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23 de jul. de 2021

VIDA E MORTE SUDESTINA

 Não sei se seria possivel a paráfrase poética.

 Mas dias atrás ao assistir a um vídeo humoristico no youtube,

 a burlesca apologia ao designativo genérico nordestino.

 Não tive como não me reportar ao grande João Cabral.

 Para os sudestinos apenas uma depreciação: severino.

Que com o seu trabalho árduo e mal remunerado garantiu a riqueza e a soberba sudestina.

 Transfiguradas no trágico existencial do Brasil,

 que atravessou desde a colônia, o império até a república.

 Nem a nova república mudou,

 muito menos o que veio depois.

 Até chegarmos à eleição do “capitão”,

 ungido da aura de salvador!

 Que triste história,

 grande parte contada por sudestinos.

 No fundo,

 esta vida sudestina,

 é a morte de todos nós!

                                                                                CAETANO PROCOPIO

30 de abr. de 2021

CAPITALISMO PANDEMICO

 

O capitalismo atingiu no século XX a sua etapa superior, a que Lenin havia previsto quando abordou o que seria a fase imperialista. Os moldes do estado de bem-estar social trouxeram os anos dourados da explosão fordista: maior acesso a bens de consumo, melhores condições de trabalho e salários, mas o idílio de aproximadamente 3 décadas acabou e o final da centúria mostrou-se um período de agonia.

 

O sonho do liberalismo vencedor profetizado por Fukuyama nos anos 1990, principalmente com o fim do socialismo real representado pela queda da URSS, durou pouco. Quando o século XXI se abriu, o foco das tensões e contradições havia deixado o palco da guerra fria para se deslocar no mapa geopolítico ao oriente muçulmano.

 

Iniciada a segunda década do século XXI, a utopia liberal, escorada na reprodução capitalista, agora sob controle do capital financeiro, apresenta um perfil cada vez mais autoritário. O seu alvo principal: as relações de trabalho. A precarização, engendrada na década dos anos 90, avança de forma fulminante em praticamente todo o globo, mas aqui na “periferia do sistema”, num ritmo avassalador intensificado ainda mais pela pandemia da Covid-19.

 

No Brasil, a década de 1980 trouxe a redemocratização, que na oportuna visão do saudoso Florestan Fernandes, a definia como sendo uma “transição transada”. O fim do regime militar apenas criou uma aparência de mudança, que já na década de 1990 começou a dar sinais de que, no fundo, nada havia mudado. A estrutura social brasileira continuou intacta, ou seja, um país que combinou democracia política com ampla desigualdade.

 

Um efetivo processo de desmonte estatal e redução dos direitos trabalhistas (tanto no setor público quanto no privado) se empreendeu durante os governos oriundos da “Nova República”. Mesmo nos anos de Lula e Dilma, o PT manteve incólume este modelo, minimamente abrandado pelo incremento nos programas assistencialistas.

 

Com a queda de Dilma em 2016, Temer, e posteriormente Bolsonaro, aceleram as medidas de diminuição do Estado e acentuaram a “informalização” do trabalho, confirmando aquilo que estudiosos, como Ricardo Antunes, têm denominado “uberização” das atividades, lançando milhões de trabalhadores às mais insidiosas condições de subemprego.

 

E a tragédia brasileira ainda encontrou um novo dínamo: a Covid-19. O flagelo da pandemia potencializou a barbárie nacional. Além das centenas de milhares de mortos até o momento, milhões sobrevivem a duras penas diante de um governo que desdenha da sua população, com os escassos valores de auxílio emergencial, jogada à sorte, seguindo a rotina de trabalho diário nas ruas sem que tenha um mínimo de amparo. Trabalhadores que, impossibilitados de permanecerem em casa, na tentativa de não sucumbirem à miséria, acabam sendo obrigados enfrentar o risco constante de infecção e de morte pelo coronavírus.

