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7 de fev. de 2009

2001: DA FICÇÃO A REALIDADE

Não me lembro ter visto um filme tão marcante quanto “2001, uma odisséia no espaço”. Muito além de uma simples aventura espacial, as longas seqüências meticulosamente trabalhadas por Stanley Kubrick fogem da perspectiva de uma realidade fantástica que corresponda ao ambiente insólito da ficção científica. São um fascinante espetáculo visual em que diretor procura fazer uma profunda reflexão sobre a condição humana.

O enigmático monolito negro que subitamente surge entre nossos ancestrais primitivos há 4,5 milhões de anos representa a aurora do homem - um nascimento que significa o início da experiência cognitiva na terra. De uma pilha de ossos o primeiro exercício da inteligência incipiente: o que parece uma simples tomada inserida no roteiro nos mostra, com impressionante vigor, a associação entre conhecimento, violência e poder.

Para Kubrick, saber e poder nascem juntos no homem, são faces de uma mesma relação dialética que explica a dominação. O osso arremessado aos céus se transforma numa nave espacial. Só o tempo os separa. Se aquele primeiro artefato humano possibilitou o nosso ancestral matar um dos seus, essa a razão que também irá justificar o vôo da espaçonave. A História possui um único condão que se resume numa perpétua tentativa de se subjugar o semelhante.

Isso explica porque o computador HAL-9000 para tomar o controle da missão a Júpiter tenta eliminar todos os tripulantes: uma máquina que consegue reproduzir as emoções humanas, por fim, acaba assimilando suas intenções. A retomada da missão só foi possível quando o último integrante humano elimina o membro eletrônico promovendo uma reconquista civilizatória.

A chegada do único sobrevivente ao seu destino leva o homem não aos confins do universo, mas talvez a si mesmo, numa possibilidade da redescoberta daquilo que o originou a 4,5 milhões de anos. Em 2001 Kubrick transforma a ficção científica numa legítima odisséia humana.

CAETANO PROCOPIO

publicado originalmente no site CINE TOTAL
http://www.cinetotal.com.br/critica.php?cod=80

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