Às 00:00 do
dia 1/1/2000, em todas as partes do planeta, bilhões de pessoas se arregimentaram
para comemorar a passagem do século e o início do milênio. Só um detalhe! O
século XXI só começou em 2001!
Não é a toa
que o diretor Stanley Kubrick iniciou a sua odisséia no espaço em 2001. As
portas para o novo milênio se abriram ali, apesar de que, para o inquieto
cineasta esse futuro não se mostraria muito alentador.
Mas deixemos a ficção de lado - não que no caso ela não nos
sirva de exemplo - para adentrarmos na história, mais precisamente no século VI
da nossa era (cristã).
Determinado em caracterizar com significados
próprios o período que logo definiria o “mundo civilizado”, o historiador grego
Dionísio propôs um calendário compatível com as exigências do poder pontificado
em ascensão. Usando como base a contagem do antigo calendário juliano (anos de
365 dias com 1 ano bissexto a cada três anos), instituiu o ano 1, obviamente,
no nascimento de Cristo. Os anos a frente dessa data passaram a ser ‘d c.’ e os
anteriores ‘a c.’. Esse sistema vigiu por dez séculos: em 1582 o papa Gregório
XIII realizou um ajuste definitivo corrigindo a diferença de dias existente no
calendário juliano.
Se o
registro inaugural da era cristã foi o ano 1, o término do seu primeiro século
coincidiu com o ano 100. Encerrou-se, portanto, o século I. Em 101, abriu-se o
século II terminando em 200. Bem, descobrimos o fio da meada! Seguindo essa
cantilena vamos finalmente chegar ao século XX. Ele foi inaugurado em ...
(lembrem-se o exercício anterior!) 1901: o primeiro “reveillon” do século XX.
Assim, no dia 31 de dezembro de 1999, não comemoramos a
primeira ceia do século XXI, mas a última do século XX.
Ou seja, comemoramos
o limiar do século que ainda não havia começado. Nenhum matemático astuto, ou mesmo um historiador
descolado, ou talvez, um mago alquimista, abalizados por “sólidos” argumentos
da ciência, ou quem sabe, da espagíria medieval apareceu para denunciar a
realidade. Mas o pior não foi devidamente esclarecido aos crédulos. Segundo
estudos do final do século passado, pesquisadores descobriram um erro na
marcação do nascimento de Cristo, levando-se em conta a morte de Heródes,
Cristo teria vindo ao mundo antes do seu registro oficial, aproximadamente em
6 a.c.. Portanto, em 2000, já estávamos
em pleno século XXI!
Tudo bem, cada um pode estar na época que melhor lhe
aprouver. A revolução francesa chegou a criar o seu próprio tempo, capaz de
representar os ideais anticlericais de uma burguesia emergente, o que permitiu
a Napoleão dar um golpe de Estado em 18 do brumário (10/11/1799). Os
bolcheviques russos, em 1917, ainda utilizavam o calendário juliano, última
reminiscência do passado czarista que adotara a religião ortodoxa grega. O golpe
fatal ocorreu em outubro daquele ano, novembro em nossa “folhinha”. Outros
povos também adotaram os seus: os judeus já estão além do ano 5000, os
muçulmanos, ainda devem estar no século XIV ou XV.
Mas em
qualquer data, o que a humanidade ainda não encontrou é o verdadeiro tempo de
um mundo justo e solidário. Quando será?
CAETANO
PROCOPIO