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25 de jul. de 2011

JOSÉ RAMOS TINHORÃO: A MPB NA BERLINDA

José Ramos tinhorão é, indubitavelmente, um dos maiores historiadores da música brasileira. Notabilizou-se por ser um dos mais combativos críticos musicais. Dono de uma sólida formação cultural e uma notável capacidade de argumentação, aliadas a um meticuloso trabalho de pesquisa, produziu uma das mais completas obras sobre o desenvolvimento da música brasileira do descobrimento até nossos dias.

No entanto, o trabalho de Tinhorão está longe de ser uma unanimidade, exatamente por ter externado posições não-assimiláveis pela crítica epidérmica. Longe de compreender o fenômeno musical como um mero deleite artístico, para ele a arte é uma representação da realidade social. Sua visão sobre a evolução da música nacional não se dissocia da formação histórica do Brasil inserida no contexto do imperialismo e do colonialismo cultural.

Ele desqualifica a autenticidade e a originalidade atribuída a célebres movimentos da MPB (como a bossa nova e o tropicalismo) tidos pela critica e pelos estudiosos como revolucionários. O que para maioria foi sinônimo de revolução para ele não passou de submissão. Tinhorão argumenta que tanto a bossa nova quanto o tropicalismo foram concebidos através da influência exercida pela cultura norte-americana sobre as classes médias no Brasil, envergonhadas da sua condição de “subdesenvolvimento”. Ele propôs que se derrubassem os mitos criados na cultura nacional a fim de se desmascarar a realidade contraditória das classes sociais existentes aqui. Assim, aquela pretensa renovação tinha “pés de barro”, pois acabou por aderir à tendência assimilatória da cultura dominante, no caso, a norte-americana.

Desde a década de 60, quando Tinhorão iniciou na crítica no “Jornal do Brasil”, criou inimigos poderosos: Tom Jobim, João Gilberto, Caetano Veloso entre outros. A acidez de seus comentários só fez inflamar a fogueira de vaidades dessas figuras ilustres e aclamadas pelo consenso, o que lhe custou a injusta pecha de sectário e xenófobo, além do permanente ostracismo. Jamais foi aceito nos círculos acadêmicos exatamente por atacar os ícones cultuados pela classe média, apesar da profundidade e da meticulosidade do seu trabalho de historiador.

De certo modo ele decreta a morte da música como uma manifestação genuinamente popular transfigurada em lixo pela cultura de massas e seus esquemas industriais.

Pode-se (até por equívoco) associá-lo à figura sonhadora de um Dom Quixote da MPB. Mas Tinhorão sabe que perdeu a batalha vencido pelo poder do mercado e da dominação cultural.

Sua obra nos serve como um exercício de lucidez em tempos de subordinação acéfala (acrítica) aos padrões ditados pela maciça influência estrangeira, agora – “modernamente” denominada globalização: um caminho sem volta.

CAETANO PROCOPIO


*José Ramos Tinhorão possuía um amplo acervo composto por discos, fotos, filmes, scripts de rádio, programas de cinema e teatro, cartazes, jornais, revistas, livros, que hoje se encontra disponível na página do Instituto Moreira Salles na internet: http://ims.uol.com.br/Musica/D132