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13 de jul. de 2007

UMA CONTESTAÇÃO MITIGADA

Em meados dos anos 50 a crença dos positivistas de que a ciência seria capaz de promover o progresso da humanidade já não convencia muita gente. A crise mundial de 1929 e as duas grandes guerras criaram mazelas profundas e provocaram sérias desconfianças nos valores da chamada civilização cristã ocidental (capitaneada pela pujança econômica norte americana), até então, incólumes de maiores questionamentos pelo senso comum.

A juventude americana do pós guerra, insatisfeita com os rigores da tradição puritana, buscava definir-se em novos padrões de comportamento. Inspirado nessa inquietação incipiente, surge o "rock'n roll". A rápida secularização dos costumes liberalizou as formas de expressão o que contribuiu decisivamente para a eclosão dos movimentos estudantis no final da década de 60.

A divisão do mundo em dois blocos antagônicos depois de 1945, abriu um período conturbado nas relações internacionais. A guerra-fria desencadeou um clima de insegurança e medo entre os povos. Ela expôs as contradições e os sinais de evidente esgotamento do "American way of life". O sentimento de insatisfação ensejou reações de repúdio ao arrivismo vitorioso alardeado pela classe média. Inicialmente comportamentais, porém, o acirramento das tensões acabou por transpô-las para o domínio da política. E o rock tornou-se uma espécie de porta voz dessas mudanças. A jovialidade e a alienação de suas primeiras composições rapidamente transformaram-se no ritmo agressivo de guitarras distorcidas e letras em carregado tom de protesto (a guerra do Vietnã foi um catalisador dessa transformação). Queria-se cuspir na hipócrita indumentária com que se vestia a sociedade ocidental.

A contracultura denunciou a decadência moral da burguesia. Entretanto não conseguiu ir muito além disso. O discurso furtou-se de conteúdo. A contestação asfixiou a si mesma por não se afirmar como uma alternativa concreta, definitiva. Os paladinos do sexo, drogas e "rock'n roll" (ideologicamente identificados pela prédica do faça amor não faça a guerra) quando não consumidos pelo desespero, tornaram-se algozes dos próprios ideais. Acomodaram-se nos dividendos que a cultura "underground" proporcionou. Não resistiram aos deleites do mercado (nem desejavam!): suntuosas ofertas de uma vida de luxúria, sucesso e fortuna.

Dos velhos festivais sobraram apenas os rótulos, uma vez que não há mais o que contestar. O mundo exorcizou seus fantasmas para que pudéssemos entrar, incondicionalmente, na era da unanimidade consumista.

Se é verdade que a contracultura soou muito mais como uma vertente da sociedade de consumo, aquele sopro de rebeldia marcou-nos com uma força criativa paradoxal, presa a um tênue limiar de três acordes que se já acomodou algum talento, hoje não passa de mera banalidade.

O rock é fruto dessa contradição, uma marca registrada do nosso tempo.

CAETANO PROCOPIO (4/7/99)

2 comentários:

Anônimo disse...

Pára véio...permita dizer que “suas idéias não correspondem aos fatos”. Vc viajou mais do que o Timothy Leary...O cinquentão rock n´roll está aí firme e forte. Enquanto houver atitude o rock viverá. Um pouco de diversão sempre será fundamental nesta caminhada. “Here we are now/Entertain us/A mulatto/An albino/A mosquito/My Libido/Yeah!”
Você simplificou e generalizou, numa visão um tanto ranzinza! O rock continua se renovando a cada cair de tarde em uma garagem pelo mundo, porém a mídia não está plugada em outros sons, outras batidas, outras pulsações senão aquelas que rendem dinheiro. Coisas legais também foram banalizadas, o pop não poupa mesmo ninguém. É verdade que o “rock errou”, mas deslizes isolados não comprometem uma vasta contribuição para a história da música...a lista é infinita! Se você der uma garibada, vai ver e ouvir bandas novas com propostas interessantes... O anseio por caminhos que fujam do homogêneo dá ao rock mil anos de vida! Não tenha como base o que rola na mídia. Esqueça também o “American way of life”, os acordes há tempos são outras… Não há mais um muro para o Pink Floyd derrubar...vc fica cobrando coerência para quem nasceu para a controvérsia. Hasta!

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado