O mundo moderno, com a explosão
tecnológica experimentada a partir do século XX, parecia algo promissor e
maravilhoso. Porém, milhões de miseráveis ainda agonizam mundo afora vítimas da
incapacidade integradora do mercado.

Mas para qualquer “phd” em economia de
Harvard, a justificativa poderia ser a
de que cada um possui a sua parcela de contribuição para que esse processo
abrace o mundo e possibilite o desfrute das benesses da integração dos
mercados. É o preço do progresso! Apenas alguns ajustes nas engrenagens do
sistema e pronto, tudo estará resolvido. Mas sob esse discurso se perpetua toda
uma lógica excludente e cruel. O mais lamentável é que, no fundo, parece que as
tragédias se tornam coisas banais aos olhos como se fossem objetos integrados de
uma paisagem, mas ao mesmo tempo, alheias do universo da racionalidade.
Fala-se muito na necessidade de limitar a
globalização. Mas será possível que só a contenção dos mercados subverterá
todas as injustiças do planeta? A verdade é que se pensar numa solução parcial
para o mundo é o mesmo que se valer de um paliativo médico. A volúpia pelo
lucro é o objetivo primordial e sua busca sempre subverterá os mecanismos
reguladores supostamente criados para limitar a tendência à concentração da
riqueza.
A aparente conformidade e consenso não são
reais. Mesmo com os vigorosos instrumentos de alienação produzidos pela moderna
tecnologia capitalista, surgem vozes do dissenso que se arregimentam e se
organizam, isto, é claro, à custa de uma caracterização perversa por parte dos
meios que difundem a informação para a opinião pública. Quando segmentos
organizados da sociedade (por exemplo, os trabalhadores sem terra) ocupam as
ruas, estão bradando contra a degradação social de um país historicamente
dividido pelas desigualdades e pelo autoritarismo.
Diferentemente da satanização que a grande
mídia normalmente tenta difundir àqueles que não seguem a maré definida pelo
pensamento oficial, muitas vezes o contraponto representa o real compromisso
com a cidadania e com a solidariedade, apesar de antipático aos olhos das
classes médias que só conseguem visualizar os seus privilégios, acomodados na
solução de normalidade do mundo instantâneo dos negócios em que tudo se resume à
relação custo-benefício.
A resistência cria a dúvida no conceito do
pensamento único que a globalização tenta impor. É oposição a esta concepção
hegemônica e autoritária. Um imprescindível questionamento à unanimidade totalitária
do “mercado livre” hoje tão enaltecida pelo senso comum.