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OS ESPARTAQUISTAS
DE INDISCRIÇÕES A INSURREIÇÕES (...)
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9 de mar. de 2024
O LUGAR VAZIO
24 de fev. de 2024
A MORTE SOCIAL
Enfim, eis os dilemas que em certos momentos remetem minha imaginação à figura de um eremita, como uma ilusão desesperada diante da inviabilidade de um mundo que talvez seja impossível e a cada dia se mostra ainda mais hostil.
24 de out. de 2023
UMA LUTA FRATRICIDA
A convivência entre judeus e palestinos nem sempre foi marcada por conflitos. Mais do que um problema com raízes religiosas, as tensões entre os dois povos é um fenômeno relativamente recente, com origem nas conturbadas relações políticas do século XX.
Depois da
dispersão promovida pelos romanos no Século II, comunidades judaicas, que
acabaram sob domínio árabe devido à expansão do islamismo a partir do século
VII, eram toleradas pelo regime dos califas. A guerra santa propunha uma conquista
pela fé sem que os dominados fossem massacrados, como ocorreu durante as
cruzadas, pelas forças dos exércitos cristãos.
A semente da
discórdia foi plantada com o início do movimento sionista entre os séculos XIX
e XX. O retorno dos judeus à palestina passou a ser visto pelos árabes como uma
ameaça quando os propósitos das nações hegemônicas do ocidente (EUA, França,
Inglaterra) começaram a prevalecer na constituição de um estado judeu. Com o
final da 1ª Guerra Mundial, o Oriente Médio se viu livre do controle turco
passando a ser administrado pela França e pela Inglaterra. A mal sucedida
experiência britânica no controle da palestina acabou sendo “compensada” com a
criação de Israel, que se viabilizou como uma espécie de farol da política estadunidense
na região.
A proposta da ONU
de divisão da palestina em dois estados, um judeu e outro palestino, nunca se
efetivou. Em 1948, Israel surgiu como nação, consolidando-se com o decisivo
apoio dos norte-americanos. Os palestinos eram a maioria que habitava o
território, mas com as migrações em massa de judeus principalmente fugidos da
Europa devido as perseguições, muitos acabaram expulsos de suas terras para
países vizinhos e os que permaneceram se transformaram em refugiados dentro de
sua própria casa.
Não se deve
confundir a aspiração judaica que almejava o retorno à “terra prometida” (conforme
tradição de antiga crença hebraica) após séculos de diáspora, com a doutrina
sionista de construção de um país amparado por uma concepção nacionalista e militar,
excludente dos palestinos. A estes, reduzidos à condição de párias, não há
qualquer perspectiva e a violência brutal contra sua população explorada, fomenta
o ódio que impele grupos armados como o Hamas a agirem também de forma sanguinária.
Ao mesmo tempo, essa lógica macabra retroalimenta o discurso justificador da
dominação israelense, fortalecendo grupos políticos ultraconservadores ainda
que, representados pelo bastante desgastado primeiro-ministro Benjamin
Netanyahu.
O ataque desferido
pelo Hamas é apenas mais um capítulo nesta longa batalha que dura mais de sete
décadas. Agora, Israel volta todas suas armas contra a população palestina sob
o pretexto do combate ao terrorismo, mas o que de fato a história revela é a
completa incúria acerca da real situação dos palestinos, absolutamente excluídos
desde o plano divisor proposto pela ONU. Após o nascimento de Israel a ocupação
acabou tacitamente aceita pela comunidade internacional. Jamais foram tomadas medidas
concretas para garantir a autonomia territorial palestina, nem mesmo a adoção
de represálias contra os massacres israelenses a eles impostos.
Neste momento, a
escalada do conflito não permite que o passado longínquo de convívio possa
novamente ser resgatado. Imprescindível que Israel cesse as ações militares e
desocupe os territórios pondo fim ao horror, entretanto, não é esta a
perspectiva que se delineia no horizonte. Além da apatia global em condenar as
ações israelenses, os EUA e as principais nações europeias declararam apoio a
Israel. Os governos estadunidenses sempre se valeram da incondicional defesa dos
israelenses, tendo-os como fortes aliados de suas políticas intervencionistas
na região.
Enquanto as ações
de Estado estiverem decidindo o destino das populações envolvidas seguirá o banho
de sangue, principalmente palestino. Não há como falar em uma paz verdadeira para
todos. Esta só será viável quando figuras como Joe Biden e Benjamin Netanyahu fizerem
parte da história que um dia o mundo deverá apagar.