 

A resistência às medidas de isolamento social mostra a face perversa do capital, que coloca a vida como um elemento subjacente às necessidades da economia. As mortes pela Covid-19 não são apenas o reflexo da ação virulenta do patógeno, mas principalmente um produto nefasto das próprias relações capitalistas e do seu modo de vida insano.

 

A falácia de que as atividades econômicas não suportam as medidas de “lockdown”, fundamentais para se frear as contaminações, é facilmente desmascarada. Basta imaginarmos as I e II guerras mundiais, quando haviam restrições de locomoção e toda atividade produtiva se voltou aos insumos bélicos, assim como ao estritamente necessário à manutenção das pessoas.

 

Se a produção se reajustou às premências da realidade, por que neste momento em que estamos em confronto com um vírus, a economia não poderia muito bem se reorganizar e até mesmo suprimir atividades? A resposta parece clara, entretanto, a sobrevivência da humanidade não é relevante, tanto quanto a manutenção das taxas de crescimento capazes de garantir a constante circulação de mercadorias para que o capitalismo possa se manter.

 

Apesar de o mundo digital assegurar formas eficazes de consumo não presenciais, ainda assim a sobrevivência do capital necessita que as pessoas permaneçam transitando pelas ruas. E o Brasil bolsonarista da falta de solidariedade é um exemplo exponencial do que foi visto em todo o planeta: a transformação das mortes pela Covid-19 em mera estatística.

 

O título da obra de David Harvey, “A loucura da razão econômica”, é cabal para definir este mundo da “pós-modernidade” e, no fundo, nos orienta a refletirmos que tipo de sociabilidade almejamos: uma legítima centrada nas verdadeiras necessidades humanas ou a forma alienada e fugaz dos nossos consumos diários?

 

Não foi a Covid-19 que promoveu esta profunda crise planetária. O coronavírus apenas fez escancarar a normalidade doentia de um modelo de reprodução social que é em si a real pandemia.

                                                                 

CAETANO PROCOPIO

10 de jul. de 2020

O NOVO CORONAVIRUS E A CATASTROFE DO CAPITALISMO GLOBAL

O descaso de governos e políticos pela ameaça real da pandemia do novo coronavírus – anunciada há décadas – revela o desprezo histórico do Estado político do capital pelo trabalho vivo irremediavelmente desvalorizado na medida em que aumenta de forma exacerbada a composição orgânica do capital

por giovanni alves: 

https://blogdaboitempo.com.br/2020/05/20/o-novo-coronavirus-e-a-catastrofe-do-capitalismo-global/



10 de out. de 2019

TUDO DEMORANDO EM SER TÃO RUIM

POR MAURO IASI

Ouvi dizer que anda triste. É compreensível, os tempos andam bicudos. Nós podemos e às vezes devemos exercer nosso direito à tristeza, pois, como disse Brecht, aquele que anda por aí sorrindo ainda não recebeu a trágica notícia. Só não temos, no entanto, o direito à desesperança.

