
Hobbes justificou o absolutismo inglês dos idos de 1600. Rousseau foi um apóstolo dos ideais democráticos que tão marcadamente caracterizaram a concepção do mundo burguês após o século XVIII. A preocupação em definir uma ética condizente com a ação política é um exercício que sempre fascinou a tradição filosófica.
Não há como predefinirmos o homem em categorias estanques (“bom” ou “mau”), pois, ele é um ser em permanente mutação e o sentido dos seus atos depende das escolhas que faz a todo instante. No momento, parece que o contrato social está a beira da falência, moribundo. Impossível suprimirmos nossas diferenças sem que tenhamos que demolir por inteiro as bases em que se assentam a sociedade civil. Mas antes do seu fim, nos deixa um legado sórdido que surge de suas entranhas como um leviatã poderoso e incontrolável. Esse monstro que nos apavora se realimenta da própria fúria, num processo cíclico de recriação. Quanto mais nos barbarizamos mais nos desumanizamos nos transformando em seres individualizados e vazios.
O contrato social degenerou-se num leviatã muito mais tenebroso do que aquele definido por Hobbes, mostrando-se inviável numa realidade em que a igualdade jurídica não passa de retórica. Em um mundo permanentemente desigual, as diferenças tendem alimentar uma resistência ao argumento de que a democracia nos assegura um destino comum. Necessitamos recriar nossa essência através de uma ética universal, solidária. Um caminho em que enfim aceitemos nossa condição de cumplicidade com os outros.
CAETANO PROCOPIO
Nenhum comentário:
Postar um comentário