CAETANO
PROCOPIO
1 de out. de 2023
FEITIÇO
Celular, carro ou outro objeto qualquer
Viver para consumir e não o contrário
A ciência, limitada pela realidade de classes, sujeita-se a estas contradições
CAETANO PROCOPIO
1 de set. de 2023
MUNDO EM TRANSE
Um planeta em tensão permanente
CAETANO PROCOPIO
6 de jul. de 2023
A CASA DOS ECOS
No habitat solitário, o silêncio perdura
Alguns sons interrompem seu transcurso
O espaço, as paredes, nas surdas respostas, denunciam o vazio
Uma casa ausente nem mais serve às lembranças
Seus cômodos vagos estão imersos no esquecimento
Parecem dizer: é preciso partir!
Buscar um novo lugar e seguir os dias
Para poder recordar o que foi vivido
E viver o que for preciso.
CAETANO PROCOPIO
25 de jun. de 2023
A LÓGICA DA RAZÃO INSANA
Quando o liberalismo econômico se utilizou dos
conceitos de John Locke para fundamentar as relações de reprodução da vida
material, havia um sentido norteador. Smith e Ricardo tinham nos direitos naturais
uma pedra angular justificadora do mundo que se avizinhava.
Este novo universo trazia uma fabulosa transformação
no modo de vida das pessoas que poderia superar todo passado sombrio de
escassez e privações. As lutas incessantes e vitoriosas pela obtenção da riqueza
já não mais se concentravam nos poucos nababos com brasões, relegando a massa à
dominação e mera sobrevivência. Agora, os indivíduos não tinham mais seus
destinos orientados por uma revelação divina e o mais comum dos mortais também
estaria apto para concorrer à fortuna e à acumulação.
Adam Smith acreditava que esta nova perspectiva
individual e concorrencial traria prosperidade. Uma dinâmica revolucionária que
acabaria por atingir a todos. A humanidade nascente apreendia a si e superava
as “trevas” através do livre jogo do mercado. Um outro horizonte se abria com
amplas possibilidades a todos, um progresso jamais visto inevitavelmente levaria
os “homens” a outro patamar de desenvolvimento. A produção de bens não estava mais
limitada às vicissitudes da natureza e novas necessidades surgiram.
As mudanças em marcha inspiraram um otimismo e uma fé absoluta
no conhecimento. A verdade revelada pela ciência e a história condenaria os
homens ao perpétuo avanço, o destino enfim seguiria a luz da civilização. Entretanto,
tal sorte se mostrou real apenas para uma parcela dos viventes, já que à margem
desta explosão havia os infortunados que expropriados dos negócios, somente
tinham a oferecer sua força de trabalho. A estes, os ventos não soprariam favoravelmente
e a vida não lhes reservaria grandes conquistas. Mas muito pior, ao sul do globo,
onde o espírito empreendedor não se deu sob auspícios do iluminismo e sim com o
estampido das armas e o uso corriqueiro da violência. O domínio colonial explicitou
todas as contradições de uma universalidade que só se realizaria no discurso
teórico, na prática seriam reproduzidas e intensificadas formas de exploração
anteriores. A realidade não deixou de refletir os anseios de uma classe social que
define seus paradigmas, sua hegemonia e molda os parâmetros da sociabilidade
segundo suas aspirações e objetivos.
Neste sentido, a lógica imperante é a da mercadoria
porque através dela que se da a finalidade deste processo: o lucro! A dicotomia
da reprodução capitalista se materializa em um enorme dinamismo na produção de
bens ao mesmo tempo que a utilização não se dá de forma igualitária, exatamente
pelo seu funcionamento paradoxal exigir uma intensa circulação das mercadorias mas
também a necessidade de extração de valor do trabalho para produzi-las, ou
seja, quem produz não se beneficia do que produz e a desigualdade jamais deixou
de existir no plano real mas mistificada pela identificação ideológica dos
direitos naturais consagrados na sociedade civil moderna. A democracia, assim, se
torna uma espécie de altar da contemporaneidade,
onde seus termos estão afastados de qualquer questionamento concreto, definidos
formalmente em diplomas legais garantidos como normas jurídicas comuns, regularizam
a convivência entre os cidadãos, mesmo que estes tenham profundas diferenças
materiais. A abundância e opulência de poucos se normalizam frente a carência
de muitos, como sendo algo natural que se estrutura nas relações.
