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11 de nov. de 2024

SÚPLICA PARA HUMANIDADE CONTRA O CAPITAL


A natureza nunca foi plácida apesar da ausência de intenção

Mas com o homem, o trabalho e a perspectiva de transformá-la

O projeto, que da mente segue na ação de modificá-la 

E ao mudar, muda tanto a natureza quanto o homem

O "animal simbólico" manifesta-se muito além do mecanicismo biológico

A dialética que enseja as ideias, expressões dos movimentos reais que as constituem

Desde os primórdios, da gênese humana, toda criação materializa a satisfação de necessidades

A sobrevivência no mundo concreto que escreve a história em seu moto-contínuo

De uma humanidade conflituosa, incapaz de suprir-se com o trabalho

Expropriado, para garantir o excedente em sociedades insuficientes

A reprodução material, impossibilitada de gerar universalmente a riqueza, apenas se viu solvida com a revolução industrial

A dinâmica fabril ofereceu a abundância

E os homens puderam se ver livres da dependência umbilical dos processos naturais

Ainda assim, a exclusão não deixou de fazer parte deste desenvolvimento, movido pela organização social em classes

Mistificada pela ilusão iluminista do progresso, das ideias conduzindo o mundo

Não! São as ideias que se conformam à materialidade (suas relações constitutivas)

O trágico existencial sartriano do "estar no mundo", se confirma

Se antes, a existência somente poderia se justificar nos mitos, a modernidade colocou os homens, de fato, no centro de tudo

Capazes de administrar plenamente suas demandas universais

Definitivamente, o planeta se torna humano

Mas apenas na aparência, pois ainda conduzido sob auspícios de uma lógica alienada

Que se retroalimenta e se usa da consciência dos homens

Impulsiona e constrói com a mesma volúpia com que aniquila o que não mais lhe interessa

A insanidade é a medida do normal

E o horror, dissimulado, disseminado e digerido, já não incomoda aqueles que se acostumaram com brancas nuvens

As pessoas mal se reconhecem na rua

O inimigo é o competidor que está à frente, ao lado, em qualquer lugar

A fartura, que poderia ser de todos, está nas mãos de alguns

Sob o chauvinismo de que as coisas são assim e o egoísmo é parte do gene humano

A falsificação cotidiana que se apropria da verdade e segue rumo à ruína

O consumo incessante, que nada tem a ver com o necessario, ou mesmo o aprazível

Compulsivo, psicótico e insustentável, tão só para garantir e ampliar o lucro

A destruição, como alternativa ao fim das perspectivas civilizatórias do mercado, está diante dos olhos

Dias tão obscuros que o sol imerso em nuvens se põe alaranjado no crepúsculo apocalíptico, cercado pela neblina seca com hálito de fuligem

Hoje, a chuva lá fora não engana

O ardor desta época 

E a hercúlea tarefa que urge 

De uma humanidade, redentora de si e salvadora do mundo

                                                                                                                CAETANO PROCOPIO

Ilustração CZ0

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