Quando reclamamos de nosso tempo e de nossas dificuldades, às vezes não vendo saída, podemos estar sendo profundamente injustos com todos aqueles que viveram tempos de barbárie muito mais dramáticos do que estes que nos couberam. Lembremos o nazi-fascismo, os anos da Primeira Guerra Mundial, a chacina que se abateu sobre os povos que vislumbraram caravelas invadindo suas aldeias, da dor daqueles acorrentados em porões atravessando oceanos de sangue e cobiça – ou mesmo as famílias palestinas ou sírias hoje forçadas a verem seus lares em escombros, uma mãe agarrada ao filho na inclemência do mar do exílio…
É certo que a dor que sentimos não pode ser relativizada, pois não há dor menor para quem sente o abismo se abrindo sobre seus pés, seja porque o mundo resolveu dar uma volta em sua espiral e mergulhar na noite, seja pelo seu coração partido por alguma adaga da vida cotidiana. Dor é dor, dói do mesmo jeito e às vezes chega a nos arrastar pelos tortuosos caminhos da depressão.
Temos recebido notícias alarmantes de jovens camaradas e companheiros que resolvem abreviar seu sofrimento pulando para fora desta merda de vida. Não os julgo, nem os condeno, mas queria oferecer, como um ombro amigo, algumas palavras para ajudar na travessia destes tempos.
Sei que palavras são coisa muito pequena e ajudam pouco, mas todo profundo descolsolo se funda da percepção de que estamos tão longe de qualquer saída que tanto faz seguir andando ou desistir. Às vezes ajuda saber onde estamos. Dizem que o desespero dos náufragos está principalmente em não saber quanto falta para se chegar a alguma terra firme. Então vamos lá.
A única coisa que gostaria de dizer é: não fiquem sozinhos. Atravessar uma depressão é difícil. Sozinho é impossível. Não acredite nessa bobagem de dar um tempo dos outros para poder encontrar a si mesmo – você nunca vai se encontrar em você mesmo. Somos seres sociais e nos conhecemos na relação com os outros. Esta merda de sociedade se funda na fragmentação do ser social em cápsulas individuais, naquilo que Norbert Elias chamou de homus clausulos. Nos jogam nas costas o peso de garantir nossa existência como se ela fosse fruto de nosso exclusivo esforço individual e depois que fracassamos nos fazem sentir que a responsabilidade é nossa.
A forma imediata de manifestação do ser social sob as condições da sociabilidade burguesa é o indivíduo isolado. Marx já descrevia isso em O capital quando afirmava que a forma imediata de manifestação da classe é a concorrência entre os indivíduos por uma posição no mercado de trabalho, como adversários. Daí resulta o que Sartre denominou de “serialidade”, isto é, um conjunto de indivíduos no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa, mas não conformando um grupo, na forma de uma “pluralidade de solidões”. No entanto, esta forma de manifestação não anula o ser social, daí a pertinência dos apontamentos de Marx e Sartre: somos um ser social reduzido à condição de indivíduos isolados.
Em certos momentos, notadamente na prática grupal, este ser social subsumido se expressa. É quando percebemos nossa pequenas e grandes misérias e esperanças no outro como se fossem nossas – e isto pode provocar uma fusão que nos eleva do isolamento à práxis coletiva e criadora capaz de ir além das imposições e limites de um determinado campo prático inerte que nos conforma como uma impossibilidade.
Em nossos trabalhos na educação popular, junto ao Núcleo de Educação Popular 13 de Maio, quando escolhíamos um local para fazer nossas atividades, além da sala de aula na qual se desenvolveria o trabalho educativo, sempre cuidávamos para ter um espaço arquitetônico que nos intervalos fosse capaz de reunir as pessoas. Nada parecido com uma sala de “recreação”, não. Podia ser uma varanda, uma escada, a cozinha, algum lugar para o qual as pessoas de dirigiam, sentavam, conversavam, cantavam, ou simplesmente ficavam juntas. Estamos convencidos que este momento tinha uma enorme função pedagógica. Afinal, é onde o grupo encontrava sua fusão ou resistia contra ela na manutenção de uma federação de indivíduos que iam quebrando suas rígidas fronteiras.
Qualquer um que presenciasse este momento poderia testemunhar a força revolucionária que dali emanava. O próprio Marx relata tal processo nessa passagem dos seus Manuscritos econômico-filosóficos:
