasse vasculhar algo naquilo que já fui.

A rua Aquidaban não é mais aquela da minha infância.

Lá ficou o menino que jogava bola na rua e se escondia nas folhagens da casa da Dona Iracema.

Apenas a lembrança de uma vida que há muito deixou de existir.

                                                                                                              CAETANO PROCOPIO

27 de ago. de 2007

"M" DE REVOLUCIONÁRIO


Faz tempo que assistimos "O Encouraçado Potemkin" pela primeira vez. Anos. Nem nos lembramos quantos. Provavelmente foi no início da década de 1990. E desde aquela época uma coisa nos chamou a atenção. Interessados em conseguir informações sobre o brilhante diretor de um dos filmes mais importantes da história do cinema, acabamos nos deparando com uma curiosidade. Sergei M. Eisenstein era o nome dele. Mas, o que era M.? M. de quê? Pesquisamos. Procuramos em almanaques, em guias, revistas e nada. Desapontados por causa de uma futilidade, um dado menor. Em nossas buscas ficamos conhecendo um pouco mais da vida e obra de Eisenstein.

Nascido russo em 1898, morto após um ataque cardíaco 50 anos depois, realizou algumas das mais significativas obras do cinema, entre elas "O Encouraçado Potemkin" e "Outubro". Foi quem talvez melhor soube definir o conceito de revolução estética inovando a técnica cinematográfica com efeitos que até hoje são reconhecidos pelo impacto que produziram. Na seqüência do massacre nas escadarias da cidade de Odessa (O Encouraçado Potemkin) o diretor procura criar uma atmosfera de espanto no público. E consegue. O cinema "eisensteiniano" é a aplicação de uma estética inovadora à teoria revolucionária capaz de espelhar a ruptura do processo histórico.

A obra de Eisenstein não se limitou à propaganda política da revolução. Ela foi além , ao buscar uma interação da imagem com o espectador. Essa fórmula dinâmica que convida o público a participar emocionalmente da cena provocou irritação nos líderes soviéticos. O stalinismo exigia uma "arte sem alma", funcionando unicamente como uma apologia aos feitos extraordinários do regime.

Resultado: o exílio e com ele "Que Viva México" - obra inacabada relatando aspectos da história desse país. Dois outros filmes também merecem destaque: "Alexander Nevsky" e "Ivan, o Terrível". Com eles, encerrou-se a odisséia de Eisenstein.

Navegando despretenciosamente pela Internet, descobrimos talvez o que seja para nós a informação mais importante deste texto: o M. mudo, indecifrável do nome de Sergei Eisenstein é a abreviação de Mihailovich.

CAETANO PROCOPIO e MARCELO TEIXEIRA

AOS AMIGOS QUE FICAM...

Onde estará agora aquele meu amigo,
Que trocou as primeiras palavras em sala de aula
No primeiro dia de escola?
Onde estará aquela turma que se reunia para jogar futebol na rua?
E aquele outro amigo, que por ser mais velho, falava das mulheres e seus desejos?
Onde estarão todos eles, já que alguns nem mesmo a minha memória pôde guardar?
Será que em algum momento eles ainda se lembram de mim?
E se lembram, será que sentem saudade?
Como é difícil manter uma amizade verdadeira. Como é fácil esquecer e ser esquecido.
Conhecer pessoas, fazer colegas, eis uma tarefa simples.
Dizer "ah, vamos marcar algo", é uma doce mentira em que todos fingem acreditar.
Mas na hora que tudo está escuro e a vida mais parece um campo de batalha,
Quando somos feridos e em nosso jardim as flores estão secas
E descobrimos que a mulher que amamos não era uma amizade,
Porque amigos verdadeiros não traem.
E que colegas são apenas conhecidos que podem nem gostar de nós...
Onde estarão meus amigos? !
No trabalho, em casa, cuidando dos filhos, preocupados com as contas do mês?
Que em minha vida tudo tenha passe livre. Dou o direito de ir e vir aos meus amores, ao meu desejo, aos colegas, enfim. Mas aos meus poucos amigos que ficam dou apenas o direito da cumplicidade, do diálogo, das tristezas e alegrias... e nada mais.