Desta forma, perde-se o sentido ético do convívio uma
vez que todo sistema produtivo não se dá em razão das reais necessidades humanas,
mas sim como elemento de valorização do capital, o verdadeiro processo
controlador da objetividade e definidor da subjetividade. Tomemos aqui um
exemplo singelo para ilustrar a questão: imaginemos o consumo de ovos.
Desnecessário discorrer sobre sua utilidade, por ser um alimento consumido até mesmo em escala mundial. A
considerar que existam amplas regiões do globo onde ainda haja fome, por qual
razão um produtor deste insumo deixaria de fazê-lo devido ao encerramento de
suas atividades por ter atingido a situação de falência? Pelo fato de não ser o
seu valor de uso (necessidade) essencial para sua produção, mas sim o seu valor
de troca (mercado). Por mais que exista a premência por determinado produto, se
uma empresa não conseguir eficiência negocial para auferir lucro, seu destino é
a extinção! É este o significado fundamental que irá definir sobre a
viabilidade ou não de um determinado bem continuar ser produzido.
Portanto, desmascarado um dos mitos dos apologistas do
mercado, pois a eficiência deste apenas
ocorre quando a alocação de recursos se faz urgente para garantir primeiramente
a acumulação e os desejos do “pobre” consumidor acabam se convertendo em mero
elemento participativo do processo, mas o estímulo ao individualismo hedonista é
imprescindível naquilo que garanta a permanente circulação das mercadorias. A
volúpia consumista se torna imperativa para garantir a sobrevivência deste
sistema. Assim, uma civilização que apesar
da produção da abundância convive com a profunda escassez de parcelas da
população global está fadada a agonizar e a se barbarizar. Sua ética
irrefutável é a da competição, que impede a convivência genuinamente solidária
e exige a primazia da vida privada na qual as questões individuais/familiares
se tornam soberanas, ou seja, o patrimônio ocupa o centro de toda dinâmica
pessoal e o contato com os outros acaba se revelando apenas um detalhe dentro
deste vórtice.
O único mundo possível que se vislumbra é o de crises intermináveis
(sociais, econômicas, climáticas, sanitárias etc) mas que nas suas gêneses
possuem um dínamo comum: o modo de reprodução social do capitalismo. Sua superação
está na ordem do dia como alternativa de sobrevivência da própria humanidade, já
que todas as instabilidades vividas possuem, no seu âmago, suas determinações e
não há espaço onde reine equilíbrio ou paz duradouras, mas tensões e conflitos
promovidos pelo seu movimento permanente de expansão. A finitude do mundo contrasta
com a necessidade do contínuo crescimento, na busca incessante por recursos
naturais exploráveis que irão despejar uma infindável quantidade de produtos no
mercado, mas que nunca servirão para garantir o bem viver de todos.
Esta realidade é, na sua essência, alienada porque definida
por um movimento que escapa dos propósitos humanos e, por isso, independe destas
determinações. Não há panorama, dentro da esfera das relações vigentes, que
possa transformá-las, suas orientações aceitam unicamente a convivência privada
e o espírito competitivo, ao arrepio da igualdade material entre as pessoas,
imperativa para que as individualidades floresçam substantivamente.
O desenvolvimento capitalista permitiu a emancipação da humanidade que se viu livre do pleno jugo à natureza, ao mesmo tempo que revolucionou a produção de bens em escala jamais vista na história, também germinou contradições insolúveis por sua reprodução ter como fundamento, a própria autovalorização. Não há como corrigi-lo porque esta sua lógica mais elementar. A única possibilidade é superá-lo para juntamente com ele sepultar este modo de vida insano.
CAETANO PROCOPIO
20 de jan. de 2023
PRIMAVERA TARDIA
As flores amarelas que sempre surgiam em setembro
Brotaram no inusitado dezembro
Junto com um inverno intempestivo
Chuva, frio, vento, ao invés do sol e do calor abrasadores
A natureza parece aturdida com tempos tão tenebrosos
O estranhamento das estações coincide com a convergência de convicções
Dias de delírio defronte quartéis
Transformados em templos patrióticos
Onde devotos se aglutinaram em louvores (entre hinos e orações) por intervenção
Não houve a Revelação pela farda
A turba terminou sem o “capitão”
E a horda profanando, destruindo
A rebelião sem razão
Hoje se o clima não encontra mais seu sentido
Menos ainda nossos patrícios
CAETANO PROCOPIO
22 de dez. de 2022
A RAZÃO EM CÓLERA
Creio ter utilizado o termo bolsonarismo pela primeira vez nos primórdios da campanha eleitoral em 2018. Passados mais de 4 anos desde então, o “governo” Bolsonaro nos deixa como legado não apenas o rastro de destruição, mas a completa putrefação da República e suas instituições.
