Total de visualizações de página

22 de ago. de 2006

UMA PROPOSTA IRRECUSÁVEL


“Vou lhe fazer uma proposta irrecusável”. Esta era a frase que normalmente decidia uma discussão de negócios de Vito Corleone. O resultado, quase sempre, um banho de sangue. Difícil crer que a mesma pessoa que afagava o pequeno Michael com tamanha candura fosse um temível assassino.

O “Don” possuía suas regras. Os “negócios” jamais poderiam adentrar pela porta da frente da casa. E como um bom patriarca, sua preocupação sempre foi a de viver em função da família. Ela deveria estar protegida a todo custo. Mas nem tudo saiu conforme o planejado pelo velho Corleone. Santino, o seu primogênito, acabou assassinado por mafiosos rivais numa emboscada. Quando se recusa uma proposta, dificilmente há outro desfecho.

A morte do filho rompeu com uma tradição siciliana na sucessão do poder e o cetro acabou sendo entregue ao caçula após a aposentadoria do “padrinho”. O sucessor, Michael Corleone, era um homem onipotente que não só apreendeu as lições deixadas pelo pai como conseguiu expandir os “empreendimentos familiares” muito além dos limites suburbanos de Nova Iorque. Impôs uma forma de negociar ainda mais implacável. Extremamente frio, calculista, jamais hesitou exterminar aqueles que ousaram atravessar seu caminho, inclusive o irmão Fredo, que lhe causou sérios aborrecimentos quando, ingenuamente, tentou interferir nos “assuntos da família”. Não possuía limites para a barbárie. No fundo, um ser solitário, completamente árido de sentimentos e embrutecido pela lógica perversa do crime organizado. Seu caráter cruel só começa a se desfazer no terceiro episódio da saga quando, atormentado pela culpa de seus assassinatos, mostra-se um homem frágil e angustiado.

Viveu obstinadamente o sonho paterno de livrar a família da ignomínia de mafiosa. E quase conseguiu redimi-la do passado criminoso. O golpe decisivo para legalizar as “empresas Corlone” se deu através de uma proposta milionária de associação com a poderosa companhia imobiliária do Vaticano. Mas novamente se deparou com os conhecidos “métodos” praticados no “submundo” e acabou impedido pelos “conselheiros” papais de concretizar a negociação. A realidade dos negócios é mais abjeta do que ele poderia supor. Nem mesmo a Santa Sé estaria imune.

Após décadas, “O Poderoso Chefão” não alcançou o desejo de seu pai manter a família protegida dos “negócios”. Ao contrário, suas escolhas acabaram impondo perdas absolutas: irmãos, mulheres, filha, enfim, a própria família. Terminou seus dias recolhido no mais profundo isolamento, não lhe restando algo além da morte solitária onde tudo começou, no interior da Sicília.

CAETANO PROCOPIO

Nenhum comentário: