vivíamos tempos irreais, em um mundo de hipócrita normalidade
mas que agora, com as entranhas abertas, expôs sua face bestial
com epifanias de tiranos, guerras por mandatos, genocídio explícito e normalizado por diplomacias
o acirramento do discurso contrastado pelas velhas fórmulas da civilidade ilustrada, que não mais respondem aos arroubos belicistas de autocratas
apenas a radicalidade capacita a luta contra o sectarismo facínora
antídoto às bravatas de bufões que vociferam por mudanças para somente replicar o desejo por uma ordem mística e dissimuladora da realidade
porque insuportável pela sua própria incongruência, diante do esfacelamento das verdades seculares
expressão do colapso da modernidade, mascarado pela enganosa superação pós-moderna
disfarce ao individualismo, à competição imanente: vernizes que escondem as contradições de uma retórica impraticável de plenitude do mercado
de indivíduos portadores de vontades, mas que não se enxergam como parte de uma existência comum
uma humanidade que concretamente jamais se universalizou e hoje se barbariza a passos largos
a agonia de um mundo que suplica por um outro
generoso, igualitário, sensível às legítimas individualidades
a real superação da modernidade está muito além de um prefixo
o clamor por um modo de vida centrado na convivência genuína entre as pessoas
CAETANO PROCOPIO
Ilustração: CZ0
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