
A demência revelada por Coppola está próxima de nós: violência, opressão e terror moral, o mesmo que levou Kurtz à loucura e exige a uniformidade do pensamento como verdade indissolúvel. Afinal, até que ponto sanidade e lucidez são nossos consortes? Aceitar a mentira que nos ilude com a possibilidade do futuro pródigo de uma vida de conforto, sucesso profissional e se possível, fama e poder, mesmo que cada vez mais a busca por esse eldorado exija que nos refugiemos em fortalezas cercadas por muros eletrificados, ou quem sabe, tenhamos assassinos particulares para proteger nossas vidas privadas. Absurdo!
A guerra do Vietnã foi uma mentira, como a realidade iminente do século XXI. A pujança material dos dias atuais contrasta com sociedades divididas e brutalizadas pelos antagonismos do processo histórico capitalista. Esse enredo poderia perfeitamente fazer parte do universo kafkiano – o homem massacrado acaba por transformar-se num ser abjeto.
Refletir sobre a violência e suas causas invariavelmente nos leva a descobrir a mentira. E a mentira é a face oculta do horror.
CAETANO PROCOPIO