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28 de dez. de 2007

ESPERANDO GODOT

Samuel Beckett não via qualquer significado na existência humana. Viveu só e angustiado.

O silêncio e o isolamento foram alentos para quem não suportava a convivência inútil e sem sentido com o mundo. O racionalismo não universalizou o homem a ponto de dar-lhe as respostas que a metafísica jamais conseguiu. A humanidade não encontrou um norte definitivo com a razão analítica da ciência. A “civilização” ainda aguarda o sinal de uma revelação divina.

Beckett se foi em 1989, levando embora seu desespero. Ele, ao contrário de seus consortes, jamais se conformou com a espera por “Godot”. Escolheu a solidão para fugir da loucura dessa realidade absurda. De certo modo, não havia saída para alguém tão incrédulo na condição humana.

Essa reflexão sobre o pesadelo de Beckett me fez imaginar uma situação absolutamente insólita: suponhamos que subitamente “Godot” surgisse entre nós. Provavelmente ele se indignaria como Beckett e talvez lamentasse não ter vindo antes e permitido tanta insanidade. Ou quem sabe desistiria abandonando todos à sorte de suas mesquinhezas, já que a história não lhes possibilitou qualquer aprendizado.

A realidade não é algo cristalino diante de nossos olhos. Está escondida por trás de conceitos e idéias vazias que nos são apresentadas como sinônimos da verdade. Lembro no primário meus professores afirmarem que os povos antigos eram cruéis por se dedicarem essencialmente à guerra e à conquista de vastos impérios. Muito tempo depois pude perceber que os homens mataram mais na era civilizada do que em toda antigüidade.

Para este nosso mundo de faz de contas e de ilusões perdidas é possível que não reste outra alternativa senão continuar esperando “Godot”. 

CAETANO PROCOPIO

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