https://www.instagram.com/ricardocruz70/
O
fenômeno bolsonarista, se é que podemos assim chamá-lo, possui peculiaridades
que refletem aspectos do nosso desenvolvimento nacional, mas também se conecta à
nova onda conservadora global, reflexo da profunda crise do capitalismo em sua
fase “neoliberal/pós-moderna”. Esta “nova
extrema-direita”, aqui no Brasil, se inspira em velhos lemas nazi-fascistas que
não diferem daqueles deflagrados em outros movimentos importantes da história do
país, como no Estado Novo (principalmente com o integralismo) e no golpe de
1964: a defesa da familia, da propriedade, da liberdade individual e o combate à
ameaça comunista.
Mas o que essencialmente caracteriza estes “ressurgimentos”
em escala planetária, apesar das peculiaridades locais, é que reproduzem os
discursos contra minorias, estrangeiros, refugiados, impingindo a tais grupos a
responsabilidade pela crise economica, a falta de emprego ou mesmo a redução de
salários e do padrão de vida médio nos respectivos países. Criam-se inimigos
e os associam às suas contendas mascarando as reais contradições nas
relações de produção capitalistas. Desviam a atenção acerca da centralidade do
problema, identificada nas divergências inconciliáveis entre capital-trabalho,
que dissolvidas no processo de reestruturação produtiva, ampararam a crescente
precarização das atividades laborais em marcha principalmente à partir da
década de 1990. Atacam aqueles elementos que não são os verdadeiros agentes da disputa
para exatamente escamotear a realidade, uma vez que hoje, o grande óbice à expansão
do lucro, é o aparato estatal-protetor dos direitos trabalhistas, resquício do
apogeu social-democrata que o capitalismo, à partir das últimas décadas do século
XX, busca superar.
Em um período de profunda diluição ideológica das
correntes de esquerda, a guinada conservadora não encontra resistência na
defesa da emancipação do “mundo do trabalho”, ao contrario, ja que os principais partidos comunistas ocidentais
abdicaram da luta revolucionária desde o controle stalinista da terceira
internacional, na qual prevaleceu a tese do “socialismo em um só país”. O que acabou por repercutir foi a perspectiva reformista
“kautsky-bernsteiniana” que levou à consolidação do “walfare state”, com a defesa
institucional da democracia. Mas em um momento de refluxo da social-democracia,
o desvio programático caminhou solenemente para as práticas neoliberais. Assim
foram os governos do PT, que se no plano economico encheriam de orgulho tanto a
Hayek quanto a Friedmann, no discurso
político capturaram as pautas ligadas aos movimentos identitários e de defesa retórica
da inclusão social.
O viés de todo este processo começou a se tornar explícito
no segundo governo Dilma, quando a forte recessão econômica (a crise de 2008
não foi uma “marolinha”!) contribuiu para a instabilidade política que redundou
na derrocada petista com o impeachment presidencial
e a prisão de Lula pela operação lava-jato. Neste momento ja se delineava o crescimento
dos movimentos conservadores que ajudaram viabilizar a eleição de Bolsonaro em
2018. Abriu-se a contraposição daqueles temas, em tese afinados ao discurso da “direita”,
com o apego ao identitarismo patrocinado pelos partidos de “esquerda”. Apesar da
importancia e da necessidade de enfretamento destas questões, tais discussões precisariam
integrar um movimento muito mais amplo, capitaneado pela organização dos
trabalhadores em luta constante contra a exploração e a superação do
capitalismo. Enquanto a institucionalidade (parlamento, judiciario, executivo) atua
no sentido de avançar medidas que viabilizem a desregulamentação das relações
de trabalho assegurando os lucros do capital, a esquerda democrática se furta
deste confronto e enfatiza a defesa identitária polarizada com as pautas de
costumes apoiadas pelos setores mais reacionários.