“É possível contemplar este movimento prático nos seus mais brilhantes resultados, ao ver agrupamentos de trabalhadores socialistas franceses. Fumar, beber, comer, etc., já não simples meios para juntar as pessoas. A sociedade, a associação, o entretenimento, que de novo tem a sociedade como seu objetivo, é o bastante para eles; a fraternidade dos homens não é uma frase vazia, mas uma realidade, e a nobreza e a humanidade irradia sobre nós a partir das figuras endurecidas pelo trabalho.” (p. 216)
Por isso, não fique sozinho. Milite em seu partido com seus camaradas, em seu sindicato, na sua associação, não se afaste de seus amigos e das pessoas. Fume, beba, cante, faça poesia, pinte, atue, mas faça com as pessoas e para as pessoas. Mas, não de qualquer pessoa, qualquer relação. Nesta sociedade a alienação do trabalho cinde o ser social: nos alienamos de nós mesmos porque nos alienamos dos outros. “Cada qual”, dizia Marx, “procura estabelecer sobre os outros um poder estranho, de maneira a encontrar assim satisfação da própria necessidade egoísta” (idem, p. 207).
Tal resultado triste é consequência do trabalho alienado, uma vez que ele transforma a  “vida genérica do homem, e também a natureza enquanto sua propriedade genérica espiritual, em ser estranho, em meio da existência individual” . O outro é sempre um ser estranho que nos subjuga e explora ou que deve ser subjugado no altar de nossas necessidades egoístas. O que perdemos com isso, segue o mesmo autor, é nossa condição humana, uma vez que desta forma aliena-se “do homem o próprio corpo, bem como a natureza externa, a sua vida intelectual, a sua vida humana” (idem, p. 166).
Desta maneira, as relações subsumidas à alienação sugam nossas emergias ao contrário de nos enriquecer com os laços coletivos. A vida é um fardo e o adoecimento é o resultado. Somente no bojo de relações autênticas, humanas, é que podemos enfrentar os efeitos nefastos da alienação.
As chamadas redes sociais estão longe de ser relações autenticas. São a expressão digital das relações reificadas e fetichizadas do reino das mercadorias. É a pura expressão da serialidade: muitos fazendo a mesma coisa sem que se relacionem de verdade. A culpa não é do instrumento digital em si, podemos lá encontrar nossos amigos, trocar ideias, mas no interior das relações reificadas do capital trata-se da expressão límpida de indivíduos usando os outros para suas próprias necessidades egoístas.
As relações autenticas doem, são construídas, nos desconstroem e nos reconstroem em direções outras em relação àquelas para as quais a inércia nos empurrava… nos salvam do abismo da solidão. Não podem ser resumidas em likes, carinhas alegres, tristes, espantadas ou raivosas. Só quem já olhou para os olhos molhados de quem magoou sabe do que estou falando. No espaço protegido da cápsula digital podemos xingar, mandar tomar… (já fiz muito isso), abstraindo do fato de que do outro lado está uma pessoa (no caso de não ser um robô de uma fazenda de likes). Trata-se de um treinamento para formar canalhas que não se preocupam com o efeito de suas palavras e atos.
Mas, como identificar relações autênticas? Bom, não é fácil… Às vezes você descobre só no final. Mas via de regra são aquelas das quais você sai alegre ou triste, magoado ou agradecido, com raiva ou sereno, mas sempre reconstruído com as marcas que o outro por ventura deixou em seu corpo e espírito (materialistas acreditam em espíritos em sua concretude incorpórea). Os meios de comunicação em massa, entre eles as modernas redes sociais, te esvaziam pela catarse, como analisaram Theodor Adorno e Max Horkheimer: massificam para isolar em solidões inescrutáveis, são em último caso meios de apassivamento.
Só há uma forma de enfrentar a morte: afirmando a vida. Lukács, em sua obra As almas e as formas (portanto antes de aderir ao marxismo), discorre sobre o poeta romântico Novalis,*  apontando que este, ao interrogar a vida, recebe a resposta da morte, e diz: “cantar a morte talvez seja mais nobre e heroico que cantar a vida; mas não foi em busca dessa canção que os românticos saíram à luta”. O filósofo húngaro então completa seu raciocínio afirmando que “somente a vida de Novalis pôde se tornar poesia” e emenda que “se Novalis nos parece tão grande e completo, talvez seja apenas porque foi escravo de um senhor invencível” (p. 97). Ora, nosso senhor não é invencível e atrás destas enormes ondas existe uma praia de areias brancas.
Também odeio esta vida, partilho de sua tristeza e, em grande parte, dessa sensação de impotência no momento. Mas não quero pular da vida com você, quero mudá-la com você. Para isso, nós precisamos… nos encontrar.

