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6 de mar. de 2006

O PONTO DE ÔNIBUS

Uma fila imensa no ponto do ônibus da Praça da República. Esperava o famigerado Butantã-USP. Todos que passavam estavam lotados, um após o outro. E eu preocupado com a aula de Cartografia. Diabos! Não poderia perdê-la!

A garoa, velha conhecida do universo paulistano, parecia um copioso pranto (Não quis levar o guarda chuva que minha tia havia separado. Morava ali pertinho do Largo do Arouche e achei que não me molharia até chegar à pequena cobertura do ponto. Ilusão de um interiorano na capital!). A chuva me ensopando (...) os ônibus lotados (...) a aula de Cartografia (...) tudo me impacientava. Eis que, repentinamente, uma senhora com uma capa de chuva escura que a cobria da cabeça ao tornozelo aproximou-se de mim. Percebi que me observava. Logo se postou ao meu lado e me indagou se iria até a cidade universitária. Disse que sim, mas estava muito preocupado com a aula, por causa do atraso.

Sem muita cerimônia, ela começou a me confidenciar que iria visitar uma irmã naquelas redondezas, ali nas imediações do Butantã. Adorava o ambiente e as pessoas daquelas bandas. Ela dizia que não suportava mais morar naquele centro decadente, cheio de sujeira, pessoas dormindo amontoadas nas portas, bêbados, prostitutas e toda sorte de degredados.

Eu, irritado com a chuva me molhando, o ônibus que não vinha (...) a maldita aula de cartografia (...) os professores chatos (...) a política universitária autoritária do reitor (...) e ainda tendo que ouvir um monte de sandices já pela manhã.

Não tardou para que ficasse farto daquela situação (...). Dei às costas sem falar uma palavra e parti (...). Mas não sem antes ouvir uma última indagação (...).

- EI? AONDE VOCÊ VAI? E A SUA AULA?

- PREFIRO A SUJEIRA DO LARGO DO AROUCHE!

CAETANO PROCOPIO

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