Este descolamento do campo da ação além de oportuno
também nivela ambos espectros da disputa política no campo eleitoral. O poder dos
grandes grupos econômicos encontra-se garantido tanto com Lula quanto com
Bolsonaro, claro, sem deixar de mostrar toda sua satisfação com a enorme funcionalidade
do segundo, que elevou as denúncias de corrupção a um patamar superlativo e amplamente
visceral, inclusive atingindo os setores militares, até então vistos como
impolutos e incólumes de malfadas práticas administrativas. Portanto, a vitória
petista pode até aparentar uma guinada política, ou mesmo um aparente triunfo
civilizatório, entretanto, dentro dos marcos experimentados, com os amplos acordos
realizados, caminha mais para uma solução de continuidade nos limites que
caracterizaram a “Nova República”, suprimindo-se apenas os delírios ideológicos
e as manifestações coléricas que parte do entorno bolsonarista explicitou. Uma
correção no rumo, ja que os resultados da experiência golpista de 2016, apesar
de salutar aos setores hegônicos, também acabou por se mostrar um pouco
indigesta para a normalidade dos negócios.
O Brasil, nos últimos 4
anos, desnudou as profundas contradições de sua “tragetória civilizatória” e
expôs o caráter deletério de suas “relações constitutivas”. O grito da
transformação, se vier, não será da escolha eleitoral. Precisa ecoar das ruas e
encontrar ouvidos dispostos a enfrentar todo um passado de exclusão, indo além
da racionalidade cartesiana para compreender as reais causas da nossa miséria: o
trabalho e seus grilhões! Fundamental libertá-lo, mas para isso, o papel
precípuo das esquerdas é de reorganizá-lo e guiá-lo na construção coletiva de uma
realidade na qual não mais existam diferenças de classes, apenas humanas!
14 de jun. de 2022
PEDAÇO DE PAZ
a melodia sussurra do piano
inspira um acalanto ao espírito
mas os tempos são taciturnos
a música não se alinha ao momento
não há um mínimo de paz quando o todo se alimenta do conflito
a placidez do som se transforma em melancolia
há tanta beleza nas notas, uma súplica ao intangível
alegoria onírica em um mundo impalpável
de vidas em degradação que as retinas turvas ocultam
a realidade morta pelo discurso
um instante de ilusão
uma existência em vão
CAETANO PROCOPIO
22 de abr. de 2022
BRASIL, UM RECORTE DA BARBARIE CAPITALISTA
Em 2002, durante visita ao Brasil, o filósofo húngaro Istvan Meszaros concedeu uma entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura. Na voz do célebre autor marxista, as impressões sombrias sobre as perspectivas de futuro para a humanidade. Creio que sua visão soturna não seja uma explicação apocalíptica da história, mas de certa forma uma alusão à citação de Gramsci, para ilustrar a árdua tarefa daqueles que se propõem modificar radicalmente a realidade, acerca do ‘Pessimismo da Razão’ e do ‘Otimismo da Vontade’.
Duas décadas após, as palavras do saudoso pensador falecido
em 2017 relatam vivamente os dias atuais de devastadora investida neoliberal,
com sua face cada vez mais sectária e destrutiva. O recrudescimento político do
horizonte democrático é o resultado do aguçamento das contradições na
reprodução capitalista e, o autoritarismo, um efeito que subjaz à incapacidade
de integração das forças sociais devido a intensa precarização e segmentação das
relações de trabalho. Como justificativa ideológica, uma ordem restauradora, salvadora
e mitificada se alimenta da proliferação de movimentos ultraconservadores que, apesar
da pauta anti-sistema, caminham pari-passu com a defesa dos “valores do livre mercado”.
No Brasil, a falência do pacto da Nova República desvela uma
escalada arbitrária, o derretimento institucional e a debilidade da tradição
democrática em uma sociedade profundamente desigual. Congresso e Judiciário
pusilânimes e coniventes com o flagelo bolsonarista que tomou corpo nos últimos
anos e ganhou espaço no espectro da chamada “extrema-direita”, exortado pela
“debacle” do período petista. Os governos do PT não significaram uma ruptura
com o processo histórico nacional e fracassaram como perspectiva de mudança. Administraram
com os mesmos métodos da tradição política e mantiveram intacta a perversa estrutura
econômico-social. Os anos Lula-Dilma seguiram
a marcha brutal do capitalismo em sua etapa global-financeira não dinamizando
qualquer projeto efetivo que abalasse a profunda concentração da riqueza
existente, nem mesmo nos marcos de uma transformação nacionalista burguesa.
