
(no meio do inverno, eu aprendia enfim que havia em mim um verão invencível - Albert Camus)
Há 19 anos, em 10 de agosto de 1995, falecia Florestan Fernandes. Sociólogo, professor, autor de mais de duas dezenas de livros enfocando os diversos aspectos da realidade brasileira. Suas análises desmascararam a hipocrisia com que sempre foram tratadas as contradições de nossa formação social.
A enorme bagagem cultural adquirida com
a meticulosa leitura dos grandes clássicos aliada à dura experiência de vida
(nascido em uma família de origem humilde) alimentou o desejo por transformações
sociais profundas. Foi através desse aprendizado teórico que pôde compreender a
complexa dialética da dominação de classes no Brasil (levando em conta o papel
desempenhado pelo imperialismo colonial) e ultrapassar os rigorosos limites
impostos pela metodologia científico-acadêmica.
Sua estreita relação com a obra de Marx
o possibilitou engajar-se ativamente na vida política do país como um severo
crítico do "status quo". A crença na construção de uma sociedade
justa e solidária motivou, desde a mais tenra idade, suas ações, e contrariando
a todos modismos, jamais reformou as posições que o acompanharam por toda a
vida. A lucidez do pensamento de Florestan está registrado nos vários livros e
artigos que publicou.
Atento observador e profundo conhecedor
dos fatos que o cercavam, opôs-se desde início à coalizão de poder que levou
seu ex-aluno à Presidência da República, incidente, aliás, que lhe proporcionou
enorme consternação. Evitou tecer comentários acerca da adesão de FHC às forças
políticas mais reacionárias do país, em respeito ao amigo. Neste momento em que
a utopia liberal atinge contornos totalitários (como sustenta José Luis Fiori),
sua obra e história são importantes instrumentos de resistência ao conformismo
reinante nos dias atuais.
CAETANO PROCOPIO