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11 de mar. de 2008

CENA URBANA

Acordo e vejo que nada mudou.

Já era tarde e eu precisava correr...

Não tinha nenhuma vontade de dizer "bom dia".

Desviava-me dos olhares.

Queria apenas ficar quieto.

Mas ninguém parece entender que precisamos ter silêncio.

Mesmo que nada nos aborreça; não falar faz bem.

Somos sempre obrigados a ter uma opinião sobre as coisas...

E existem muitas delas que eu não quero saber de nada!

Entro no ônibus lotado. As pessoas, num ato coletivo de ignorância, disputam o mesmo espaço perto da porta. E eu quase que não consigo passar da catraca.

O meu celular toca. "Logo cedo...tenho que atender?". Sim!

O identificador de chamadas é o grande acusador. Você sabe quem está ligando. O simples ato de ignorar pode ser cruel demais. Fica a dúvida do outro lado da linha. Mais dia, menos dia, seremos cobrados. Teremos que dar satisfação. "Liguei pra você, por que não me atendeu?"

Eu não atendi. Mas alguém parecia muito querer falar comigo. Definitivamente, eu não estava disposto a atender.

Procuro respeitar muito as mulheres com TPM. Acho que sofro algo semelhante...

Ainda no busão, um idiota ouve pelo celular, sem fone, uma música bem cretina. E ainda faltavam pelo menos uns 20 minutos do meu destino final. Tento ler um livro. Mas a raiva mata a concentração.

Finalmente, com quase 15 minutos de atraso, chego a uma estação do metrô. Acelero os passos. Na minha frente um grupo com cinco pessoas, conversam tranquilamente, caminhando como tartarugas.

Vou para a rua na intenção de ultrapassar o obstáculo...

É impressionante como as pessoas sem nenhuma noção de civilidade, encontram seus pares com muita facilidade.

Logo na entrada da estação, mais um grupo resolve parar para conversar. Minha vontade era de ir correndo em direção a eles e derrubar todos.

Com muita paciência consigo chegar nas escadas. Mesmo com vários avisos de "Deixe a esquerda livre", é nessas horas que podemos entender a quantidade de analfabetos no país. Ou será apenas dislexia coletiva?

Bom, nem preciso falar que o vagão estava cheio e a maior parte se concentrava, na...na...porta!

Pelo menos eu sabia que iria ficar pouco tempo espremido ali.

Saio apressado. Só mais uma rua e chegarei ao meu trabalho. Na minha frente um fumante me defuma. Joga a bituca no meu pé.

No cruzamento um carro para na faixa de pedestres.

Respiro fundo. Conto até três...

Finalmente chego no trabalho. Nem quero contar mais...estou de saco cheio.

VANDERSON PIRES

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