10 de set. de 2018

O OVO DA SERPENTE


Ingmar Bergman (1918-2007)



Estou em débito com a filmografia de Ingmar Bergman. Dos mais de quarenta filmes que realizou, assisti apenas dois: “Fanny Alexander”, considerado um de seus melhores e “O Ovo da Serpente”.

O segundo, menos notório que o primeiro, mas não menos interessante, é um filme político, um libelo contra a desumanização que representou o nazismo. A história se passa na Berlim dos anos de 1920, uma década antes de Hitler assaltar ao poder. Com uma narrativa soturna mostra como a sociedade alemã já se ambientava com a violência nazista antes mesmo do “nacional-socialismo” ter se tornado a força política absoluta no país.

A Alemanha sentia os efeitos devastadores da derrota na primeira guerra com a evidente ruina economica: dilacerada pela hiperinflação e pela miséria, vivia um clima de terror que apesar de dissimulado pela idéia de salvação nacional da propaganda nacional-socialista, passava a fazer parte do cotidiano das pessoas sem que elas se dessem conta disso. O crescimento do nazismo seria como o ovo da serpente, que mesmo antes de se abrir já revela, dentro de sí, o monstro que estava prestes a nascer.

 Um filme com a face mais politizada de Bergman, sombria, mas lúcida. Uma pungente denúncia da bestialidade que representou o nazi-fascismo.


CAETANO PROCOPIO

15 de jul. de 2018

UMA BREVE HISTORIA DAS COPAS

1930 – A primeira Copa do Mundo de futebol foi realizada no Uruguai. O torneio não despertou muito interesse entre os paises europeus. No total, apenas 13 participantes resolveram disputar o campeonato. Há época, a seleção uruguaia, considerada a melhor do mundo - a “celeste olímpica” - fez valer o favoritismo e levou o título vencendo a Argentina na partida final.

 

1934/1938 – A Itália é a primeira seleção a conquistar um bi-campeonato. O primeiro título conseguiu em seu território, o segundo, em terras francesas. Destaques: os craques italianos Giuseppe Meazza (com participação fundamental nos dois títulos) e Silvio Piola em 1938, além do brasileiro Leônidas da Silva, um dos maiores jogadores do mundo naquele momento e que teve brilhante participação em 1938. Mussolini, satisfeito com o desempenho da “squadra azurra” exalta as qualidades nacionais do país através da glória esportiva. Pouco tempo depois, juntamente com Hitler, o “Duce” ajudaria promover o mais sangrento conflito da história.

 

1950 – Após o hiato dos anos 40, em que o mundo estava voltado para a devastação da 2ª guerra, a Copa de 50 era a esperança de um futebol brasileiro emergente aparecer para o mundo. A convincente campanha do escrete nacional só foi ofuscada pela vitória uruguaia na decisão. Em pleno Maracanã, com quase 200 mil pessoas absolutamente confiantes na vitória, uma das maiores tragédias futebolísticas da história do Esporte mais popular do país. O Uruguai consegue seu 2º título vencendo o Brasil de virada, 2x1, gols de Schiaffino e Ghiggia. Um silêncio colossal tomou conta do estádio naquela tarde de 1950.

 

1954 – O jornalista Roberto Muylaert  definiu a copa da Suíça como sendo a que ninguém viu. Mas este mundial mostrou um dos times mais espetaculares que já pisaram num gramado: a Hungria de Kocsis, Hidegkuti, Boszik, Czibor e Puskas. Invicta há mais de 2 anos, acabou sendo apelidada de a “sinfonia húngara”, devido ao seu futebol extremamente técnico, requintado e eficiente. Puskas, o maior jogador daquela,  talvez tenha sido o criador da mística da camisa 10. Suas estatísticas são tão impressionantes como as do próprio Pelé. E a Alemanha, surpreendentemente vira um placar desfavorável de 2x0 e sagra-se campeã no jogo final contra os megiares.

