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22 de ago. de 2006

O MENDIGO

Não há muita novidade em estar vivo.
Pelo menos é assim para muitos
E, Ele caminha pela vida.
Quando a invasão de carros suja a cidade.

E o chamado "cidadão de bem"
Aciona sua ira no grito demente da buzina
Na pressa incansável dos dias.
Dois cachorros o acompanham no seu caminho contínuo

Na sombra de uma ampla árvore, descansa uma lixeira
E é lá que fica o descartável!
No amontoado de dejetos, ele para e procura.
E a busca segue viagem ao desconhecido.

Ele rumina o lixo e ameniza a podridão
E os ecológicos deveriam preservá-lo.
E, no plexo solar do mundo todo azul
O cheiro fede, arde e queima.

Os cachorros ladram para a caravana dos automóveis
Levados pelo instinto.
As calçadas pisadas por pés cegos proliferam frases rudes,
Contra o dia que segue calado... as horas vitais e nem sempre necessárias.

Num gole d’água, sedento, o soluço desperta a desgraça,
De viver por estar vivo, sem culpa e sem vontade.
As moedas ganhas são respingos da sujeira diária
Dos setecentos gramas de lixo que produzimos diariamente.

Bitucas de cigarros amenizam qualquer coisa.
Na cor opaca do papelão ele sonha algo colorido?
Na garrafa ardente ele quer comemorar
Como os gentis comemoram no final da tarde.

Na essência da humanidade, ele puxa a carroça
Anda na contra mão, de pés descalços, como muitos naturalistas cult
E uma parte dele é chamada de loucura.
Talvez seja o lado que a solidão matou.

E o cristão diz: a culpa não é minha.
Cimenta espaços sob os viadutos
Na esperança (todo cristão se alimenta dela)
Dele desaparecer com o vento.

Mas, o vento é sábio e não tem lado.
Sopra na cara, e foge.
Arrepia os pelos dos cachorros, enche os olhos do cristão de terra
E empurra a carroça nas subidas do desgraçado filho do lixo.

Cuja liberdade é plena.
Sem códigos de identificação
Sem marca passos no coração
Na vida que as vezes é pequena demais.

VANDERSON PIRES

Um comentário:

Unknown disse...

Brasília, DF, 28 Nov 07.
Prezado Sr. VANDERSON PIRES,
Hoje, por acaso, entrei no seu "blogger" e encontrei a sua poesia
O MENDIGO.
O que posso dizer de seu poema é que ele é forte, muito forte...
Ano que vem, vou começar um inglês que começa com aulas de português...cada louco com sua mania.
Peço a sua autorização para usar o poema O MENDIGO com os alunos. O objetivo gramatical é estudar classes de palavras...
Receba um cordial abraço.
Billy (billyunb@gmail.com)