Era
noite de sábado e encontrava-me em um bar movimentado. O recinto estava lotado
e praticamente todo público atento aos telões que transmitiam um evento de UFC.
Apesar da agitação do local, não conseguia me ver envolvido com o ambiente.

Bárbaro
era a designação romana dada a todos os povos que não conheciam a “cultura
latina”, por consequência, tudo aquilo que era visto como sendo parte do mundo
civilizado. Hoje, a semântica ampliou
este significado para identificar o indivíduo inculto e brutal. Na Roma antiga todo
aquele que não sabia falar o latim era considerado um bárbaro e, portanto, não
pertencente ao mundo romano que era a representação da modernidade e da
civilização (apesar de se constituir em um Estado autoritário e desigual).
Dois
milênios se passaram e de certa forma esta realidade apenas adquiriu uma
maquiagem modernizante. As facilidades técnicas permitiram um maior conforto às
pessoas (apesar de não usufruído igualitariamente). O mundo civilizado caminha
de forma a comungar progresso e violência sem uma ascensão que pudesse libertar
o espírito humano das mazelas que as disputas pelo poder criaram durante a
história.
Na
velha Roma, o combate cruel era destinado ao divertimento público. Hoje, as
transmissões de UFC representam a mesma espetacularização da violência (morrer
ou não em combate é um mero detalhe). O que prende atenção do expectador é uma
perspectiva hedionda de se subjugar o outro, uma vez que o objetivo da luta é a
aniquilação do oponente.
A civilização romana não via
na violência um sinônimo da barbárie, mas sim no fato de não ser romano. Não
seria este o dilema da civilização moderna?
CAETANO PROCOPIO