 

1958 – Em terras suecas o Brasil se consagra campeão. O grande futebol que despontava no início dos anos 50, finalmente dá frutos. A geração de Didi, Vavá, Garrincha e Pelé, um verdadeiro ataque de ouro, anuncia a década do esplendor do futebol brasileiro. Dois destaques: o menino Pelé com apenas 17 anos marca seis gols e desponta para o mundo. E o atacante francês Fontaine que fez 13 gols e até hoje é o jogador que mais marcou em uma única Copa.

 

1962 – No Chile, dois fatores contribuíram decisivamente para a conquista brasileira: a presença iluminada de Garrincha e a “malandragem” de Nilton Santos. Pelé se contundiu no segundo jogo e no seu lugar entrou Amarildo, “o Possesso”, assim apelidado por Nelson Rodrigues por causa do seu temperamento explosivo. Mas sem dúvidas Mané foi quem brilhou neste mundial. No difícil jogo em que o Brasil venceu por 2x1 a Espanha, Nilton Santos derrubou um jogador dentro da área e rapidamente deu um passo à frente. O juiz marcou falta. No cruzamento, um belo gol de bicicleta inexplicavelmente anulado. Seriam 2x0 para os espanhois. E com ajuda do “apito amigo”, o Brasil sagra-se bi-campeão derrotando os thecos na final.

 

1966 – Uma campanha ridícula do Brasil. Portugal é a surpresa da competição, incluindo uma vitória que desclassificou os brasileiros. O atacante português Euzébio se consagrou como um dos maiores jogadores do mundo, mas a Inglaterra, jogando em casa barrou a meteórica trajetória lusa. Na final, ingleses e alemães disputaram o título e com a polêmica bola que não entrou, a Inglaterra entrou para o rol do seleto grupo de campeões, no legendário estádio de Wembley, em Londres.

 

1970 – Um time sensacional com um ataque de 5 camisas 10: Pelé do Santos, Rivelino do Corinthians, Gerson do S. Paulo, Tostão do Cruzeiro e Jairzinho do Botafogo. O resultado, uma campanha invicta e um contundente 4x1 contra a Itália na final, realizada no Estádio Azteca na cidade do México. A taça Jules Himet, definitivamente era do Brasil. Uma grande festa regada a Tequila. Mas no Brasil a alegria da vitória contrastava com os gritos de horror vindo dos porões da ditadura militar.

 

1974 – O futebol total apareceu para o mundo vindo da diminuta Holanda. Até então os batavos eram inexpressivos no esporte bretão. Brindados com uma geração de jogadores excepcionais, comandada pelo espetacular Cruyff, a seleção laranja, também conhecida como carrossel pela forma extremamente organizada como os jogadores se comportavam em campo, encantou e espantou o mundo. Mas novamente os alemães surgiram no caminho dos favoritos, como em 1954. Entretanto, justiça seja feita, a seleção de Beckembauer produziu uma profícua geração de jogadores alemães. Na partida final em Munique eles derrotaram os holandeses e a copa de 74 acabou ficando mesmo na Alemanha. Nesse torneio, um atacante atarracado marcou 4 gols e somados aos 10 que havia deixado no México, era, até 2006, o maior goleador em mundiais: o alemão Gerd Muller.

 

1978 – As luzes se fecharam na Argentina. A ditadura, o terror e para acalmar os ânimos e desviar os olhos da realidade atroz, nada melhor que o futebol. A copa de 78 aconteceu em meio a uma das mais cruéis ditaduras da América Latina. A seleção brasileira terminou a competição invicta. Os campeões morais de Coutinho. Uma “marmelada” peruana permitiu que os argentinos vencessem o jogo contra o Peru por uma diferença de gols que acabou classificando os anfitriões para a finalíssima. A Argentina bateu a Holanda na prorrogação e finalmente sagrava-se campeã em casa. A ditadura agradeceu.