VANDERSON PIRES

22 de ago. de 2007

SONHOS

Estava deitado, sonolento. Ouvi algo. Um ruído que vinha da minha janela. Levantei. Pés descalços, o chão estava frio. Meu coração ficou acelerado pelo movimento abrupto. Abri a janela para ver o que me incomodava. Subitamente um forte vento me arrancou como uma folha de uma árvore solta, leve e sem rumo... Tentei me agarrar a algo, mas foi inútil. Durante algum tempo, não sei ao certo quanto, fui levado... Ouvi um som estranho. Eram vozes talvez. Fiquei com medo. E elas aumentavam e iam ficando mais e mais perto de mim. Um quadro negro apareceu na minha mente, e eu apaguei...
Abri os olhos, percebi que estava embaixo de uma grande árvore. Ao meu redor apenas... nada! Meus olhos não reconheciam aquele lugar. Meus sentidos atordoados não tinham mais nenhuma razão. Era eu e o nada. Aos poucos ouvi novamente aquelas vozes que repetiam... sim, não. Elas reverberavam em todo o meu corpo. Algumas imagens começaram a me assombrar. Logo percebi que aquele lugar era o refúgio de tudo aquilo que eu não vivi. O largo de uma outra vida. Uma vida paralela, onde tudo era reproduzido ao contrário das minhas decisões. Era como se fosse uma segunda chance. Ah! Como eu chorei quando comecei a ver... Como chorei ao perceber o quanto a minha vida teria mudado, se, ao invés de eu ter ido pela direita, tivesse ido para a esquerda. Quantos sim que eram para ser não. Quantos não que eram para ser sim. Logo uma angústia inundou o meu ser. Comparei meus mundos. Novamente eu chorei.
Durante um tempo eu revi tudo que já tinha vivido. Naquele momento eu tinha sido sorteado pela natureza. Ela me deu uma oportunidade de avaliar-me. Eu tentei ser forte. Olhei as imagens, revi meus erros, vibrei com meus acertos... e vi que a vida não possui certo nem errado. Percebi que não importava o meu rumo. Porque a essência era sempre a mesma. Como se a vida fosse dividida em: coisas que podemos mudar e coisas que apenas devemos aceitar. Mas eu nunca fui resignado. Nunca me conformei com as coisas da vida. Sempre lutei pelo que amei, pelo que sonhei e acreditei. Mas nessa sessão sobrenatural pude perceber que eu era uma peça solta em um mundo movimentado e abalado constantemente. Eu já não conseguia parar de chorar. E a cada lágrima, um pouco de mim escorria pelo meu rosto. Era como se meus pensamentos já não fossem mais meus. E o sentimento que causa o choro, expelia o que eu sentia. Aos poucos fui ficando leve. Uma paz que eu nunca tinha sentido antes me trouxe ao meu mundo. E, quando nenhuma lembrança do outro mundo estava mais em minha mente, eu acordei. E já não tinha mais vontade de chorar. E voltei a dormir.

VANDERSON PIRES

18 de ago. de 2007

A ARTE DO ENCONTRO

O “poetinha” escreveu que “a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida”.

Estava coberto de razão.

E de todos os encontros apenas um é certo: a morte.

Minha biografia será a do Fernando Pessoa.

Se um dia alguém for contá-la, terá apenas para si o dia do meu nascimento e o da minha morte.

Todos os demais serão meus.

Viver é fazer das escolhas uma necessidade permanente.

 Por isso elas jamais serão certas ou erradas e sim essenciais.

A morte nos espera num encontro inderrogável.

Mas até que ela nos chame, temos muito o que fazer.

E é preciso.


CAETANO PROCOPIO

13 de ago. de 2007

ESPELHO E OLHARES

O tempo. Ele clamou pelo tempo. Quando seus pensamentos eram pregos enferrujados, cravados em sua mente. Estava deitado e ao seu lado Ela dormia. Fitou-a com ternura, acordou-a e pediu para que segurasse a sua mão. Ela pensou em questionar seus pensamentos. Mas percebeu que de nada adiantaria perguntar-lhe algo. Apenas o observou e sorriu. De súbito deu um salto da cama e foi até o espelho. Colocou as mãos na cintura e como uma menina de cinco anos perguntou: você me acha bonita? Nesse momento seus pensamentos clarearam como um relâmpago. Seus olhos a seguiam levemente. Com calma levantou e ficou ao seu lado em frente ao espelho. "Eu posso ver a tua alma", disse Ele. E continuou a olhá-la. E ela é bonita? Mais uma vez o silêncio e a observação pairavam sem julgamentos. Ele a tocou no rosto. Escorregou seus dedos levemente até seus seios. Percebeu que sua pele arrepiou-se. "Você é capaz de me ver além da imagem no espelho?", disse Ele.
Ela, sem hesitar, respondeu que sim. Instintivamente suas mãos entrelaçaram-se. Naquele momento pouco importavam as respostas. Voltaram para a cama, sem pressa. Um olhar em frente ao outro. Como um espelho refletindo sua própria imagem. O tempo não tinha mais importância. Apenas o cheiro, o toque, o beijo, os lábios úmidos, o calor dos corpos...o encaixe natural. O cansaço e a leveza da alma. O desejo renovado. Era uma noite de domingo...

VANDERSON PIRES