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9 de dez. de 2008

DO OUTRO LADO DO RIO

Argentina 1952: dois amigos, Alberto Granado, um bioquímico e Ernesto "Che" Guevara, um estudante de medicina, partem numa jornada pela América do Sul. A aventura se inicia sobre as duas rodas da "poderosa", uma motocicleta que mais parece objeto de relíquia. Mas é com ela que nasce uma verdadeira viagem de descobrimento. Na bagagem, o diário de "Che" é o registro dessa odisséia.

A idéia é cruzar o continente, da Argentina até a Venezuela. No percurso, uma estada no Peru para conhecerem um hospital de leprosos cravado na selva peruana. À medida que os peregrinos adentram pelos caminhos andinos descobrem a infortunada realidade daqueles povos. Essa experiência desperta um sentimento de identidade capaz de aplacar a inquietação de viver numa América dividida, apesar dos feitos de Bolívar e San Martin. Na América do Sul, a história ao invés de nos unir nos dividiu. Os dois desbravadores acabam por conhecer as razões dessa disjunção. Da Argentina à Venezuela, no trajeto, cruzam os Andes, o Deserto de Atacama e chegam à região amazônica. A transformação da paisagem sempre encontra os mesmos tipos, os indígenas, massacrados desde que os conquistadores de além-mar aqui chegaram para roubarem suas riquezas. Essa realidade jamais mudou. Teve seu início quando Pizarro decidiu aniquilar o império Inca. De soberanos transformaram-se em parias pelas mãos da "civilização".

O objetivo seria a Venezuela, mas é no Peru onde encontram o verdadeiro sentido que os levaram cruzar o continente: um leprosário no meio da selva. Lá conhecem os renegados e esquecidos do mundo. Doentes, normalmente os mesmos mestiços, excluídos pela intolerância e pela barbárie brancas, mas agora abandonados pela tragédia de suas sinas, separados do convívio comum pelas margens de um rio. O aclamado símbolo de fertilidade desfigurou-se numa fronteira para aqueles desvalidos. E "Che" decidiu derrubar essa barreira e atravessar esse leito que os isolavam. Ali nasce o combatente da Sierra Maestra que, juntamente com Fidel, ajudaria derrubar a ditadura cubana de Fulgêncio Batista anos depois.

Na recôndita selva peruana, do outro lado do rio, o revolucionário encontra sua essência, a resposta para sua inquietação: sentir os anseios dos outros como se fosse o próprio desejo e tentar superar as mazelas de um mundo cruel. Lutar contra todas as formas de injustiças onde quer que elas existam.

CAETANO PROCOPIO

publicado originalmente no site CINETOTAL
http://www.cinetotal.com.br/critica.php?cod=36

Um comentário:

Anônimo disse...

Em janeiro, estive percorrendo alguns trechos, pelos quais, Che andou...uma constatação...o povo Argentino pouco sabe sobre ele, e Evita é muito mais querida, popular e "ilumina mais os corações" dos portenhos.
Ahhh, eles também acham que a Malvinas é deles.