A necrose do Estado brasileiro reflete a maneira
perdulária com que as elites daqui o apoderaram em prol dos seus interesses
patrimoniais. Coligadas com a dinâmica da economia mundial, o país sofreu
passivamente com o assalto em sua soberania ou mesmo independencia:
privatizações e desindustrialização que escancararam a vulnerabilidade de um
modelo econômico priorizado a partir dos anos noventa, na era FHC. As políticas
adotadas nos governos posteriores também conservaram a camisa de força das
diretrizes definidas pelos organismos financeiros internacionais, baluartes da
hegemonia estadunidense, como o BID e o Banco Mundial e exigentes com o rigor
fiscal para controle do déficit e manutenção do chamado “sistema da dívida
pública”, contudo, comprometedoras do investimento estatal capaz de assegurar a
proteção dos direitos sociais tipificados nas democracias consolidadas no “welfare
state”. A coluna vertebral deste sistema está na dependência das exportações de
“commodities” geradoras de grandes lucros aos setores do chamado agronegócio (bem
como aos investidores em seus rentáveis títulos), em contrapartida patrocina o
desmantelamento dos mecanismos garantidores do Estado e promove o crescimento das
desigualdades e da pobreza.
A crise global agora recoloca novos atores na disputa com
os EUA e seus aliados. A Rússia, que com o conflito na Ucrânia busca superar a
condição de força secundária no tabuleiro geopolítico e a China, que nas
últimas décadas obteve um vertiginoso desenvolvimento de suas forças produtivas
e se tornou segunda potência planetária, incomodando a liderança norte-americana.
Já o Brasil, que nos últimos 30 anos apenas se ajustou passivamente
à “nova ordem”, apesar do tamanho (e da importância) do seu contingente
populacional, segue na condição de mero coadjuvante no cenário mundial. Novamente
o panorama que se abre por aqui recupera o painel das eleições de 2018. A
diferença é que agora Lula estará de fato na disputa, depois da anulação dos
processos da operação lava-jato. Uma polarização que não remete a um real
antagonismo político, mas somente eleitoral. No cerne das propostas,
muito além das divergências no campo ideológico (Lula seria a “esquerda
progressista” na defesa incondicional das minorias e do identitarismo e Bolsonaro,
a “ultra-direita conservadora” vociferando a retidão nos costumes, o
anticomunismo, o apego à religião, às armas e à “liberdade individual”) estarão
basicamente em jogo, a manutenção e a administração dos negócios e lucros dos
segmentos econômicos controladores de toda vida social, ajustados ao paradigma
do “Estado mínimo” e da “capacidade empreendedora” dos indivíduos, argumentos
muito presentes nas vozes dos gestores à partir dos anos 1990.
Apesar de todas atrocidades cometidas pelo governo vigente,
nenhuma iniciativa institucional concreta para removê-lo se deu nos 4 anos do
atual mandatário, o que ressalta a condição putrefata da república. É possível
se aceitar a barbárie desde que os rumos econômicos sejam preservados. E com o
“capitão” este roteiro comungou seus aspectos ainda mais letais.
O fim das ilusões “yuppies” mostram uma humanidade cada
vez mais em risco diante do vórtice neoliberal que arrasta o mundo para uma
fatal negação civilizatória. Some-se à corrida bélica alimentada desde os
tempos da guerra fria, a constatação pela ciência dos enormes impactos
ambientais decorrentes das ações humanas que elevaram significativamente o
perigo de alterações climáticas irremediáveis e viabilizaram o surgimento de agentes
biológicos mortais como o sars-cov 2, ameaças iminentes à manutenção da própria
vida no planeta.
Considerando este painel desalentador, a realidade
brasileira se encontra ainda mais exposta à dinâmica dos fluxos dos capitais globais
e coloca o país totalmente à deriva das contradições deste modelo fratricida. Nunca
o recado deixado por Meszaros foi tão urgente ser ouvido. Hoje, a vontade da transformação
precisa inspirar uma severa e radical crítica
da razão atual, que ao contrario de revelar alguma lucidez, esconde uma insana aparência
de normalidade.
CAETANO PROCOPIO
1 de jan. de 2022
2022! ANO NOVO?
Celebrações pela aurora do ano
Feliz “ano novo”!
CAETANO PROCOPIO