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16 de jun. de 2007

QUALQUER POÉTICA

Caetano Veloso certa vez afirmou que escrever poesia é uma infantilidade. Quem a escolhe, faz por preguiça.

Talvez o texto poético, de fato, seja pouco prolixo comparado às possibilidades da prosa. Esta pode muito bem se converter em poesia. A linguagem, ao contrário da opinião de Samuel Beckett, pode ser repleta de sentidos e sensações que ultrapassam as barreiras abstratas delineadas pela metafísica. As palavras dão significado ao mundo e instrumentalizam os homens para se tornarem uma experiência concreta capaz de ensejar uma identidade às coisas através do trabalho da inteligência.

A poesia, longe de ser o resultado de um esforço deliberado para produzir métrica, é uma expressão fundamental de vontades e sentimentos podendo transmutar em inúmeras formas e estéticas.

Se a essência dos homens é poética, não há conteúdo na banalidade. Esta é um veneno que avilta a condição humana denegrindo-a num estado atroz. Nosso tempo nos proporcionou uma cultura vazia (consumista) sustentada pela insipiência do mercado e resguardada pela linguagem codificada da tecnologia, que serve não mais que um disfarce a esse vácuo.

Pois bem, a origem da modernidade está no século das luzes (XVIII). O iluminismo foi a mais fiel expressão filosófica da burguesia, princípio e força motriz das sociedades globalizadas. Ele potencializou as profundas transformações advindas a partir do século XVIII. Mas mesmo os iluministas possuíam poética, só que ela acabou abandonada pelas necessidades práticas e urgentes da sociedade burguesa. O mundo burguês, na sua concepção universalizante, prescinde de humanismo, de poesia e de sentido, isto claro, excetuando o da mercadoria.

Precisamos urgentemente de alguma poética, de qualquer uma, mesmo que seja preguiçosa.

CAETANO PROCOPIO

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