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Neste momento ecoam as palavras de um ébrio
recalcitrante que busca no álcool uma fuga à obsolescência do nosso modo de
vida insano. Quero esclarecer que inexiste uma redundância no que disse acima
porque não quero ressaltar a condição de um mero “bêbado teimoso”.
A tenacidade no ato de beber (ébrio)
seria por uma impossibilidade psicológica de assimilar o dicionário competitivo
do discurso neoliberal-empreendedor; o adjetivo recalcitrante remete unicamente à
contínua incapacidade anímica de um filho modesto e rebelde da classe média, que
na situação de ser um arremedo de burguês, também jamais conseguiu aflorar um
“éthos” plenamente revolucionário (talvez o pecado original do petismo).
Vejo-me um marxista fracassado que nas palavras de Bernard Shaw, diria: és apenas
um “socialista antissocial”.
Não nasci ébrio, nem ébrio me tornei! Ébrio estou e se
no passado já estive, foi por um deleite pequeno-burguês ou até mesmo por incompletude
da psique (em idade mais tenra bebia para não ter que fugir ao banheiro ou me
esconder debaixo das mesas dos bares quando alguma garota se aproximava de
mim).
“O ébrio” de hoje é mais complexo porque devastado por
perdas e incapacidades, enxerga desesperadamente a necessidade de um novo mundo
de relações em que as pessoas de fato sejam os sujeitos dos afetos, não os
objetos que as circundam.
Mas ciente de que isto não esteja em um plano imediato
ou até mesmo mediato, ainda assim sou incapaz de assumir uma postura (prática)
radical, exceto através das palavras, que, de certa forma, auxiliam na escassez
volitiva e ao menos servem de lenitivo às aflições.
“O ébrio” sonha com a humanidade porque a realidade é
desumana.
CAETANO PROCOPIO