 

1982 – Em 1982 na Espanha, não havia favorito maior que o Brasil. A seleção de Zico, Sócrates, Falcão, Éder e Serginho era cotada como franca ganhadora do título. Os brasileiros chegaram bem à 2ª fase e já no primeiro jogo ganharam dos argentinos. Depois viria a Itália, esperar o adversário das semifinais e, provavelmente, enfrentar o bom time francês na decisão. Mas, a seleção francesa acabaria eliminada nas semifinais em um jogo eletrizante contra os alemães e, no meio do caminho da seleção brasileira, surgiu um tal Paulo Rossi: 3 gols e a decepção no estádio Sarriá em Barcelona. O Brasil estava eliminado! Lembro perfeitamente daquele dia! Jamais vi as ruas de S. Paulo tão vazias como naquela tarde de julho. Muitos acreditam que essa partida traumatizou de tal forma o futebol brasileiro que desde então começou abdicar de sua tradição de espetáculo. A Itália, que iniciou titubeante, se firmou durante a competição e depois de 44 anos voltou a conquistar uma Copa do Mundo derrotando os alemães por 3x1 na partida final.

 

1986 – O México sediou novamente um mundial. Nesse ano o título da Argentina, conquistado frente aos alemães na finalíssima, teve um só dono: Diego Armando Maradona. Contra a Inglaterra nas quartas de final, marcou um gol com a “mão de Deus” e um outro com a dádiva de sua perna esquerda: uma epopéia que nasceu no campo de defesa argentino e terminou nas redes inglesas. 16 anos depois dos Deuses astecas terem reverenciado a majestade de Pelé, eles novamente tiveram que se curvar diante da magnitude do futebol de Maradona.

 

1990/1994 – Duas copas que não valeram uma! Em 1990, na Itália, a Alemanha foi campeã vencendo a Argentina na final com um mísero gol de pênalti. Em 1994 nos EUA, o Brasil não consegue marcar um gol sequer na final contra uma Itália em más condições físicas. Resultado, pela primeira vez uma copa acaba sendo decidida em penalidades. Foi a consagração definitiva da mediocridade com o famigerado futebol de resultados.

 

1998 – Em 1998 na França, os donos da casa nos deram um pequeno alento. Se não foi um time brilhante ao menos procurou o ataque. O Brasil, absolutamente atordoado com o “enigma” Ronaldinho foi presa fácil na final. Zidane conduziu os “azuis” à consagração definitiva que as gerações de Fontaine e Platini deixaram escapar.

 

2002 - É penta!!! Gritou Galvão Bueno. Só ele gritou. O monopólio global nas transmissões não deu voz a mais ninguém. As favoritas Argentina e França voltaram mais cedo pra casa e o Brasil que chegou ao mundial do Japão/Coréia desacreditado ganhou da Alemanha (também desacreditada) na final. O destaque brasileiro foi Ronaldo, 8 gols, igualando-se a Pelé em jogos de Copas do Mundo: 12 no total. E toda a soberba do goleiro alemão Khann se foi naquele chute do Rivaldo que resultou no primeiro gol. Assisti a um ou outro jogo. O horário era só pra japonês ver! Como disse um amigo, “copa sem copo não tem graça”. De fato, e ainda com sono (...) não dá! Além de Ronaldo, destaque (negativo) para os árbitros que decidiram algumas partidas e, escandalosamente, tiraram Espanha e Itália da competição em prol de um dos anfitriões.

