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22 de dez. de 2007

O SOCIALISMO MORREU? (II)

Não tenho dúvidas de que a resposta à pergunta acima é não! Mas antes de qualquer argumento sobre como efetivá-lo é preciso exorcizar certos fantasmas do passado. O fracasso da experiência estatizante, centradas principalmente nos modelos totalitários de estados, soviético e chinês, é algo a ser apreendido como uma dura lição. O socialismo de forma alguma pode ser uma imposição. Antes de ele surgir é preciso que as pessoas estejam preparadas e dispostas a assumi-lo. Deve florescer no espírito de cada um. Ele exige uma postura menos individualista e mais coletiva. Uma nova concepção de mundo, generosa e preocupada com o destino comum. Seria ilusão acreditar nele hoje ou daqui algumas décadas. É imprescindível que todos o vejam como uma solução para as injustiças, talvez a única capaz de dar um destino legítimo aos homens. Marx foi o primeiro estudioso que conseguiu não apenas imaginá-lo, mas prevê-lo como algo concreto, uma possibilidade real. Maior teórico da sociedade capitalista, ninguém a viu como ele. Ao mesmo tempo em que a dissecou profundamente, acabou por compreender o que veio antes dela. Compreendeu que as sociedades caminham conforme o desenvolvimento material de suas forças produtivas. Inverteu o conceito hegeliano de que são as idéias que transformam o mundo. É a materialidade quem cria as idéias. Aprimorou o conceito de ideologia. Suas previsões, em parte se mostraram equivocadas, mas seria exigir demais de alguém que viveu no século XIX, conseguir vislumbrar a complexidade das sociedades que o advieram. Para o filófoso Leandro Konder, Marx não tinha como prever o fenômeno da cultura de massas, que deu grande vigor ao capitalismo. Sartre certa vez afirmou que as condições que engendraram o marxismo ainda não haviam sido superadas. Enquanto a sociedade capitalista existir ele permanecerá vivo. Mesmo os teóricos marxistas não se mostraram preparados para o marxismo, tanto que tentaram transformá-lo numa realidade a fórceps, exatamente o oposto ao que Marx preconizou. E deu no que deu. Apesar de parte do pensamento marxiano ter perecido em razão de não mais estar no seu tempo, as idéias dele permanecerão, por mais que não queiram os apologistas do mercado. Somente quando as enxergarmos não como um dogma, mas uma visão crítica do mundo burguês, uma perspectiva radical e profundamente transformadora das relações humanas, quem sabe consigamos vislumbrar avanços. Marx foi o pensador mais influente de seu tempo, o século XIX. No século XX Sartre ocupou o lugar dele. Talvez os dois maiores observadores do homem contemporâneo. Um o viu coletivamente, o outro individualmente, mas não a ponto de se negarem, ao contrário, as impressões de Sartre ajudaram a completar o marxismo e o próprio conceito de socialismo. Mais do que uma teoria, Marx ensejou a possibilidade da história dos homens ter um roteiro comum em que todos convirjam a um mesmo fim e que as diferenças individuais não sejam razão para se excluir os outros. CAETANO PROCOPIO

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