 

          2006 – O Brasil é considerado o maior favorito para a conquista da Copa da Alemanha. Chegou ao mundial com uma seleção tão badalada como o grande time de 1982. A certeza da glória estava centrada no suposto “quadrado mágico” composto por Kaka, Ronaldos e Adriano. Mas a ilusão que começou a ser desfeita logo no primeiro jogo contra a Croácia se transformou num pesadelo na partida contra a França. Zidane mostrou quem é de fato o melhor do mundo, humilhando os brasileiros de forma acachapante. Infelizmente o craque francês perdeu a cabeça ao agredir o zagueiro italiano Materazzi e acabou expulso no jogo final contra a Itália. E esta, praticando o mesmo futebol de resultados que levou os brasileiros ao tetra em 94, chegou ao seu, também nas cobranças de pênaltis. Enfim, com 3 gols anotados, Ronaldo conseguiu ultrapassar Gerd Muller tornando-se o maior goleador em copas atingindo a marca dos 15.

 

2010 - A primeira copa em solo africano teve como campeã, pela primeira vez, a Espanha derrotando a Holanda na prorrogação, por 1x0. Um time com bom toque de bola, mas pouca efetividade no ataque (8 gols em 7 jogos). O time argentino, após campanha ruim nas eliminatórias, começou bem a copa. Tentou buscar o ataque, mas foi arrasado pela Alemanha nas quartas de final (4x0). Messi não emplacou. A Alemanha, com um time de garotos até jogou como se fosse uma seleção sul americana, só que acabou derrotada pela Espanha e terminou mesmo em terceiro lugar. Já o Uruguai, depois de décadas conseguiu chegar às semi-finais e, de certa forma, ressuscitou o combalido futebol uruguaio. Por pouco Ronaldo não foi superado por Klose que chegou aos 14 gols. O atacante alemão foi expulso na primeira fase, sofreu contusões e sem jogar todas as partidas, não ultrapassou o brasileiro. E o Brasil, com um futebol medíocre que o vem caracterizando nas últimas décadas, só conseguiu chegar até as quartas de finais, eliminado pela equipe holandesa.

 

2014 – Após 64 anos, novamente uma copa do mundo no Brasil. O sonho de uma nova final que pudesse apagar a tragédia de 1950 contra o Uruguai transformou-se num pesadelo ainda mais amargo. A seleção foi humilhada pela Alemanha nas semifinais (7x1)  e sepultada pela Holanda na disputa pelo 3º lugar: 3x0 para os batavos! O futebol de resultados que desde a década de 90 gerou 2 títulos mundiais agora produziu a maior vergonha da história da seleção brasileira. A Alemanha, mesmo tendo seus altos e baixos na competição, foi a seleção que mostrou o time mais equilibrado e suplantou a Argentina na prorrogação por 1x0 (gol do jovem armador Mário Götze), no difícil jogo final em que os vizinhos estiveram próximos de ganhar. Messi novamente não conseguiu decidir e deixou a oportunidade de se consagrar como “o maior jogador da história”. O atacante alemão Klose ultrapassou Ronaldo e com os dois gols marcados no torneio se tornou o maior goleador da historia das copas com 16.

 

2018 - Em meio às instabilidades no cenário político internacional, a Copa do Mundo chegou ao solo russo. A Alemanha tida como grande favorita decepcionou e surpreendentemente foi eliminada na primeira fase. Brasil, outro favorito conseguiu chegar até as quartas de final. Mas bastou a seleção enfrentar o primeiro adversário de peso desde que Tite assumiu o comando para mostrar suas fragilidades: Bélgica 2x1! Neymar mais chamou atenção pelo comportamento do que pelo futebol apresentado: decepcionante! Cristiano Ronaldo e Messi não conseguiram decidir e também deixaram a Copa do Mundo mais cedo. Enfim, o time mais equilibrado conseguiu êxito! A França com uma legião estrangeira de descendentes de imigrantes conseguiu o 2º Título, sagrando-se campeã contra uma inusitada e combativa Croácia na final: 4x2. Uma copa do mundo na qual a disputa por espaços foi incessante e os gols de bola parada acabaram sendo decisivos. Outra particularidade, a definitiva supremacia europeia sobre as seleções da América do Sul. Sem mais, essa breve história das copas se encerra aqui. E o futebol (...) virou história!




                                                                  CAETANO PROCOPIO